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United Fashion: Mensagens sociopolíticas, QR-Code e enxovais

A 54.ª edição da ModaLisboa começou esta quinta-feira com o projeto United Fashion. O Lifestyle ao Minuto falou com três designers.

United Fashion: Mensagens sociopolíticas, QR-Code e enxovais

© iStock

Teresa David
06/03/2020 09:35 ‧ há 5 anos por Teresa David

Lifestyle

Moda Lisboa

A 54.ª edição da ModaLisboa arrancou esta quinta-feira a passo ritmado e mais desperta do que nunca. Sob o tema 'Awake', o principal evento de moda da capital coloca a ética e a sustentabilidade na ordem do dia com um conjunto de desfiles que se irão prolongar até domingo, dia 8 de março

Este ano, a ModaLisboa é a anfitriã do United Fashion e reúne, ao todo, 15 designers de moda europeus. O projeto financiado pela Europa Criativa visa a promoção da criatividade, da inovação e do empreendedorismo, assim como o aumento das suas oportunidades de negócio.

No Mercado de Santa Clara, por entre cabides e charriots, o Lifestyle ao Minuto falou com três jovens designers sobre a importância de práticas sustentáveis numa das indústrias mais poluentes. 

A portuguesa Joana Duarte, promessa do design nacional, inspirou-se nos tradicionais enxovais para criar peças únicas, feitas a partir de têxteis antigos. A sua marca - Behén, cujo nome significa 'irmã' em hindi - "começou com as aventuras pelo mundo e com trabalhos com comunidades em terras distantes e, também, tem muito a ver com a cultura portuguesa, o conceito do enxoval", começa por explicar a designer.

Os valores da sustentabilidade e da produção responsável que caracterizam a marca remontam, assim, aos meses em que viveu na Índia, onde trabalhou numa marca de produção ética e, depois, à formação em Londres, onde aprendeu sobre a importância da 'utilidade' das criações. Além disso, foi também o tempo que passou na Índia que a alertou para a ideia da passagem de tecidos de geração em geração, "o que acontece também na cultura portuguesa e que a minha avó também me transmitiu", acrescenta. 

Além da "reutilização dos tecidos", o 'core' da marca está também - como já dissémos - na ética da produção. "A produção é feita em parceria com a Fundação Aga Khan, portanto, por mulheres que estão em situação de desemprego na zona de Lisboa e na zona de Sintra. Uma parte da venda dessas peças reverte a favor da educação de crianças sírias", revela. 

Relativamente à rentabilidade das práticas éticas e sustentáveis, Joana Duarte afirma que ainda está a "tentar perceber como é que a coisa pode evoluir", mas acredita que os consumidores estão cada vez mais conscientes e dispostos a investir nestes valores. "Os bordados da Madeira, por exemplo, são peças caríssimas e, depois, como faço questão que a produção seja ética, as pessoas que produzem recebem de forma digna. O investimento é muito grande e isso acaba por se refltir nos preços, mas o público também acaba por comprar este tipo de peças", afirma. 

Outra adepta da sustentabilidade é Eugenie Schmidt, da Alemanha. De acordo com a designer, "a sustentabilidade e a transparência apresentam-se agora numa maior escala porque faz sentido". Apesar de a temática só ter conquistado palco nos últimos anos, desde 2010 que a sua marca - Schmidttakahashi - aposta em  ciclos de produção e meios digitais, ou seja, produz peças a partir de uma seleção de roupa usada que é arquivada numa base de dados online. O cliente, ao fazer scan de um QR-Code, consegue rastrear a história da peça, oferecendo-lhe identidade. "Há muito desperdício na moda, produzimos muito. Queremos criar uma solução. A moda pode existir, mas temos de reinventar", defende. 

Nesta edição dedicada às causas surgem, também, além da sustentabilidade, as mensagens sociopolíticas. Falamos das criações da designer da Macedónia Teodora Mitrovska, baseada em Londres. "Cada coleção que produzo é fortemente inspirada por questões sociopolíticas. Para mim, a mensagem que a roupa transmite é muito importante", diz. 

A coleção apresentada pela marca T. Mitrovska no United Fashion - 20.18 - é uma homenagem aos seus falecidos avôs e, desta forma, combina elementos alusivos à pesca e uniformes militares jugoslavos. "Como marca, incluindo para esta coleção, produzo roupas sem género", justifica.

As peças da designer são altamente conceptuais, criadas a partir de materiais não convencionais e 'gender-bending'. "Como marca, estou muito interessada em materiais não convencionais, como borracha, plástico rígido, pvc e todas essas coisas. É apenas uma questão de estética, mas estou ciente do quão poluentes eles são, e é por isso que decidi reduzir a frequência de produção - apenas produzo uma vez por ano", confessa. 

Além disso, a designer aposta na reutilização de tecidos. "Nesta coleção, em particular, tenho uma saia feita a partir de 'jeans' velhos. Geralmente, os 'jeans' que recebo estão danificados ou muito gastos, portanto, é necessário transformá-los em algo, dar-lhes um novo objetivo", refere. 

A questão da produção ética é, de igual forma, muito importante para a criadora. "Produzo tudo localmente, em Londres. Venho da Macedónia e, infelizmente, já ouvi muitas histórias horríveis sobre mulheres e como elas são tratadas nas fábricas, então, também sou muito vocal sobre a ética das coisas", defende. 

Para o futuro, a designer garante que vai continuar a utilizar a moda em prol de causas. "Tenho algumas colaborações com artistas que também são muito vocais sobre os assuntos que consideram importantes, como o apoio à comunidade LGBTQ +. Esse é o plano para o futuro próximo", remata.

Leia Também: Covid-19: ModaLisboa poderá decorrer "à porta fechada

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