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Governo timorense teve "pouca sorte", mas vitórias relevantes

O ministro da Presidência do Conselho de Ministros timorense admitiu hoje que o governo teve "pouca sorte", enfrentando sucessivas crises fora do seu controlo, incluindo cheias e a pandemia da covid-19, mas ainda assim conseguiu "vitórias relevantes".

Governo timorense teve "pouca sorte", mas vitórias relevantes
Notícias ao Minuto

09:19 - 22/01/22 por Lusa

Mundo Fidelis Magalhães

"Tivemos que travar vários desafios, o impasse político, a falta de OGE, a pandemia da covid-19, as cheias de 4 de abril. É um Governo com pouca sorte", disse Fidelis Magalhães, em entrevista à Lusa.

A pouco mais de um ano do fim um atribulado mandato -- crise política, falta de Orçamento Geral do Estado (OGE), alteração na maioria que apoiava o executivo, crise da pandemia e cheias - Magalhães considera que o Governo atuou como pôde e "merece um certo reconhecimento do trabalho feito".

"Tivemos que atuar com as possibilidades que temos. E do meu ponto de vista conseguimos conquistar algumas vitórias, como a vacinação, a luta contra covid", disse.

Porta-voz do partido desde a sua criação e antigo presidente do seu grupo parlamentar, Fidelis Magalhães, 41 anos, tornou-se - especialmente devido ao seu cargo no executivo -, a voz mais mediática e mediatizada do partido.

Durante a governação essa visibilidade foi evidente, em parte devido às escassas ações públicas de Taur Matan Ruak -- que normalmente só falava no parlamento ou depois de encontros com o Presidente da República -- e ao seu pouco diálogo com os media.

Sinal dessa ausência o facto de não haver registo de qualquer entrevista alargada dada pelo primeiro-ministro desde que assumiu funções, em 2018, com vários pedidos da Lusa a serem ignorados até ao momento.

Neste cenário, acabou por ter que ser Fidelis Magalhães a responder aos media e à população em momentos de crise ou solavancos na ação governativa.

"Houve comentários injustos. E até havia muitas mentiras. Ser o porta-voz do Governo agora e antes como porta-voz do Governo no parlamento, tive como dever travar as discussões. Disse o que tinha que dizer, e defendi a posição do Governo e do meu ponto de vista isto é o dever de um executivo responsável", afirmou.

O PLP pode vir a sofrer nas próximas legislativas, pelo desgaste da governação e pela forma como a força política é gerida, mas continua fiel aos princípios da sua fundação.

"Ainda que o partido possa sofrer nas próximas legislativas, pode ganhar no futuro", disse, insistindo que o PLP quer ser uma força política diferente, que "vai além" da figura do seu líder.

"Temos que reconhecer que na atual constelação política, as figuras ainda continuam a ser muito importantes e do lado do PLP temos uma figura, que é o atual presidente do partido", disse.

"Mas creio que o PLP tem uma nova cultura, uma oportunidade para o mais velho trabalhar com os mais jovens, de forma muito aberta e intensa. Essa nova prática representa uma oportunidade para essa transição para o futuro. Não será um partido em que o presidente centraliza tudo e será a única figura para sempre", afirmou.

Outra questão prende-se com a vontade do partido se posicionar, na sua génese, como uma força emanada da sociedade civil ou pelo menos com forte ligação à sociedade civil, com vários dos seus dirigentes -- e atuais membros do Governo -- a virem desse percurso político.

Questionado sobre se o PLP cumpriu esses objetivos -- muitos na sociedade civil consideram que não - Fidelis Magalhães argumenta: "O que posso dizer como quadro do PLP é que o partido está a fazer tudo dentro do seu poder e mandato, de acordo com os seus objetivos iniciais. Continua a ser um partido se calhar com menos escândalos, procurando manter o controlo dos membros, procurando reforçar os combates à corrupção, contra muitas práticas conhecidas do país".

Ainda assim, e no quadro dos objetivos em Timor-Leste, especialmente no que toca às "bases do desenvolvimento cívico e social", Magalhães nota que se está ainda a viver uma fase na evolução democrática "em que há uma expectativa de que os partidos políticos retribuem aos seus militantes o apoio dado".

Um caminho que, garante, o PLP não está a seguir, procurando "promover a boa governação, os princípios básicos de uma sociedade democrática e não ceder às pressões", mas que gera "alguns sobressaltos ou rejeições e descontentamentos dentro do próprio partido".

Insiste que apesar das dificuldades do atual arranjo de governação -- o PLP está no Governo com a Fretilin e o KHUNTO -- as relações entre as três forças "estão ótimas" com debates profundos "sobre o rumo do desenvolvimento do país".

"Não vejo problemas na relação que torne impossível ter uma relação renovada no futuro", explicou.

Questionado sobre se, em alguns momentos, deveria ter sido o primeiro-ministro a 'dar a cara' pelo Governo ou a responder perante as crises, insiste no cumprimento do seu papel e defende a ação do chefe do executivo.

"O PM fez o seu papel como chefe do Governo, um papel muito duro e difícil. Creio que o PM fez o que tinha que fazer e continua a fazer o seu papel como PM. O que eu fiz foi apenas cumprir o meu papel", afirmou, comentando o estilo de gestão de Matan Ruak que prefere delegar, o que, por vezes, "enfraquece a ideia de haver uma voz única" do Governo.

"O primeiro-ministro tem uma aproximação pedagógica em que confia muito nas capacidades e na convicção dos seus membros. Essa ação pedagógica é muito importante para cada um perceber o seu próprio espaço, a sua própria responsabilidade", frisou.

"Poderia ser diferente? Sim, pode haver ajustamentos aqui e ali, mas não digo na avaliação geral que o estilo seja errado. Acho até que é uma aproximação correta", enfatizou.

Parte das dificuldades prendem-se, reconhece, com o facto do primeiro-ministro não ser da maior força no parlamento ou no Governo -- o PLP controla apenas oito dos 65 lugares e tem no executivo a Fretilin, que detém 23 mandatos.

Um cenário "interessante" que acabou por dar ao partido "uma certa visibilidade imediata", mas que "torna mais difícil agir na conjunta e na constelação política, obrigando a "trabalhar arduamente nos arranjos políticos".

Ainda assim, Fidelis Magalhães mostra-se otimista, insistindo que "não se constrói um país em 20 anos" e que, apesar de tudo, Timor-Leste é "uma sociedade livre, onde há preocupação de prestação de contas, o poder político tem receios, no sentido positivo, dos media".

Na véspera de eleições presidenciais -- a primeira volta decorre a 19 de março -, relembra que a situação no país é "normal", e que apesar de "divergências e discordâncias" Timor-Leste continua "a manter paz e estabilidade".

Ao mesmo tempo, apesar da tradição política ainda viver herdando uma "certa tensão do romanticismo do passado", as forças partidárias mostram-se hoje "mais independentes das questões existenciais, de vida ou de morte".

Leia Também: Oito timorenses confirmam cidadania para se candidatarem a Presidente

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