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Há 25 anos, 8.000 ruandeses eram assassinados todos os dias

Cerca de 8.000 tutsis e hutus moderados foram mortos diariamente entre abril e junho de 1994 no Ruanda por membros da etnia hutu, um genocídio que continua a marcar o país 25 anos depois.

Há 25 anos, 8.000 ruandeses eram assassinados todos os dias
Notícias ao Minuto

11:22 - 05/04/19 por Lusa

Mundo Ruanda

Em 6 de abril de 1994 era abatido, no aeroporto da capital do Ruanda, Kigali, o avião que transportava os presidentes ruandês, Juvenal Habyarimana, e burundês, Cyprien Ntaryamira, iniciando um conflito étnico no país que matou mais de 800.000 pessoas e provocou milhões de refugiados.

O abate do Dassault Falcon 50 que transportava os dois chefes de Estado, que regressavam da Tanzânia, onde participaram em negociações de paz com os rebeldes da Frente Patriótica Ruandesa (FPR, de maioria tutsi), acendeu o rastilho para o mortífero conflito entre a maioria hutu e a minoria tutsi.

No dia seguinte à queda do avião, a primeira-ministra hutu moderada Agathe Uwilingiyimana, dez "capacetes azuis" da Missão de Observação das Nações Unidas (MINUAR) que a protegiam e vários ministros da oposição foram mortos e começaram os massacres.

Os 100 dias que se seguiram marcaram o culminar de uma tensão entre os dois grupos étnicos que tinham já perpetuado confrontos como os genocídios burundeses em 1972 e 1993.

Segundo a ONU, cerca de 800.000 pessoas foram mortas entre 7 de abril e 15 de julho, com os tutsis a serem acusados de se unirem aos rebeldes, que tinham entrado no norte do país, a partir de 1990, vindos do Uganda.

As autoridades fizeram listas de pessoas a assassinar e as forças armadas e as milícias hutu Interahamwe massacram metodicamente as "inyenzi" (baratas em kinyarwanda, a língua oficial do Ruanda, a designação dada aos tutsis), assim como os hutus que se opunham ao partido de Habyarimana e os que se recusaram a participar na matança.

A RTLM (Rádio-Televisão Livre das Mil Colinas) tornou-se o principal "meio de comunicação do ódio", anunciando a localização de tutsis em fuga e mobilizando a população, grande parte da qual participou nos assassínios, nos saques e nas violações.

Homens, mulheres e crianças foram exterminados à catanada, nas ruas, nas suas casas e mesmo em escolas e igrejas onde pensavam estar em segurança, enquanto o Conselho de Segurança das Nações Unidas decidiu, em 21 de abril, reduzir os efetivos da MINUAR por razões de segurança.

Em 4 de julho, a FPR assumiu o controlo de Kigali acabando com o genocídio, o que levou ao êxodo de centenas de milhares de hutus para o vizinho Zaire, atualmente a República Democrática do Congo.

O Tribunal Penal Internacional para o Ruanda (TPIR), criado pela ONU em 8 de novembro, determinou quatro anos mais tarde as primeiras sentenças de prisão perpétua e incluiu a violação e a violência sexual nos atos de genocídio.

Vários responsáveis pelo massacre foram julgados pelo TPIR e alguns continuam a ser perseguidos pela justiça, por exemplo em França, onde ocorreu em meados de março a primeira condenação de um participante no genocídio ruandês, sentenciado a 25 anos de prisão.

Cerca de dois milhões de outros ruandeses compareceram perante os tribunais populares, os "gacaca", que condenaram 65 por cento dos suspeitos de participação no genocídio.

Duas décadas e meia depois, sob a liderança de Paul Kagame, um hutu que entrou na cena política pouco depois do fim do genocídio - primeiro como vice-Presidente e como ministro das Finanças, e depois, desde 2000, como Presidente -, o Ruanda tem verificado um forte crescimento económico, mas os acontecimentos de 1994 continuam presentes numa população de cerca de 12 milhões.

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