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Embaixador de Marrocos: Espanha tenta tornar a UE refém de um contencioso

A Espanha está a tornar a União Europeia refém de um contencioso bilateral relacionado com o acolhimento de um "separatista" saarauí e da questão migratória em Ceuta, disse em entrevista à Lusa o embaixador de Marrocos em Lisboa.

Embaixador de Marrocos: Espanha tenta tornar a UE refém de um contencioso
Notícias ao Minuto

18:01 - 08/06/21 por Lusa

Mundo embaixador de Marrocos

"A Espanha está em vias de tornar a União Europeia [UE] refém num caso que é puramente bilateral e originado por uma decisão irresponsável por parte de Espanha, de acolher um personagem e escondê-lo com premeditação à justiça, à oposição, à opinião pública, e mesmo à Europa", indicou o embaixador Othmane Bahnini, que representa o Reino de Marrocos em Lisboa desde setembro de 2019.

Na sua perspetiva, Madrid tenta envolver a Europa comunitária "numa tensão com Marrocos que é estéril e não serve a ninguém", sublinhando que o seu país "não tem nenhum problema com a UE", definida como um "parceiro privilegiado", com quem tem "uma excelente cooperação, e hoje a Espanha está em vias de utilizar a UE num caso que é puramente bilateral".

O representante diplomático referia-se ao acolhimento por Espanha, em meados de abril passado, de Brahim Ghali, secretário-geral da Frente Polisário, que luta pela autodeterminação do Saara Ocidental após a anexação do território por Marrocos em 1975, internado num hospital da cidade espanhola de Logroño, originando um grave contencioso diplomático entre os dois países.

O embaixador de Marrocos considerou que a decisão do Governo de Madrid constituiu "no mínimo de rutura de uma parceria que há muitos anos assenta em relações de cooperação, de trabalho, de confiança mútua, que a Espanha infelizmente quebrou com a atitude de acolher alguém que faz a guerra a Marrocos, que tem posições hostis".

O dirigente da Polisário regressou à Argélia a 02 de abril, onde se encontra exilado, após um juiz da Audiência Nacional espanhola ter considerado "totalmente descabido" ordenar a sua detenção ou "afirmar" que tenha cometido crimes atrozes contra a humanidade" -- uma acusação interposta por grupos dissidentes -- por estarem apenas sob investigação diversos factos, sem "incriminação".

"Não penso que seja atitude digna de um parceiro, e Marrocos condena essa atitude espanhola, que pôs em causa tantos anos de cooperação e parceria estratégica", prosseguiu Othmane Bahnini, ao recordar que a Espanha "permitiu a entrada no seu território de um personagem que faz a guerra, com falsa identidade, um passaporte falso, tentando escondê-lo e colocá-lo numa cidade longe de Madrid, confirmando um ato premeditado. E escondê-lo da justiça espanhola, da oposição no parlamento espanhol, da opinião pública, tudo isso são atitudes que nos fazem interrogar".

Na perspetiva do representante oficial de Rabat, "o problema permanece" e a Espanha ainda não forneceu "explicações convincentes nem explicações oficiais, mas pelo contrário, entrou em negação da realidade", limitando-se a referir "que era um caso humanitário, que não é uma explicação aceitável".

O embaixador censurou ainda Madrid "por não reconhecer os seus erros e pretender atribuir a responsabilidade à Europa, à União Europeia (UE), com o pretexto da proteção de uma fronteira europeia, dos problemas de tratamento de menores",

Na sequência deste caso, milhares de migrantes marroquinos e subsaarianos, incluindo mulheres e menores, chegaram desde 17 de maio a Ceuta, enclave espanhol localizado no norte de Marrocos, um fenómeno migratório que Rabat não associou ao contencioso diplomático com Madrid e que ainda permanece, com a presença de centenas de menores na cidade espanhola do Norte de África.

No passado domingo, o Governo de Rabat também manifestou "assombro e deceção" por um projeto de resolução do Parlamento Europeu que acusa as autoridades marroquinas da utilização de menores durante a crise migratória em Ceuta.

"A Espanha está por detrás deste projeto de resolução através dos seus eurodeputados, mas que não reflete a realidade. A Espanha apresentou esta situação à Europa como um problema de fronteiras europeia e de imigração, mas a história é diferente", reagiu Othmane Bahnini, para quem os eurodeputados "terão o suficiente discernimento para hoje entender que o problema é bilateral, ao contrário da Espanha, que tenta europeizá-lo".

Ao expor os seus argumentos, também assinalou que a Espanha não consultou os seus parceiros europeus para os informar de que iria acolher o "representante de um movimento separatista que combate Marrocos", um "importante parceiro" da Europa.

"Em nenhum momento lhes disse que iria acolher esta personagem com documentos falsos, transgredindo as regras Schengen, não creio que a Espanha tenha consultado os países europeus sobre este caso antes de tomar esta decisão, e hoje armadilha-os, envolve-os num caso, e está em vias de europeizar, de regionalizar um problema que é interno".

O embaixador sustentou ainda que a projeto de resolução dos eurodeputados sobre o tratamento dos menores já está ultrapassado. "É uma questão hoje sem fundamento, porque sua Majestade o rei [Mohamed VI] deu instruções para que se resolva este problema dos menores com o conjunto dos países europeus", disse.

"Para nós, o problema está resolvido, Marrocos é um país de compromisso, que tem a franqueza de dizer o que pensa, nunca nos escusámos da responsabilidade que é a nossa, de nos comprometermos no repatriamento dos marroquinos que estão em situação ilegal, para que possamos prosseguir a identificação e o repatriamento segundo as regras", precisou.

No âmbito dos acordos migratórios entre as duas partes, incluindo bilaterais, o representante do reino alauita assegura que mantêm uma responsabilidade que assumem e não pretender negar.

"Quando um imigrante ilegal entra num território europeu e é reconhecido como marroquino, comprometemo-nos no seu repatriamento. É uma posição que Marrocos. Os problemas dos menores na Europa é uma questão que vai ser resolvida com os países europeus e que para nós é um não assunto, hoje", acrescentou.

Ao recorrer a dados de 2019, revelou que nesse ano foram repatriados desde a Europa 7.600 migrantes, num compromisso que "funciona" e permanece em vigor.

"Será que a Europa já se queixou do seu flanco oeste no plano migratório? Não. Há uma cooperação permanente, registou-se uma baixa de 65% dos migrantes que desembarcavam na Europa a partir do flanco oeste, e os espanhóis estão satisfeitos e dizem-no", salientou.

Brahim Ghali recordou ainda o caso ocorrido em 2020 e que envolveu Portugal: "Tivemos um episódio relacionado com migrantes marroquinos, com os nossos parceiros portugueses procedemos a uma identificação e os que estavam em situação de serem repatriados, foram-no. É um compromisso, e respeitamo-lo".

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