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O que os designers da ModaLisboa têm a dizer sobre sustentabilidade

O Lifestyle ao Minuto esteve nas Oficinas Gerais de Fardamento e Equipamento do Exército para a 54.ª edição da ModaLisboa. Estivemos à conversa com alguns designers sobre as práticas éticas e sustentáveis do setor.

O que os designers da ModaLisboa têm a dizer sobre sustentabilidade
Notícias ao Minuto

10:00 - 10/03/20 por Teresa David

Lifestyle ModaLisboa

Esta sexta-feira, a ModaLisboa deu início ao primeiro dia de desfiles que tiveram lugar, mais uma vez, nas Oficinas Gerais de Fardamento e Equipamento do Exército. O dia foi repleto de mensagens ambientais, não fosse o tema desta edição, ‘Awake’, sobre sustentabilidade na moda. As precauções relativas ao Covid-19 também não ficaram de fora, com a organização a seguir as recomendações das autoridades de saúde. 

O maior evento de moda da capital começou com o concurso Sangue Novo, que premeia jovens designers em início de carreira. Seguiram-se as apresentações de duas criadoras da plataforma Lab - Carolina Machado e Ana Duarte e, por fim, os desfiles dos designers Valentim Quaresma e Carlos Gil.

Na passerelle do Sangue Novo desfilaram as coleções de cinco jovens designers, que apresentaram as suas propostas para o próximo inverno. O concurso premiou três deles. Inês Manuel Baptista sagrou-se vencedora do prémio da ModaLisboa em parceria com a Polimoda e ganhou um mestrado em Design de Moda na universidade italiana e ainda um prémio monetário no valor de 3500 euros. Já Francisco Pereira venceu o prémio da ModaLisboa em parceria com a Tintex Textiles que se converte numa residência de três semanas dentro desta unidade têxtil e numa recompensa no valor de 2 mil euros. A terceira premiada da noite - cuja coleção, Cêlá, será vendida nas concept stores de Lisboa e do Porto - foi Naomi Marcela que venceu o The Feeting Room.

Ao Lifestyle ao Minuto, Naomi Marcela, falou sobre sustentabilidade. "Esta coleção ['Coral'] foi desenhada e é dedicada aos corais e ao que lhes está a acontecer neste momento com o 'color bleaching' e com a crise climática. Eu queria tentar retratar isso na minha coleção. A minha coleção começa com azuis, pretos e vai-se transformando lentamente para brancos que é o que acontece com o bleaching [branqueamento] dos corais", diz a designer. 

Com uma mensagem ambiental bem evidente resta saber se a produção foi, também ela, sustentável. "Eu tento bastante ser sustentável, mas ainda é complicado para uma pessoa que está a começar. A maneira como tentei ser sustentável foi comprar os meus tecidos em segunda mão, usar tintas ecológicas...é difícil, mas eu estou a tentar e acho que é muito importante neste momento, especialmente para alguém que está a começar, ter já este 'mindset'. Claro que não é fácil, por mim usava os melhores produtos e os melhores materiais que já existem - já há materiais lindos, ecológicos, orgânicos - mas são caros. No futuro quero poder trabalhar com esses materiais", remata a criadora de Cêlá

No sábado, foi Nuno Gama quem fechou o calendário de desfiles. Antes desfilaram as criações de Luís Carvalho, Kolovrat, Gonçalo Peixoto, entre outros. O dia foi também marcado pelo desfile de Luís Buchinho, 'powered by Portugal Fashion'. O protocolo entre a ModaLisboa e o Portugal Fashion foi o responsável pelo regresso do designer à capital, depois de ter estado seis anos sem marcar presença no evento.

O Lifestyle ao Minuto teve a oportunidade de falar com Kolovrat, Gonçalo Peixoto e Nuno Gama.

Andas e rebeldia na passerelle de Kolovrat e Gonçalo Peixoto

A designer da Bósnia, estabelecida em Portugal - Lidija Kolovrat - apresentou uma coleção que homenageia "os imigrantes do futuro", disse. As silhuetas alongadas e a roupa desportiva marcaram o desfile que contou ainda com três modelos em cima de andas. Em relação à sustentabilidadeKolovrat assume que a marca "sempre trabalhou na sustentabilidade, no sentido de fazer reciclagem". "Essa sempre foi a nossa forma de trabalhar e temos o nosso próprio atelier. A sustentabilidade é um processo mais lento de produzir e nós, realmente, sempre tivemos  isso", conta. 

