De acordo com um relatório semestral destes investigadores mandatados pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, o leste da República Democrática do Congo (RDCongo) teve uma intensificação da violência nos últimos meses na fronteira com o Ruanda devido a uma ofensiva relâmpago do M23 e das tropas ruandesas (FDR) sobre Goma e Bukavu, as capitais do Kivu do Norte e do Kivu do Sul, respetivamente, face a um exército congolês sobrecarregado.
Essa violência causou milhares de mortes, segundo o Governo congolês e a ONU, e agravou uma crise humanitária para centenas de milhares de deslocados.
"As operações das FDR tiveram um papel determinante na conquista e ocupação de novos territórios e cidades", salientaram os especialistas da ONU, acrescentando que as suas conclusões se baseiam em fotos e vídeos autenticados, tirados nomeadamente por drones, bem como em testemunhos e informações.
"Uma semana antes do ataque a Goma, responsáveis ruandeses informaram confidencialmente o grupo (de especialistas das Nações Unidas sobre a RDCongo) que o presidente (ruandês) Paul Kagame tinha decidido tomar imediatamente o controlo de Goma e Bukavu", acrescentaram os investigadores.
Num relatório anterior, no final de 2022, o grupo de peritos da ONU já tinha apontado a responsabilidade do Ruanda, através de operações militares, no conflito no leste da RDCongo.
Kigali nunca reconheceu explicitamente a sua presença militar na região, limitando-se a referir a implementação de "medidas defensivas" devido à presença na região das Forças Democráticas de Libertação do Ruanda (FDLR), criadas por antigos líderes hutus ligados ao genocídio ruandês de 1994 e consideradas pelo Ruanda como uma "ameaça existencial".
O acordo de Washington, assinado a semana passada entre Kinshasa e Kigali nos Estados Unidos da América, prevê "o respeito pela integridade territorial e o fim das hostilidades" no leste da RDCongo.
No entanto, estas alíneas ainda têm de ser implementadas, visto que continuam a ser relatados confrontos na região.
Paralelamente, uma tentativa de mediação entre Kinshasa e o M23 está em andamento em Doha, Qatar.
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