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"Mesmo que ninguém consiga tirar-me a dor, estarei eternamente grato"

José Roselló, pai de Julen, o menino de dois anos que morreu em Málaga depois de cair num poço, falou com o Diario Sur para deixar agradecimentos pelo apoio que ele e Victoria, a mãe da criança, receberam. "Maldigo-me, maldigo esse dia. Maldita a hora em que fui para ali...", desabafou José.

"Mesmo que ninguém consiga tirar-me a dor, estarei eternamente grato"
Notícias ao Minuto

12:10 - 01/02/19 por Anabela de Sousa Dantas

Mundo Pai de Julen

Durante todo o processo de buscas por Julen, que durou 13 dias, quase não se ouviram os pais do menino de dois anos, sempre discretos, apoiados um no outro, e em silêncio. A única exceção foi do pai, José Roselló, cujo desespero, nos primeiros dias, o levou a criticar o dispositivo destacado para o salvamento do seu único filho, pedindo mais meios para tentar retirar a criança do poço de prospeção de água.

Agora, passados seis dias do funeral do menino, José manteve "uma breve conversa telefónica" com o jornal de Málaga Diario Sur, com o intuito de agradecer. "Da mesma forma que vim a público pedir mais meios, agora quero fazê-lo para agradecer. Não quero mais entrevistas. Só dar esse agradecimento, e que não se lembrem da queixa", indicou.

O espanhol de 29 anos sublinhou, falando também em nome da mulher, Victoria, que estarão "eternamente gratos" a todos os que participaram nas operações de resgate, às autoridades locais e à comunidade, que os acolheu e ajudou durante todo o processo.

"E aos jornalistas, que nos ouviram quando pedimos mais meios para as buscas e que, salvo algumas exceções, nos trataram bem. Sentimo-nos muito apoiados", afirmou, falando também nas mensagens de apoio que receberam, até de países estrangeiros. "Nesse aspeto, mesmo que ninguém consiga tirar-me a dor, estarei eternamente grato", disse.

"Fecho os olhos e vejo sempre o mesmo: o poço"

Na curta conversa com o jornalista do Diario Sur, José falou sobre os últimos dias e, ainda que parco nas palavras, descreveu o desolador regresso à normalidade, depois da segunda experiência da morte de um filho. Sublinhe-se que o primeiro filho do casal, Óliver, morreu em 2017 por causa de um problema cardíaco.

"Não temos nem onde ficar", explicou José. "Antes vivíamos com a minha família, mas quando aconteceu aquilo do Óliver tivemos de nos mudar porque tudo eram lembranças. E agora tudo outra vez. Entras e começas a ver os brinquedos, bolas... Estamos há três ou quatro dias em casa de um amigo e só vamos à nossa para dormir", lembrou.

O dia a dia vai-se fazendo a custo. Ressalvando que tem "os melhores amigos do mundo", contou que o convencem a jogar consola para se distrair. "Os meus amigos tentam que eu pense noutra coisa, mas eu fecho os olhos e vejo sempre o mesmo: o poço", lamentou. "E maldigo-me, maldigo esse dia. Maldita a hora em que fui para ali... Nunca mais vou para o campo. Nem volto a comer um prato de 'paella'", disse José.

Recorde-se que no dia em que desapareceu Julen, 13 de janeiro, a família estava no terreno pertencente ao companheiro de uma prima de José para fazer um piquenique. O menino caiu ao poço quando a mãe ligava para o restaurante de fast-food onde trabalhava, para pedir para não ir, e o pai estava a começar uma fogueira para fazer 'paella', um prato típico espanhol.

O menino foi retirado do poço 13 dias depois da queda, um momento de muito pesar também para as equipas de resgate. Julen sofreu um "traumatismo cranioencefálico grave", de acordo com o relatório preliminar da autópsia. O funeral realizou-se no domingo, dia 27 de janeiro, pelas 12h (11h em Lisboa).

As autoridades estão a levar a cabo uma investigação ao caso, podendo o proprietário do terreno e o homem que fez o poço, bem como outras obras ilegais no local, ser acusados de homicídio por negligência.

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