Logo no arranque do ano, decorreu o 5.º Congresso dos Jornalistas, com o mote de encontrar soluções para o futuro do jornalismo em Portugal, num evento em que a situação da Global Media esteve em destaque, e em que foi aprovada uma greve geral do setor.
O grupo, que tinha um novo acionista, o fundo World Opportunity Fund (WOF), debatia-se com falta de dinheiro para pagar salários, manifestando a intenção de despedir até 200 trabalhadores e avançar com um programa de rescisões voluntárias.
Além disso, tinha sido alvo, pelo Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) - que tinha entrado em funções em novembro de 2023 - da abertura de um processo administrativo autónomo para a aplicação da Lei da Transparência, uma vez que existiam dúvidas sobre se, entre os detentores do WOF, havia participações qualificadas. A ERC tinha também aberto um procedimento oficioso de averiguações para determinar várias matérias, entre as quais verificar a existência de uma alteração de domínio de rádio não autorizada.
A situação culminou numa greve dos trabalhadores da Global Media Group (GMG) em 10 de janeiro, que resultou na paralisação das redações do Diário de Notícias (DN), Jornal de Notícias (JN), TSF e O Jogo, em protesto contra os despedimentos.
Os jornalistas da Lusa cumpriram, nesse dia, uma hora de greve, em solidariedade com os trabalhadores da GMG e pela defesa da comunicação social.
Em 31 de janeiro, O presidente da Comissão Executiva da Global Media, José Paulo Fafe, apresenta a demissão por considerar "estarem esgotadas" as condições para exercer as suas funções e em 02 de fevereiro o empresário Diogo Freitas, da Officetotal Food Brands, confirma que o acordo para a compra de alguns jornais e revistas da GMG e da TSF "está fechado", e que seria assinado quatro dias depois.
Em março, Vítor Coutinho é designado presidente executivo da Global Media, acumulando os pelouros financeiro e recursos humanos, para cumprir o final do mandato que termina no final deste mês.
Entretanto, a 18 de março decorre a greve geral de jornalistas, que parou 64 redações e reivindicou melhores salários e condições para a profissão, segundo o Sindicato dos Jornalistas.
Cerca de um mês depois, a Notícias Ilimitadas, constituída para ficar com títulos da GMG como JN e TSF, entre outros, notifica a Autoridade da Concorrência (AdC) sobre a operação, obtendo luz verde em maio.
Já em julho é conhecido que a OTI Investimentos, empresa controlada pela família do empresário Diogo Freitas, vai desinvestir nos media e vender os 25% na Verbos Imaculados, dona da Notícias Ilimitadas.
O negócio da venda do JN, TSF, Jornal de Notícias História, os 'sites' NTV e Delas, Notícias Magazine, O Jogo, Volta ao Mundo e Evasões à Notícias Ilimitadas é finalmente fechado em 30 de julho, data em que também ficou concluída a compra da posição que o fundo WOF tinha na Páginas Civilizadas (acionista da GMG).
Com esta operação, o DN, Dinheiro Vivo, Motor 24, Men's Health e o Açoriano Oriental permanecem na Global Media, que entra no capital da NI com 30%.
Perante estas operações, ficou aberto o caminho para o Estado comprar a posição que as Páginas Civilizadas e que a GMG tinham na Lusa, passando a deter 95,86% do capital da agência de notícias. O ministro da tutela, Pedro Duarte, afirmou recentemente que está a negociar a possibilidade do Estado chegar aos "100%".
Entretanto, em 08 de outubro o Governo apresenta o Plano de Ação para a Comunicação Social, com 30 medidas, entre as quais o fim da publicidade na RTP em 2027, que é o tema 'mais quente' de todas as propostas, o que culminou com o parlamento a aprovar, em 22 de novembro, com os votos favoráveis de toda a oposição, a proposta do Bloco de Esquerda que trava a redução de publicidade na RTP durante o próximo ano.
No mesmo dia, ministro dos Assuntos Parlamentares, Pedro Duarte, acusou a oposição de pretender sabotar e boicotar as decisões do executivo com uma "coligação negativa" formada no parlamento.
O plano de apoio aos media prevê, entre outras medidas, nova legislação para o setor, novo contrato de concessão de serviço público para a RTP, o reforço da independência da Lusa e incentivos ao setor. A Lusa vai ter, a partir de 2025, um conselho de supervisão e fazer descontos aos órgãos de informação, locais e nacionais.
E antes do ano acabar, um novo grupo está em dificuldades, desta feita a Trust in News (TiN), liderada por Luís Delgado, que viu em 05 de novembro o Processo Especial de Revitalização (PER) reprovado com os votos da Autoridade Tributária (AT) e Segurança Social.
Quase um mês depois, foi considerada insolvente, tendo o tribunal fixado em 30 dias o prazo para reclamação dos créditos e assembleia de credores para 29 de janeiro, segundo a sentença a que Lusa teve acesso.
A TiN detém 16 títulos, entre os quais a Visão, Exame, Exame Informática, Jornal de Letras, Caras, Activa, TV Mais. Os seus trabalhadores concentraram-se na semana passada na praça Luís Camões, em Lisboa, em defesa dos seus postos de trabalho.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, recebe o Sindicato dos Jornalistas no dia 14 sobre esta matéria.
Por último, o Público abriu um programa de saídas voluntárias, o que antecipa um 2025 com muitas incertezas para o setor.
Em sentido inverso, o grupo Medialivre lançou o canal Now, em 17 de junho, uma 'lufada de ar' num momento complexo do setor, sendo que a mais recente novidade foi o lançamento da CM Rádio (Correio da Manhã Rádio) em novembro.
Entretanto, o antigo canal TVI Ficção, da Media Capital, passou a chamar-se V+, em agosto, e a SIC avançou com a SIC Novelas em outubro.
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