Meteorologia

  • 26 ABRIL 2024
Tempo
14º
MIN 12º MÁX 17º

Autoridades no poder no Sudão e rebeldes assinam acordo de paz histórico

As autoridades no poder no Sudão e os rebeldes sudaneses assinam este sábado um acordo de paz histórico para acabar com 17 anos de guerra, mas analistas questionam a capacidade financeira e política para o colocar em prática.

Autoridades no poder no Sudão e rebeldes assinam acordo de paz histórico
Notícias ao Minuto

15:41 - 01/10/20 por Lusa

Mundo Sudão

A cerimónia terá lugar em Juba, a capital do vizinho Sudão do Sul, cujos líderes lutaram durante 40 anos contra o poder em Cartum, antes de conquistarem a independência em 2011, no final de uma guerra que deixou dois milhões de mortos e quatro milhões de desalojados. Hoje, as relações entre os líderes dos dois países são calmas e mesmo amistosas.

As autoridades de Cartum, que integram militares e civis na sequência da revolta popular que pôs fim à ditadura de 30 anos de Omar al-Bashir, em abril de 2019, fizeram da paz com os rebeldes a prioridade.

"Este é um dia histórico. Esperamos que a assinatura ponha fim aos combates para sempre e abra o caminho ao desenvolvimento", disse em declarações à agência France-Presse Souleiman al-Dabailo, membro da comissão de paz do Governo sudanês.

"O acordo será assinado por todos os movimentos rebeldes, exceto dois, e esperamos que a assinatura os encoraje a juntarem-se ao processo porque o documento aborda os problemas de forma realista e, se implementado à letra, conduzirá à paz", acrescentou Dabailo.

O texto será assinado pelo poder em Cartum e, no lado rebelde, pela Frente Revolucionária do Sudão (RSF, na sigla em inglês), uma aliança de cinco grupos rebeldes e quatro movimentos políticos das regiões de Darfur (oeste), Kordofan do Sul (sul) e Nilo Azul (sul).

Duas fações armadas, o Movimento de Libertação do Sudão (SLM), uma filial de Abdelwahid Nour em Darfur, e a SPLA-Norte, de Abdelaziz al-Hilu, no Kordofan do Sul e Nilo Azul, recusaram-se até agora a assinar o acordo de paz.

A guerra em Darfur fez, pelo menos, 300.000 mortos e provocou a deslocação de 2,5 milhões pessoas desde o seu início, em 2003, de acordo com a ONU, e afetou cerca de um milhão de pessoas nas outras duas regiões.

O acordo estende-se por oito protocolos: propriedade da terra, justiça transitória, reparações e compensações, desenvolvimento do setor nómada e pastorício, partilha de riqueza, partilha de poder e regresso dos refugiados e pessoas deslocadas.

Também estipula o eventual desmantelamento de grupos armados e a integração dos seus efetivos no exército, que deve ser representativo de todas as componentes do povo sudanês.

"Este dia marca o sucesso da nossa revolução e da nossa luta contra o antigo regime. O acordo ataca as raízes da crise e abre o caminho para a democracia", disse à AFP o porta-voz da FRS, Oussama Said.

Para Said, o acordo respalda as palavras de ordem da revolução "liberdade, paz e justiça" e "leva a julgamento aqueles que cometeram crimes contra os sudaneses".

Mas o caminho está cheio de obstáculos, considerou Osman Mirghani, editor do diário sudanês Al Tayyar. O acordo prevê a partilha do poder entre as autoridades e os signatários rebeldes, mas "o que acontece com os não signatários", questionou o jornalista, citado pela AFP.

"O acordo vai ser muito caro", disse, por outro lado, o investigador sudanês Jean-Baptiste Galoppin. "Sem ajuda externa, o Governo não será capaz de o financiar porque a economia está em colapso. A prioridade financeira será provavelmente a integração de milhares de combatentes, à custa da sua desmobilização ou compensação das vítimas dos conflitos", acrescentou.

"Existe o risco de uma grande parte de as provisões no acordo permanecerem letra morta. Mas não é essa a questão. O que está em jogo é uma reorganização do equilíbrio nacional de poder entre as regiões", acrescentou o investigador.

As forças militares conjuntas, reunindo efetivos das forças armadas governamentais e dos cinco grupos rebeldes que assinaram a carta de intenções de paz no passado dia 31 de agosto, deveriam ser treinadas e em seguida destacadas, mas, ao invés, estão a abandonar os centros de treino e foram concentradas em várias regiões do país.

Recomendados para si

;
Campo obrigatório