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Moscovo acusa Kyiv, Kyiv 'rejeita'. Mas o que é, afinal, a 'bomba suja'?

NATO e Estados Unidos já se colocaram do lado ucraniano, rejeitando que o país esteja a preparar um ataque com materiais radioativos.

Moscovo acusa Kyiv, Kyiv 'rejeita'. Mas o que é, afinal, a 'bomba suja'?
Notícias ao Minuto

08:58 - 26/10/22 por Notícias ao Minuto com Lusa

Mundo Bomba Suja

Nos últimos dias, a guerra na Ucrânia tem sido 'dominada' pelas acusações russas a Kyiv - que indicam que o país estaria a preparar um ataque com a chamada 'bomba suja'. Apesar de as mais altas instâncias ucranianas já terem negado as alegações do Kremlin e de a NATO e os Estados Unidos, entre outros aliados, já se terem colocado ao seu lado na rejeição, importa perceber: o que é, afinal, a 'bomba suja'?

Comecemos pelo início. No passado domingo, a Rússia referiu que a Ucrânia entrou no "estágio final" da construção da sua 'bomba suja'. Esta consiste em explosivos convencionais rodeados por materiais radioativos destinados a serem disseminados em pó no momento da explosão.

É possível construí-la com materiais fáceis de encontrar - e pouco dispendiosos - e esta 'bomba suja' não é, contudo, considerada uma arma nuclear, uma vez que não contém suficientes níveis de radiação para tal. Enquanto uma arma nuclear seria capaz de destruir uma cidade - veja-se os exemplos de Hiroshima e Nagasaki -, uma 'bomba suja' 'apenas' atingiria alguns quarteirões (e com radiação que não será suficiente para causar a morte a um humano), explica a CNN Internacional. 

A 'bomba suja' tem sido, em ocasiões anteriores, ligada a organizações terroristas como a Al Qaeda e o Estado Islâmico. Contudo, apesar de se falar da sua existência, nunca nenhuma foi detonada no planeta

O que está em causa? 

Na segunda-feira, a Rússia insistiu que a Ucrânia poderá usar uma 'bomba suja', contendo material radioativo, cuja preparação entrou na "fase final", uma acusação rejeitada por Kyiv e pelos seus aliados ocidentais.

"De acordo com as informações de que dispomos, duas organizações ucranianas têm instruções específicas para fazer a chamada 'bomba suja'. O seu trabalho entrou na fase final", disse o chefe da unidade de proteção radiológica, química e biológica das forças armadas russas, tenente-general Igor Kirillov, citado pela agência francesa AFP.

Kirillov disse que Kyiv pretende "acusar a Rússia de utilizar armas de destruição maciça" na Ucrânia e lançar, assim, "uma poderosa campanha antirrussa destinada a minar a confiança em Moscovo".

A Rússia tem reivindicado, desde domingo, que Kyiv pretende usar em território ucraniano uma arma convencional contendo material radioativo, designada por 'bomba suja', para culpar a Rússia e desencadear uma resposta dos aliados ocidentais. Tratar-se-ia de uma operação de 'bandeira falsa', usada num conflito de modo a aparentar ser realizada pelo inimigo para tirar partido das suas consequências.

Kirillov disse que a Ucrânia quer, em particular, "intimidar a população local e aumentar o fluxo de refugiados através da Europa". "A detonação de um dispositivo explosivo radioativo conduziria inevitavelmente à contaminação da área, que poderia cobrir vários milhares de metros quadrados", advertiu.

As acusações russas surgem numa altura em que a Ucrânia tem em curso uma contraofensiva que lhe permitiu reconquistar territórios controlados pela Rússia, incluindo em regiões anexadas por Moscovo.

Em resposta, a estas acusações, a Ucrânia rejeitou estar a preparar tal artefacto, tendo-se mostrado disponível para uma investigação da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) sobre as alegações russas de que estará a preparar-se para utilizar uma "bomba suja" em território ucraniano para culpar Moscovo.

"Todas as nossas instalações nucleares estão abertas à AIEA. É fácil confirmar que as declarações russas são um disparate", disse o ministro da Defesa ucraniano, Oleksii Reznikov, na rede social Facebook, citado pela agência espanhola EFE.

Por sua vez, a Agência Internacional de Energia Atómica anunciou, esta segunda-feira, que vai fazer uma visita a dois locais nucleares ucranianos, depois das alegações da Rússia.

Aliados rejeitam acusações à Ucrânia

Esta terça-feira, o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, alertou que as acusações de Moscovo sobre o possível uso de uma 'bomba suja' pela Ucrânia encaixam numa tática clássica da Rússia de "culpar os outros pelo que pretendem fazer". "A Rússia continua a acusar falsamente a Ucrânia de fabricar uma bomba suja. Isto é um absurdo: por que a Ucrânia usaria uma bomba suja nos seus territórios que deseja libertar?", questionou Stoltenberg em entrevista à France-Presse (AFP).

"Sabemos que os russos muitas vezes acusam os outros do que eles próprios pretendem fazer. Vimos isso na Síria, vimos no início desta guerra na Ucrânia", vincou Stoltenberg.

Também o Reino Unido já se colocou 'ao lado' da Ucrânia, pela voz do almirante Tony Radakin, do ministério da Defesa. Num comunicado publicado no Twitter, o governo britânico conta que referido almirante falou com o general do exército russo Vasilyevich Gerasimov, numa conversa em que o britânico "rejeitou as alegações russas de que a Ucrânia está a planear ações para escalar o conflito, e recordou o apoio britânico pela Ucrânia".

"Ambos os líderes militares concordaram na importância de manter os canais de comunicação abertos entre Reino Unido e Rússia, para gerir o risco de erros de cálculo e facilitar a paz", acrescentou o governo britânico.

Por fim, Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, em declarações à BBC, fez um aviso a Moscovo, afirmando que a Rússia estaria a cometer um erro crasso, se recorresse ao uso de armas nucleares na invasão à Ucrânia

"Deixem-me só dizer que a Rússia estaria a cometer um erro incrivelmente sério se fosse usar uma arma tática nuclear. Não estou a dizer para já que é uma operação de bandeira falsa. Não sabemos. Seria um erro muito sério", afirmou ao canal, referindo-se à acusação da Rússia de que a Ucrânia está a planear o lançamento de 'bomba suja' no próprio território.

A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 13 milhões de pessoas - mais de seis milhões de deslocados internos e mais de 7,7 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

A invasão russa -- justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.

A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra 6.306 civis mortos e 9.602 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.

Leia Também: AO MINUTO: Batalha "dura" em Kherson; Armas nucleares? "Erro sério"

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