A democracia "enfrenta muito perigos, mas o maior não será que grupos armados tomem as instituições", afirmou Daniel Innenarity, apontando como um dos maiores problemas para as democracias o facto de estas terem sido construídas com base "em conceitos que já não estão atuais".
Numa era onde ganham terreno outras crises, como a climática, ou onde aumenta o domínio da inteligência artificial, as democracias correm o risco de sucumbir perante "o fracasso coletivo", caso os países não façam um esforço de "rever esses conceitos".
Por isso, defendeu hoje no Folio -- Festival Literária Internacional de Óbidos, "devemos preocupar-nos em construir sistemas [democráticos] inteligentes e não com a inteligência de quem está à frente desses sistemas".
O investigador participava numa mesa de autores em que debateu com a jornalista e escritora turca Ece Temelkuran "O fim das democracias".
Na conversa em que abordaram desde a intentona militar na Turquia, em 2016, à invasão do capitólio, nos Estados Unidos, os dois oradores falaram dos perigos dos populismos e da manipulação da informação por parte de líderes como Jair Bolsonaro (Presidente do Brasil) ou de Donald Trump (ex-Presidente norte-americano).
Mas apesar dos perigos e dos alertas deixados, ambos se disseram mais otimistas do que pessimistas em relação às democracias, cuja crise Ece Temelkuran admitiu ter "mais fé do que esperança" de que será ultrapassada.
O Folio encerra no domingo, depois de 11 dias de literatura e folia na vila, onde 175 autores e escritores participam na edição que tem como tema "O outro".
O festival marca o regresso dos eventos presenciais em Óbidos, com a realização de mais de 160 atividades previstas no programa que integra 16 mesas de autor e debates no Folio Autores, 35 iniciativas no Folio Educa, 75 eventos do Folio Mais, Banda Desenhada e Folio Ilustra, 23 concertos e 12 exposições.
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