ONU apela à "desescalada e moderação" no Kosovo e a regresso ao diálogo
A chefe da missão da ONU no Kosovo (UNMIK), Caroline Ziadeh, manifestou hoje profunda preocupação pela tensão no norte do Kosovo e pediu uma "desescalada e moderação" para o prosseguimento das negociações políticas entre Pristina e Belgrado.

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"As ações provocadoras que conduzem a uma escalada são inaceitáveis, incluindo contra a EULEX [a missão policial da União Europeia]", indicou a diplomata libanesa em mensagem no Twitter.
O texto assinala "ser crucial que o processo político seja retomado com determinação e boa-fé" para garantir soluções duradouras, e "reafirma o apelo à desescalada e moderação".
Os sérvios do norte do Kosovo bloquearam pelo quarto dia consecutivo as estradas com veículos pesados para interromper o tráfego, numa situação definida como "frágil" pela polícia kosovar.
No início dos protestos, uma patrulha da EULEX disse ter sido alvo de uma granada ensurdecedora, que não provocou feridos. A UE e os Estados Unidos já pediram o fim do bloqueio e apelaram à calma.
A população sérvia do Kosovo, uma ex-província sérvia habitada por larga maioria de população albanesa, protesta contra a detenção de um ex-polícia sérvio kosovar suspeito de ter atacado um local da comissão eleitoral para impedir as eleições municipais no norte, previstas para o próximo domingo, e assegura que a acusação é infundada e pretende intimidar a população de etnia sérvia.
Os manifestantes também se opõem ao envio de polícias albaneses kosovares para o norte, onde os sérvios são maioritários, ao argumentarem que deverão ser os polícias sérvios kosovares a assumir essa função, na sequência dos acordos de normalização entre o Kosovo e a Sérvia.
A missão da NATO no Kosovo (Kfor) também se pronunciou e através de um comunicado no Twitter pediu para se "evitar qualquer nova escalada".
Na sequência dos protestos, a Presidente do Kosovo, Vjosa Osmani, anunciou o adiamento para abril de 2023 das eleições no norte do Kosovo, uma decisão justificada pelo aumento das tensões, e que o principal partido sérvio disse pretender boicotar.
A Kfor, presente no Kosovo desde 1999, assegurou que permanece vigilante e em condições de cumprir o seu mandato, legitimado na ocasião pela ONU.
As tensões entre a Sérvia entre o Kosovo e a Sérvia têm-se agravado nos últimos meses, a níveis que não ocorriam desde há vários anos.
Belgrado nunca reconheceu a secessão unilateral do Kosovo em 2008, proclamada na sequência de uma guerra iniciada com uma rebelião armada albanesa em 1997 que provocou 13.000 mortos, na maioria albaneses, e motivou uma intervenção militar da NATO contra a Sérvia em 1999, à revelia da ONU.
Desde então, a região tem registado conflitos esporádicos entre as duas principais comunidades locais, num país com um terço da superfície do Alentejo e cerca de 1,7 milhões de habitantes, na larga maioria de etnia albanesa e religião muçulmana.
O Kosovo independente foi reconhecido por cerca de 100 países, incluindo os Estados Unidos, que mantêm forte influência sobre a liderança kosovar, e a maioria dos Estados-membros da UE, à exceção da Espanha, Roménia, Grécia, Eslováquia e Chipre.
A Sérvia continua a considerar o Kosovo como parte integrante do seu território e Belgrado beneficia do apoio da Rússia e da China, que à semelhança de dezenas de outros países (incluindo Índia, Brasil ou África do Sul) também não reconheceram a independência do Kosovo.
A UE considera que a normalização das relações entre a Sérvia e o Kosovo é condição indispensável para uma potencial adesão.
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