Marrocos. ONG começam a sair sem conseguirem encontrar sobreviventes

Bombeiros espanhóis de organizações não-governamentais (ONG) especializadas em resgates em catástrofes começaram a deixar Marrocos, admitindo a impossibilidade de encontrar sobreviventes do sismo de sexta-feira passada e realçando que agora é a hora da ajuda humanitária.

Marrocos, sismo

© Khaled Nasraoui/picture alliance via Getty Images

Lusa
14/09/2023 16:47 ‧ 14/09/2023 por Lusa

Mundo

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Três dias depois de chegarem a Marrocos, os elementos da Bombeiros Unidos sem Fronteiras (BUSF) decidiram regressar a Espanha na quarta-feira à noite porque "a maioria dos grupos já não estava a fazer nada", disse o presidente da ONG, Antonio Nogales, numa declaração à agência de notícias EFE.

Nogales revelou que as equipas da ONG regressavam a Espanha "com a segurança de que não vão aparecer pessoas vivas" entre a destruição que deixou o sismo, que causou 2.946 mortos e 5.674 feridos, segundo o balanço mais recente do Governo de Marrocos.

"O nosso trabalho está terminado", sublinhou, acrescentando que "a partir de agora começam já outro tipo de riscos, como as epidemias por causa da decomposição [de cadáveres]" e, além disso, as famílias "querem enterrar os familiares e por isso querem começar a meter maquinaria pesada [nos escombros] para agilizar tudo".

Dezenas de bombeiros de ONG espanholas, com experiência em cenários de catástrofe em todo o mundo, viajaram para Marrocos após o sismo de sexta-feira passada e, como a BUSF, outras estão a deixar já o país, depois de dias sem encontrarem sobreviventes.

"São trabalhos bastante difíceis porque os edifícios são muito instáveis e têm uma base de adobe e materiais muito leves. Por cima, às vezes, levam betão armado, pelo que até os que parecem mais estáveis acabam por cair, já que o adobe não tem muita estabilidade estrutural", escreveu na rede social X (antigo Twitter) Annika Coll, da Emergência e Resposta Imediata da Comunidade de Madrid (ERICAM).

"Há um grau muito elevado de devastação", corroborou Jair Pereira, da ONG Bombeiros para o Mundo, que explicou à EFE que o tipo de construção praticamente impossibilita a sobrevivência de pessoas sob escombros de edifícios em adobe, que se desfaz rapidamente e não deixa bolsas de ar ao cair.

Jair Pereira, que falou hoje com a EFE, já regressado a Espanha, sublinhou que nos escombros do sismo de Marrocos "não há espaços para respirar, não há espaços para a sobrevivência e as pessoas ficaram ali, como enterradas vivas".

"É muito duro", acrescentou.

Passados vários dias do sismo, a emergência mudou e a prioridade agora já não é procura e resgate de pessoas soterradas, mas a ajuda humanitária aos sobreviventes.

"Nós retiramo-nos para dar passagem a essa nova gente que presta essa ajuda tão importante", disse Jair Pereira.

Este bombeiro, como outros citados pelos meios de comunicação espanhóis, realçou a boa receção por parte das populações locais e afirmou que a coordenação das equipas de resgate no terreno é boa.

Francis Martínez e outros quatro bombeiros de Granada, no sul de Espanha, foram para Marrocos, na segunda-feira, por iniciativa própria, sem integrarem uma organização, levando material da associação de bombeiros da cidade onde vivem.

Dirigiram-se a um posto de comando e a partir daí partiram para o terreno e o que viram foi que, três dias após o sismo, as aldeias "já se tinham arranjado".

"Eles próprios tinham retirado os seus mortos, já tinham enterrado os familiares e tinham resgatado pessoas presas com vida", afirmou, dizendo que o grupo colaborou fundamentalmente em tarefas de transporte de feridos até locais onde podiam ser levados por helicópteros para o hospital.

Um outro bombeiro de uma ONG espanhola, Antonio Caballero, disse ao jornal A Voz de Cordoba que embora não tenham sido encontrados sobreviventes, encontrar e retirar cadáveres, "numa situação como a que se vive em Marrocos, é também importante, porque permite que entrem as máquinas para retirar escombros e evitar, assim, possíveis epidemias".

Após o terramoto, Marrocos só aceitou ajuda de quatro países (Espanha, Reino Unido, Emirados Árabes Unidos e Qatar).

O Governo espanhol enviou para Marrocos 56 elementos da Unidade Militar de Emergências, com quatro cães, que vão continuar no país "o tempo que for necessário", disse hoje a ministra da Defesa, Margarita Robles.

A equipa do exército chegou antes das ONG de bombeiros e conseguiu resgatar com vida uma dezena de pessoas dos escombros, segundo relatos publicados pelos meios de comunicação social espanhóis.

Nessas primeiras horas foi possível fazer resgates porque "as pessoas estavam superficialmente enterradas", mas depois "ninguém mais conseguiu", nas palavras do bombeiro Jair Pereira.

Depois de Marrocos, ONG espanholas especializadas em salvamentos, como a Bombeiros Sem Fronteiras, estão agora a caminho da Líbia, onde inundações provocaram esta semana mais de 6.870 mortos e 10 mil desaparecidos, segundo balanços atualizados das autoridades líbias.

Um autarca local admitiu, porém, que o número de vítimas mortais poderá aumentar para 20 mil.

Leia Também: Marrocos. Bombeiros resgataram menina dos escombros, mas criança morreu

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