Depois de Kolovrat foi a vez de Gonçalo Peixoto apresentar a sua coleção. O 'rebelde' de 23 anos apresentou uma coleção "sexy, 'cool', divertida, mas sem ser vulgar", descreve. 'Rebellion' é sobre quebrar regras através de silhuetas, tecidos e cores:  "é quase como uma carta de uma miúda super rebelde, que vai ao armário da mãe buscar as peças e que encurta as mini saias e que sai como lhe apetece à rua", começa por explicar. "Depois conseguimos ver várias coisas. Uma parte mais 'streetwear', uns 'hoodies' ou uns fatos de treino. Uma parte muito mais 'classic' ou 'night' com vestidos mais curtos, com as mini saias mais subidas, mais provocantes", acrescenta. 

Segundo o designer, esta é a coleção mais sustentável da sua carreira. "Nós nunca poupámos tantos tecidos como poupámos nesta coleção. Quis fazer uma coisa diferente: todos os pedaços que sobravam das peças, guardava porque achava que, no final, queria fazer umas peças com isso. Todos os vestidos de folhos que vimos na coleção e que foram alguns três ou quatro são todos feitos com os restos dos nossos tecidos", explica. 

"A sustentabilidade é muito importante. É o nosso futuro. Todos nós temos de ter essa consciência quando estamos a criar, de pensar um bocadinho no futuro, de pensar como é que as coisas são feitas, como é que aproveitamos as coisas, como é que podemos reciclar, como é que podemos usar tecidos sustentáveis, orgânicos", adverte. Apesar disso, Gonçalo Peixoto admite que aliar a sustentabilidade ao lucro é uma tarefa difícil. Para o designer "a sustentabilidade traz 'outros 500' sobre moda. Muitas das vezes, os tecidos sustentáveis não existem na cor que tu queres. Daí tens de tentar ajustar à coleção, porque se fores estampá-lo numa cor vibrante já estás a deixar de ser sustentável. É difícil em grande escala". 

O apelo de Nuno Gama

A noite de sábado terminou com o desfile do conceituado Nuno Gama. Ao contrário dos outros designers, que criaram para a estação fria, Nuno Gama apresentou a coleção para a próxima primavera/verão 2020, numa lógica 'see now buy now' (vê agora, compra agora), o que considera ser uma exigência de mercado. 'Sado' surge como um apelo a uma indústria mais ética, sustentável e inclusiva. 

Esta coleção é sobre "tentar chegar às pessoas de alguma forma, pelo respeito de todos os seres vivos. É uma atitude de amor para com as coisas à nossa volta", diz. Mais concretamente, a ideia "começa na história do azul clássico ser a cor da estação, esse azul clássico faz-me lembrar o mar da minha Arrábida que eu via desde pequenino. A isso junta-se a minha inquietude em relação à dragagem no rio Sado", explica. Assim, a coleção está repleta de motivos náuticos e quase todos os modelos desfilaram com uma venda nos olhos, simbolizando "aqueles que não querem ver". 

"Há muito tempo que fazemos tudo com fabricantes certificados. Nós produzimos tudo em Portugal, e há uma grande diferença entre fazer uma lavagem e atirar a água para o rio, ou  fazer uma lavagem e essa água ser recuperada. Acho que temos todos de pensar nisto de alguma forma: como é que as coisas são feitas?, será que isto tem algum prejuízo para algum de nós?, que rasto é que isto deixa?", defende. 

Para o designer, a questão da sustentabilidade é de extrema importância e espera que os consumidores comecem a exigir o 'selo verde'. "Deixei de ter carro e passei a usar transportes públicos. Reciclo todos os meus lixos religiosamente. Estou a tirar um curso de compostagem para o meu jardim. Faço isto porque acho que é importante. Eu não tenho filhos, mas tenho sobrinhos, tenho filhos de amigos meus, adoro crianças e adoro este planeta e acho que só faz sentido se cada um de nós fizer a sua diferença", conta. 

No fim do desfile surge o cantor Virgul, que canta 'All We Need is Love'. 

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