Sensação de pernas cansadas no verão? Pode ser Doença Venosa Crónica

Com a chegada do verão, aumenta o calor e os sintomas de uma condição que afeta 35% da população portuguesa: a Doença Venosa Crónica. Para compreender melhor esta condição médica, e no âmbito da rubrica 'O Médico Explica', falámos com Joana Ferreira, médica especialista em Angiologia e Cirurgia Vascular.

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Mariana Moniz
08/07/2025 08:50 ‧ há 5 horas por Mariana Moniz

Lifestyle

O Médico Explica

Com a chegada do verão, aumenta o calor - e, com ele, também aumentam os sintomas de uma condição que afeta 35% da população portuguesa, especialmente as mulheres: a Doença Venosa Crónica (DVC).

 

Sensação de peso, inchaço, cansaço nas pernas e até dor são alguns dos sintomas que, embora muitas vezes desvalorizados, podem esconder uma patologia crónica e evolutiva.

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Estima-se que cerca de sete em cada 10 mulheres com mais de 30 anos sofra de Doença Venosa Crónica, sendo o verão a época do ano em que estes sintomas mais se intensificam.

Para compreender melhor esta condição médica, e no âmbito da rubrica 'O Médico Explica', o Lifestyle ao Minuto entrevistou Joana Ferreira, médica especialista em Angiologia e Cirurgia Vascular.

De notar que, para a consciencialização sobre este tema, está a ser lançada a campanha de sensibilização #LegsFirst com rastreios em farmácias de norte a sul do país, incluindo Açores e Madeira.

Notícias ao Minuto Joana Ferreira© Médica especialista em Angiologia e Cirurgia Vascular  

O que define a Doença Venosa Crónica

A Doença Venosa Crónica (DVC) consiste num conjunto de sintomas e sinais relacionados com alterações na estrutura e função das veias dos membros inferiores. Estas alterações dificultam o retorno do sangue ao coração, levando à sensação de pernas cansadas e pesadas, bem como ao seu inchaço. Além disso, causa ainda alterações visíveis na pele e nas veias.

Quais as causas desta doença? 

A principal causa da DVC é o fator genético hereditário, sendo que muitos doentes com DVC/varizes têm familiares diretos (como mãe, pai, avó ou tia) também afetados. Adicionalmente, contribuem para o aparecimento e agravamento da doença fatores como o envelhecimento, excesso de peso, número de gravidezes, sedentarismo e profissões que exigem longos períodos de pé ou sentados.

E quais são os principais sintomas?

Os principais sintomas da DVC incluem sensação de pernas pesadas, cansadas, inchaço (edema), comichão (prurido) e cãibras. Do ponto de vista visual, destacam-se as telangiectasias, pequenos derrames frequentemente designadas aranhas vasculares, as varizes tronculares (veias dilatadas e salientes) e, em fases mais avançadas, modificações estruturais da pele.

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Em que idades pode surgir?

Os primeiros sinais da DVC podem surgir ainda na adolescência. Nas mulheres com mais de 30 anos, cerca de um terço já apresenta sinais ou sintomas da doença.

A Doença Venosa Crónica afeta maioritariamente as mulheres. Porquê?

A DVC manifesta-se com mais sintomas nas mulheres, que geralmente estão mais atentas às alterações visuais nos membros inferiores. Além disso, o facto de, geralmente, não apresentarem pelos nas pernas facilita a identificação dos sinais visuais da doença. Em Portugal, cerca de 40% das mulheres são afetadas, sendo reconhecido que os fatores hormonais e o número de gravidezes contribuem para o aumento da incidência no sexo feminino. Ainda assim, importa reforçar que a DVC também afeta os homens, que muitas vezes apresentam formas mais graves da doença.

De que forma esta patologia pode afetar a vida de uma pessoa, a nível pessoal e profissional?

A nível pessoal, os sintomas interferem de forma significativa com a qualidade de vida, podendo mesmo afetar a qualidade do sono, o que acaba por ter reflexos também no desempenho profissional. No contexto laboral, a dificuldade em permanecer longos períodos de pé pode levar à necessidade de alterações no posto de trabalho. A DVC é responsável por 21% das mudanças de função e por 8% das reformas antecipadas.

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O calor pode agravar os sintomas. De que forma?

Sim. O calor provoca a dilatação dos vasos sanguíneos, o que leva à distensão das veias e ao agravamento dos sintomas da DVC, como o inchaço e a sensação de peso nas pernas.

Quais são os principais sinais de alerta a que se deve estar atento? 

É fundamental diagnosticar precocemente a DVC para evitar a progressão da doença. Os indivíduos que apresentem sintomas como pernas cansadas, inchadas, prurido, varizes visíveis ou alterações na pele dos membros inferiores devem consultar o seu médico de família.

É possível prevenir a Doença Venosa Crónica?  

Embora a predisposição genética seja um fator importante, é possível reduzir o risco de progressão da DVC com um estilo de vida saudável, prática regular de exercício físico, controlo do peso, elevação dos membros inferiores e, quando indicado, uso de meias elásticas e fármacos venoativos.

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Como é feito o diagnóstico desta doença? 

O diagnóstico é clínico, baseado nas queixas do doente (sintomas) e na observação direta dos membros inferiores (exame objetivo). Quando necessário, pode ser complementado com exames imagiológicos, como o eco-Doppler.

Qual a importância de procurar diagnóstico precoce, sobretudo entre as mulheres, que representam a maioria dos casos?

Um diagnóstico precoce permite iniciar atempadamente as medidas terapêuticas, reduzindo o impacto da doença e prevenindo complicações futuras.

Uma vez diagnosticada, que estratégias é que o doente pode adotar para prevenir complicações?

O doente deve adotar um estilo de vida saudável, manter-se fisicamente ativo, controlar o peso, elevar os membros inferiores e seguir o plano de tratamento indicado pelo médico. Este poderá incluir meias elásticas, fármacos venoativos e, em casos mais avançados, cirurgia ou técnicas endovenosas.

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Qual a prevalência desta doença em Portugal? 

A DVC afeta cerca de 35% da população adulta, com maior incidência entre as mulheres a partir dos 30 anos. Como referido anteriormente, cerca de um terço das mulheres com mais de 30 anos apresenta sinais ou sintomas da doença.

Considera que a população está devidamente informada acerca desta patologia?

Tem-se verificado um progresso significativo na informação e sensibilização da população, devido às iniciativas da comunicação social e campanhas de saúde. No entanto, a DVC continua a ser muitas vezes desvalorizada, por ser considerada um problema apenas estético ou próprio do envelhecimento. É essencial reforçar que se trata de uma doença com impacto real na saúde e qualidade de vida, e que pode evoluir para estados mais graves se não for tratada atempadamente.

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