Argélia. Recorde os principais acontecimentos do movimento de contestação
A Argélia assiste desde fevereiro deste ano a uma contestação inédita que forçou à demissão de Abdelaziz Bouteflika e exige deste então instituições de transição sem a inclusão do conjunto do "sistema" no poder.
© Reuters
Mundo Argélia
O 'Hirak', "movimento" sem estrutura oficial nem dirigente designado, rejeita as eleições presidenciais convocadas para 12 de dezembro pelo poder interino, que na sua perspetiva se destinam a perpetuar o "sistema" em vigor desde a independência de 1962.
Cronologia dos acontecimentos desde fevereiro deste ano:
10 de fevereiro:
- No poder há duas décadas, muito debilitado na sequência de um AVC em 2013, o Presidente Abdelaziz Bouteflika anuncia que vai apresentar-se a um quinto mandato.
22 de fevereiro:
- Alguns milhares de pessoas manifestam-se nas grandes cidades argelinas. "Não ao quinto mandato", "Nem Bouteflika, nem Said" (irmão do Presidente e apontado como possível sucessor), são as palavras de ordem ecoadas em Argel, onde as manifestações estão proibidas desde 2001.
10 de março:
- o chefe de Estado-Maior Ahmed Gaid Salah afirma que o Exército Nacional Popular (ENL, as Forças armadas argelinas), "partilha" os "mesmos valores" que o povo, alguns dias após ter apresentado a instituição como o "garante" da estabilidade.
11 de março:
- Bouteflika, 82 anos, renuncia em apresentar-se às presidenciais após o final do seu quarto mandato que se concluía em 28 de abril, e adia o escrutínio previsto para 18 de abril, sem anunciar nova data.
15 de março:
- Decorrem manifestações em 40 dos 48 municípios do país. Diversos responsáveis diplomáticos referem-se a "milhões" de argelinos nas ruas.
- No final de março, o general Gaid Salah pede que o Presidente seja considerado inapto a exercer o poder, ou que renuncie.
02 de abril:
- Bouteflika, 82 anos, demite-se.
05 abril:
- Os argelinos descem em massa à rua, determinados a afastar o "sistema" do poder.
09 de abril:
- Abdelkader Bensalah, presidente do Conselho da Nação (câmara alta do parlamento) é designado Presidente interino. A oposição boicota a reunião do parlamento.
16 de abril:
- Demite-se o presidente do Conselho constitucional Taïeb Belaiz, um fiel de Bouteflika.
20 de maio:
- O general Gaid Salah, na prática o novo homem forte do país, rejeita as suas principais reivindicações da contestação: o adiamento das eleições presidenciais convocada para 04 de julho para eleger um sucessor de Bouteflika, e o afastamento das figuras do "sistema".
02 de junho:
- Devido à ausência de candidatos, o Conselho Constitucional anula as presidenciais de 04 de julho.
08 de agosto:
- O general Gaid Salah considera que as reivindicações "fundamentais" da contestação foram satisfeitas, e considera que o objetivo principal consiste na organização das presidenciais.
12 e 13 setembro:
- O parlamento aprova com caráter de urgência uma lei que anuncia uma autoridade eleitoral "independente", e uma outra que revê a lei eleitoral.
15 setembro:
- Abdelkader Bensalah anuncia que as presidenciais terão lugar a 12 de dezembro, respeitando minuciosamente "a sugestão" do chefe de estado-maior. Vão apresentar-se ao escrutínio cinco candidatos, incluindo dois ex-primeiros-ministros de Bouteflika.
18 de setembro:
- A hierarquia militar endurece o discurso, ao indicar que vai impedir que os manifestantes de outras regiões da Argélia se juntem aos cortejos semanais de Argel.
25 de setembro:
- Um tribunal militar condena a 15 anos de prisão Said Bouteflik, indicado por "atentado à autoridade das Forças Armadas", e "conspiração contra a autoridade do Estado".
- O general Mohamed Mediene "Toufik" e o seu sucessor à frente dos serviços de informações, Athmane Tartag, e ainda Louisa Hanoune, secretária-geral do Partido dos Trabalhadores (PT), são condenados à mesma pena.
- Este processo decorreu após uma vaga de detenções no círculo próximo do ex-Presidente Bouteflika, e a abertura de inquéritos judiciais sobre alegados atos de corrupção dirigidos a ex-altos responsáveis e homens de negócios.
02 de outubro:
- O presidente da Autoridade Nacional Independente das Eleições (ANIE), Mohamed Charif, anuncia em conferência de imprensa os nomes dos cinco candidatos às presidenciais.
14 de novembro:
- A Human Rights Watch (HRW) denuncia uma "repressão generalizada" da contestação. Nos últimos meses, as autoridades "prenderam dezenas de militantes pró-democracia" e "muitos permanecem detidos indiciados por atentado à unidade nacional ou atentado à moral das Forças Armadas", indica a organização de direitos humanos.
19 de novembro:
- A Amnistia internacional afirma que o início da campanha eleitoral decorre num "clima de repressão" e atentados às liberdades.
22 de novembro:
- O "Hirak", o amplo movimento de contestação, entra no décimo mês. Em Argel, diversas ruas do centro de Argel estão repletas de manifestantes por ocasião da 40.ª sexta-feira seguida de manifestações. "Não recuaremos", ecoa a multidão, antes de dispersar sem incidentes. Manifestações com forte participação também decorrem em muitas outras cidades do país.
29 de novembro:
- Numerosas detenções em Argel antes do início da tradicional manifestação semanal contra o "sistema" e as eleições presidenciais.
30 de novembro:
- Algumas centenas de pessoas manifestam-se em Argel "contra a ingerência estrangeira" e a favor do escrutínio presidencial.
04 dezembro:
- Após um adiamento de dois dias, é retomado em Argel um processo por corrupção sem precedentes dirigido a dois ex-primeiros-ministros argelinos, indiciados em conjunto com outros ex-altos dirigentes políticos e de patrões do setor automóvel. Os advogados decidem boicotar a sessão.
06 dezembro:
- Os cinco candidatos às presidenciais participam num debate inédito na televisão, mas limitam-se a emitir generalidades num formato muito controlado.
07 de dezembro:
- A justiça argelina convoca Said Bouteflika, irmão e conselheiro do ex-Presidente, que recusa responder ao juiz na qualidade de testemunha no processo por corrupção de ex-dirigentes políticos e empresários. O procurador irá pedir 20 anos de prisão efetiva para os principais suspeitos.
08 de dezembro:
- Fim da campanha eleitoral para as presidenciais.
Descarregue a nossa App gratuita.
Oitavo ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.
* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com