A medida, válida por cinco anos, foi divulgada poucos dias depois do anúncio da nova tarifa norte-americana, que entra em vigor na quarta-feira, e provocou alarme entre produtores e exportadores brasileiros, agora forçados a procurar mercados alternativos.
Segundo dados da indústria, cerca de 85% da produção brasileira de arábica em 2025 - a variedade mais exportada para os EUA - já foi colhida. Este tipo de café desempenha um papel central no mercado norte-americano, onde é frequentemente misturado com grãos mais suaves de outros produtores latino-americanos para se adequar ao gosto local. O Brasil é responsável por 44% da produção mundial de arábica, o que faz do país um fornecedor difícil de substituir a curto prazo.
Os Estados Unidos são o maior consumidor mundial de café e importaram 3,3 milhões de sacas de café brasileiro no primeiro semestre do ano, quase 23% do total exportado pelo Brasil nesse período. Já a China importou 530 mil sacas no mesmo intervalo. Embora o mercado chinês seja ainda menor, tem vindo a ganhar importância à medida que o acesso brasileiro ao mercado norte-americano enfrenta novas barreiras.
Em novembro passado, a ApexBrasil, a agência brasileira de promoção de exportações, assinou um acordo com a Luckin Coffee, maior cadeia de cafetarias da China, para o fornecimento de 240 mil toneladas de café brasileiro entre 2025 e 2029. O contrato está avaliado em 2,5 mil milhões de dólares (mais de 2,1 mil milhões de euros) e sucede a um acordo anterior, de meados de 2024, no valor de 500 milhões de dólares (432 milhões de euros), para o fornecimento de 120 mil toneladas.
Fundada em 2017, a Luckin Coffee opera atualmente mais de 22 mil lojas em todo o território chinês e serve mais de 300 milhões de clientes. Embora o chá continue a ser a bebida tradicional dominante, o consumo de café tem vindo a crescer rapidamente no país asiático, sobretudo entre os jovens profissionais urbanos. O consumo 'per capita' duplicou em cinco anos, passando de oito para 16 chávenas por ano - ainda muito abaixo da média global de 240 chávenas e das mais de 400 registadas nos EUA.
Na altura do acordo, o diretor executivo da Luckin Coffee, Jinyi Guo, elogiou o café brasileiro e descreveu o contrato como "apenas o início" de uma colaboração a longo prazo. "No futuro, queremos expandir ainda mais esta parceria", disse.
Desde 2009, a China é o principal parceiro comercial do Brasil, com o comércio bilateral a passar de nove mil milhões de dólares (7,8 mil milhões de euros), em 2004, para 188 mil milhões (162 mil milhões de euros), em 2024. O Brasil desempenha, em particular, um papel importante na segurança alimentar da China, compondo mais de 20% das importações agrícolas e pecuárias do país asiático.
A segunda maior economia mundial alimenta quase 19% da humanidade com apenas 8,5% das terras aráveis do planeta. Em comparação, o país latino-americano tem quase 7% das terras aráveis para 2,7% da população mundial.
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