FMI: Zâmbia mostra que é preferível negociar dívida já em dificuldades
A diretora executiva do Fundo Monetário Internacional (FMI) admitiu hoje estar "muito preocupada" com a situação da Zâmbia, o primeiro país africano a anunciar que está a tentar reestruturar a dívida junto dos credores privados.
© Samuel Corum/Getty Images
Mundo FMI
"Estamos muito preocupados com a Zâmbia, sim, é o primeiro caso em que a insolvência está a bater à porta", disse Kristalina Georgieva, em entrevista ao Fórum Sobre África, hoje organizado pelo Financial Times.
"A Zâmbia está a ser ajudada pela melhoria nos preços das matérias-primas, mas é um país que precisa de lidar seriamente com a questão da dívida elevada, e estamos a encorajar a Zâmbia, e todos os países, para trabalhadores com os credores", acrescentou a responsável, defendendo que os países que têm uma dívida insustentável devem renegociar com os credores o mais cedo possível.
"Mais vale agora do que mais tarde, devem reestruturar a dívida o quanto antes", vincou a diretora executiva do FMI.
O grande objetivo das medidas de apoio que o FMI tem tomado relativamente aos países mais endividados e com maiores dificuldades para servir a dívida, devido à descida do preço das matérias-primas e à necessidade de aumentar os gastos com a saúde para fazer face à pandemia de covid-19, é "evitar 'defaults' desordeiros".
A liquidez, acrescentou, é um problema real para estes governos, entre os quais se contam boa parte dos executivos em África, um dos continentes onde a questão da dívida pública elevada é especialmente preocupante.
"Temos de mudar a perceção sobre África, fazer descer o risco, e os bancos de desenvolvimento têm uma palavra a dizer sobre isso, porque eu percebo a apetência pelos juros altos nos empréstimos africanos no contexto de taxas de juro planas noutros mercados, mas os juros não podem estar tão altos que tornem proibitiva a ida aos mercados", argumentou a líder do FMI.
A Zâmbia pediu em setembro aos credores privados para aceitarem o adiamento do pagamento de 120 milhões de dólares (cerca de 102 milhões de euros) devidos até abril do próximo ano para poder canalizar as verbas para o combate à pandemia de covid-19.
Os credores responderam que não era possível aceitar o pedido argumentando que falta informação, e no final de setembro começaram as negociações, de acordo com a agência de informação financeira Bloomberg, que cita duas fontes não identificadas conhecedoras do processo.
O ministro das Finanças da Zâmbia garantiu que mesmo que não haja acordo com os credores, há uma verba reservada para os pagamentos, o que impede a entrada do país em 'default', mas isso não impediu as agências de 'rating' de descerem a opinião sobre a qualidade do crédito soberano do país, tornando muito mais difícil e caro o regresso da Zâmbia aos mercados financeiros internacionais.
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