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Colômbia. Manifestantes exigem reforma da polícia após repressão violenta

As centenas de milhares de colombianos que protestam contra o Governo desde o final de abril estão agora a exigir profundas reformas nas forças policiais, após a violenta repressão que provocou dezenas de mortos e desaparecidos.

Colômbia. Manifestantes exigem reforma da polícia após repressão violenta
Notícias ao Minuto

20:11 - 13/05/21 por Lusa

Mundo Colômbia

A Colômbia, empobrecida pela pandemia e com 45% da população abaixo do limiar da pobreza, depara-se desde 28 de abril com um amplo protesto popular no qual os jovens estão na primeira linha.

O rastilho para a revolta foi um projeto de reforma fiscal apresentado pelo Governo de direito do Presidente Iván Duque que previa um aumento do IVA e o alargamento da base do imposto sobre o rendimento, mas retirado quase de imediato.

De acordo com o Defensor do Povo, uma entidade pública defensora dos direitos humanos, 42 pessoas foram mortas, incluindo um agente policial, nos confrontos registados durante os protestos, para além de 168 desaparecidos.

Pelo menos 1.500 pessoas ficaram feridas, na larga maioria civis, segundo o Ministério da Defesa.

Por sua vez, a organização não-governamental Tembroles denunciou pelo menos 40 casos de vítimas de "violência homicida" por parte das forças de segurança, e cerca de 1.956 casos de violência física, incluindo 28 agressões na vista e 12 casos de violência sexual.

"Na Colômbia, o inimigo sempre foi interno, e a ideia permanece no imaginário da polícia e das Forças Armadas", disse à agência noticiosa AFP o historiador Oscar Almario, da Universidade Nacional, numa alusão aos conflitos com as guerrilhas de esquerda e os cartéis de narcotráfico.

Neste contexto, e para as forças policiais e militares, os manifestantes são considerados "um inimigo potencial que desafia as instituições, o que constitui o pior cenário", acrescentou Almario.

O Governo recusa a desmilitarização da polícia por recear uma perda de capacidade para enfrentar um inimigo interno que permanece ativo, os diversos grupos armados, incluindo formações paramilitares de extrema-direita, e a indústria mineira ilegal.

Após décadas de estigmatização do protesto social, associado às rebeliões de esquerda, os jovens, que não conheceram os anos negros do conflito armado, "não têm medo" e não hesitam em filmar a repressão nos seus telemóveis, sublinhou Luis Felipe Vega, professor de Ciências políticas na Universidade Javeriana.

"Assim, podem tornar-se vítimas de um novo conflito que já não é rural, mas urbano", acrescentou. "Eles matam-nos" tem sido uma das palavras de ordem ecoada nas manifestações.

Em 2019, um inédito movimento estudantil emitiu um primeiro aviso a Iván Duque, um "delfim" do ex-Presidente da direita radical Álvaro Uribe (2002-2010) e o mais jovem chefe de Estado da história contemporânea da Colômbia, no poder desde 2018 e hoje com 44 anos.

Perante a brutalidade da repressão neste país sul-americano com 50 milhões de habitantes, o Supremo Tribunal exigiu uma profunda reforma das unidades anti-motim.

Esta unidades possuem hoje "uma melhor formação" para enfrentar as manifestações, insiste Juan Carlos Vásquez, especialista em segurança na universidade do Rosário.

"São essencialmente estas unidades de polícia de vigilância que disparam balas reais sobre os manifestantes", sublinhou.

"O facto de dispararem à queima-roupa sobre os manifestantes sem refletirem duas vezes revela o estado de degradação desta polícia", segundo Vásquez.

Até ao momento, apenas cinco polícias foram suspensos, com dois deles alvo de inquérito pelo assassinato por bala de um estudante de 19 anos em Ibagué (centro).

O Governo assegura que manifestantes também dispararam em direção à polícia e que os protestos estão infiltrados por grupos armados, incluindo dissidentes das extintas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) e do Exército de Libertação Nacional (ELN).

Mas entre os 849 polícias feridos, apenas 12 foram atingidos por balas.

Os membros das forças de segurança atacados "ripostam em legítima defesa, mas também para se vingarem", lamentou Vásquez.

Durante um largo período, os polícias transmitiam uma imagem de segurança a parte da população, quando enfrentavam as numerosas guerrilhas ou os poderosos cartéis da droga.

Num país onde a problemática da manutenção da ordem se sobrepôs à anterior guerra aberta, a polícia, sempre dependente do ministério da Defesa, não se adaptou à nova situação.

"O seu estatuto híbrido revela-se como uma fraqueza num contexto em que a manutenção da ordem se tornou a prioridade da ação do Estado", frisou ainda Almario.

Leia Também: Chefe da diplomacia da Colômbia demite-se em plena crise social

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