Argentina quer continuar nas negociações do Mercosul, com ritmo diferente
A Argentina recuou da decisão de abandonar completamente as negociações do Mercosul com outros países e pede agora a Brasil, Paraguai e Uruguai para negociar numa velocidade menor, entrando nos acordos depois dos demais membros do bloco sul-americano.
© Twitter/ José Iniesta
Mundo MERCOSUL
"A Argentina ratifica a necessidade de avançar na procura de soluções conjuntas que permitam aos países do bloco avançarem em ritmos diferenciados com a agenda de relacionamento externo, levando em consideração a situação económica interna da Argentina e o contexto internacional (de pandemia)", apontou, em comunicado, o Ministério das Relação Exteriores da Argentina, depois de uma reunião por videoconferência entre os coordenadores dos países do Mercosul na quinta-feira.
A estratégia de tentar continuar na mesa de negociações para tratados de livre comércio com Coreia do Sul, Canadá, Singapura e Líbano, depois de anunciar que abandonava todas essas negociações, aponta agora a conseguir que os demais membros do Mercosul, Brasil, Paraguai e Uruguai, aceitem que a Argentina entre nos acordos posteriormente num mecanismo denominado "duas velocidades".
O mecanismo daria à Argentina mais tempo para cuidar primeiro da sua crise económica interna, agravada pela pandemia, e para renegociar a sua dívida pública externa com os credores privados.
Os demais membros do Mercosul vão avaliar a proposta Argentina ao longo da semana e terão uma nova reunião no dia 07 de maio. Antes disso, porém, no dia 05 de maio, "vão trocar documentos para encontrarem o melhor mecanismo que atenda os interesses de cada país nas negociações externas", considerando que "a melhor solução sempre será um acordo de todos os membros", explicaram as autoridades argentinas.
Sobre o ponto de colisão entre a Argentina e o Brasil, acompanhado por Uruguai e Paraguai, em relação à Coreia do Sul, o comunicado adverte que a visão argentina é de que um acordo com a Coreia do Sul põe em risco os empregos industriais no país.
"Em relação a um eventual acordo com a Coreia do Sul, diversas entidades que representam os setores produtivos manifestaram formalmente as suas objeções sobre o impacto no tecido industrial, sobretudo no contexto da crise global gerada pela covid-19", apontou a Chancelaria argentina.
Na sexta-feira passada, a Argentina decidiu abandonar todas as negociações, atuais e futuras, do Mercosul para acordos de comércio livre com outros países e blocos, alegando que "se concentrará na sua política interna e protegerá as suas empresas e famílias humildes".
Brasil, Paraguai e Uruguai querem acelerar as negociações comerciais porque acreditam que a abertura de novos mercados vai ajudar a enfrentar os efeitos da crise económica provocados pelo coronavírus no comércio internacional.
Já a Argentina defende que é preciso primeiro medir o dano causado pelo vírus na economia para depois avaliar como continuar com as negociações comerciais.
A decisão argentina, na prática, bloqueia o objetivo dos restantes membros (Brasil, Paraguai e Uruguai) de abrir-se ao mundo porque a denominada resolução 32, aprovada em 2000, proíbe a negociação individual de acordos com países de fora do bloco. Pelas atuais regras, todos os países precisam de negociar em conjunto e aprovar determinada decisão por consenso.
O Brasil viu na decisão argentina de abandonar as negociações uma oportunidade de avançar na abertura comercial sem obstáculos da Argentina e quer explorar, junto aos demais membros, uma brecha na normativa do bloco para fintar a Argentina.
Já a Argentina entende que essa flexibilização nas regras seria o fim do Mercosul como União Alfandegária.
"Se os demais membros querem acabar com o Mercosul, que o digam. Se o Brasil quer fazer o que bem entender, para que existe o Mercosul?", questionou, nesta semana, o presidente argentino, Alberto Fernández, que assumiu o cargo em dezembro e retirou a Argentina do caminho que permitiu ao Mercosul fechar, no ano passado, acordos a União Europeia e com a Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA, nas siglas em inglês).
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