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Duas jornalistas do Benim denunciam assédio sexual e geram debate aceso

Duas jornalistas do Benim denunciaram terem sido vítimas de assédio sexual, desencadeando um aceso debate no país e que mereceu uma resposta do Presidente da República, a condenar este tipo de abusos.

Duas jornalistas do Benim denunciam assédio sexual e geram debate aceso
Notícias ao Minuto

21:39 - 11/05/20 por Lusa

Mundo Benim

"Estava farta disso. Estava farta. Ano após ano, fui molestado, mas desta vez foi demais. Procurei ajuda ao nível do meu ambiente profissional e não consegui nenhuma", disse Angéla Kpeidja, jornalista da estação de televisão nacional do Benin, ORTB, numa entrevista à agência de notícias francesa, France-Presse (AFP).

Tudo começou com uma publicação na rede social Facebook em que a jornalista afirmava que "o assédio sexual ainda tem o direito de ser praticado" nos meios de comunicação social daquele país africano.

Nesta publicação, amplamente partilhada, a mulher, de 46 anos, lamentou o facto de, entre os seus colegas, "a religião de todos se ter tornado num silêncio perante a frustração".

Kpogbemabou, ex-jornalista da estação privada de televisão Etélé, seguiu o exemplo da colega e denunciou as práticas dos patrões da imprensa em relação às mulheres, num vídeo colocado nas redes sociais.

"É raro ter mulheres que decidem testemunhar com o rosto descoberto", disse.

Porque "é preciso ter coragem", referiu Zakiath Latoundji, presidente do Sindicato dos Profissionais da Comunicação Social do Benin.

É de facto um "acontecimento raro", afirmou Karen Ganyé Gbédji, uma socióloga de Cotonou: "Estas mulheres decidiram agarrar o seu sofrimento nas mãos", numa sociedade sob "um regime patriarcal e com costumes e hábitos que impõem o segundo lugar e a modéstia às mulheres".

Na verdade, embora a maioria das reações tenha sido bastante positiva, as duas mulheres jornalistas foram alvo de numerosos ataques nas redes sociais.

Uma semana após esta denúncia histórica, Angéla Kpeidja ainda parece um pouco abatida e cansada.

"Eu sabia que haveria vozes a dizer coisas contra mim, mas disse a mim própria que isto tinha de acabar", afirmou, acrescentando: "Não tinha mais nada a perder".

"Por que razão haveria alguém de querer que uma mulher com o mesmo nível [profissional] dormisse com o seu superior antes de conseguir um emprego ou uma promoção? É preciso dizer não", sublinhou.

A voz de Kpeidja também foi ouvida e, depois de a ter denunciado, o chefe de redação adjunto da estação foi suspenso e foi aberto um inquérito pelos tribunais sobre o assunto.

Embora o assédio no local de trabalho não seja um assunto específico do mundo dos media, Latoundji reconhece que aí é uma "realidade".

Porém, "não houve queixas formais", o sindicato não recebeu nenhuma. Mas "quando se fala com as mulheres nos meios de comunicação social, há revelações que acontecem".

Desde março último, o sindicato tem vindo a trabalhar na criação de um mecanismo e de uma unidade jurídica para ouvir, apoiar e acompanhar os jornalistas vítimas de assédio.

Mas as denúncias das duas jornalistas, que abalaram todo o Benim, já mereceu resposta até ao mais alto nível político.

A algumas semanas das eleições municipais, previstas para 17 de maio, o Presidente, Patrice Talon, convidou-as a participar num debate e recebeu em audiência a pessoa que denunciou os acontecimentos, bem como alguns dos seus superiores hierárquicos.

"Interessei-me pelo assunto, convencido de que muitas mulheres beninenses podem estar sujeitas a estas práticas condenáveis, no seu local de trabalho", escreveu o Presidente na sua página do Facebook.

"A ação de Angela Kpeidja, será o desencadear de um novo ciclo em que se assegurará melhor proteção das vítimas de abuso sexual", prometeu o Presidente.

Patrice Talon, criticado pelos seus opositores pelo seu autoritarismo, distinguiu-se dos antecessores e do conservadorismo da sociedade beninense, e tocou um acorde com o eleitorado feminino.

"A palavra do chefe de Estado é uma palavra forte", disse Huguette Bokpè Gnacadja, advogada e ativista dos direitos das mulheres.

"Os meios de comunicação social devem acompanhar-nos na nossa luta contra a violência contra as mulheres", afirmou, considerando: "Se sso acontece [nos meios de comunicação social nacionais], temos razões para nos interrogarmos".

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