Adiamento de audiência de cibernauta que partilhou paródia do Corão
A justiça tunisina decidiu hoje adiar a audiência de uma cibernauta acusada de "atentado ao sagrado e aos bons costumes" após ter partilhado na rede social Facebook uma paródia do Corão, indicou a sua advogada.
© iStock
Mundo Tunísia
Emna Charki, 27 anos, apresentou-se perante o Tribunal Correcional de primeira instância de Tunes, mas o seu processo não foi aberto, disse a advogada Inès Trabelsi à agência France Presse.
"O juiz decidiu adiar a audiência, mas sem marcar uma data", adiantou.
A cibernauta partilhou a 4 de maio na sua página do Facebook uma publicação de um utilizador estrangeiro que parodiava o Corão. Intitulada "surate corona", a publicação refere-se à pandemia da covid-19 imitando o estilo do texto sagrado dos muçulmanos.
Dois dias mais tarde, a jovem foi indiciada por "atentado ao sagrado e aos bons costumes" e "incitamento à violência".
Emna Charki foi processada com base no artigo 6.º da Constituição que determina que "o Estado protege a religião".
A lei fundamental, aprovada em 2014 na sequência da revolução, estabelece que o Estado "garante a liberdade de crença, de consciência", mas também que deve "proteger o sagrado e impedir que seja alvo de ofensa".
Cerca de duas dezenas de manifestantes, na maioria ativistas dos direitos humanos, concentraram-se hoje diante do tribunal de Tunes em protesto contra o processo, que, segundo eles, viola as liberdades.
"Todo o apoio a Emna", "a ditadura ameaça a liberdade", "não à repressão" podia ler-se em cartazes nas mãos dos manifestantes.
"A única conquista da revolução é a liberdade de expressão (...) portanto este tipo de casos não é aceitável, é uma perda de tempo para a justiça", declarou à AFP a ativista Saída Garrach, antiga porta-voz da presidência da República, diante do tribunal.
"O que me está a acontecer não é normal. Por partilhar uma publicação que nem é minha torno-me uma acusada e uma vítima de ameaças de morte", lamentou Emna Charki em declarações à AFP na quarta-feira.
A organização de defesa dos direitos humanos Amnistia Internacional apelou na quarta-feira às autoridades tunisinas para abandonarem as acusações contra a jovem e para a protegerem das ameaças "preocupantes" de "morte e de violação" que tem recebido desde a divulgação da paródia.
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