Em 10 de dezembro, o Conselho de Administração da Autoridade da Concorrência (AdC) propôs-se "adotar uma decisão de não oposição" à operação de concentração que envolve a compra da Media Capital, dona da TVI, pela Cofina, grupo que detém o Correio da Manhã, entre outros títulos.
Na próxima semana termina o prazo de 10 dias úteis para as audiências sobre a operação, nomeadamente com os terceiros interessados - Impresa, NOS, Vodafone, Meo e Global Notícias -, os quais "se pronunciaram em sentido desfavorável", de acordo com o projeto de decisão da AdC, a que a Lusa teve acesso.
Se não houver qualquer informação nova, o mais provável - e o mercado assim o espera - é que a 'luz verde' para a concretização do negócio aconteça no início do primeiro trimestre de 2020.
Foi em 21 de setembro que a Cofina anunciou que tinha chegado a acordo com a espanhola Prisa para comprar a totalidade das ações que detém na Media Capital, valorizando a empresa ('enterprise value') em 255 milhões de euros (a operação inclui a dívida).
Nos últimos 10 anos, a venda da Media Capital foi um assunto que esteve na ordem do dia, com muita polémica envolvida.
Em julho de 2005, a Prisa torna-se acionista principal da Media Capital, levando na altura o líder do PSD, Marques Mendes, a acusar os governos português e espanhol de cumplicidade no negócio com a empresa espanhola, lembrando a ligação do grupo ao PSOE, com o executivo da altura a negar qualquer envolvimento na matéria.
Em outubro de 2006, a Prisa lança uma oferta pública de aquisição (OPA) sobre a totalidade da dona da TVI e passa a controlar a Media Capital.
Entretanto, no final de 2008, a Prisa atravessa um período de crise financeira e propõe-se a avançar com cortes para enfrentar a dívida e a queda de receitas.
As dificuldades financeiras continuam em 2009 e, no âmbito das medidas para enfrentar a situação, a Prisa anuncia em junho desse ano a intenção de vender 30% da Media Capital, levando na altura a PT (operadora entretanto comprada pela Altice) a manifestar o seu interesse.
O negócio seria inviabilizado pela polémica lançada à volta do assunto, nomeadamente de tentativa política de controlo da TVI.
Em 26 de junho de 2009, o então primeiro-ministro, José Sócrates, anuncia que se vai opor à compra pela PT de parte da Media Capital para que não haja a mínima suspeita de que esse negócio se destina a alterar a linha editorial da TVI. O Estado tinha uma 'golden share' na PT que lhe permitia vetar a operação.
Com a PT fora da 'corrida', as portas ficam abertas para a Cofina e a Ongoing.
Na altura, a dona do Correio da Manhã adiantou que pretendia comprar uma posição de controlo na Media Capital e não estava interessada em ficar apenas com os 30% da empresa.
Entretanto, em setembro de 2009, a Prisa anuncia a venda de 35% da Media Capital à Ongoing, empresa que era acionista da Impresa.
Em janeiro do ano seguinte, a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) 'chumba' a operação, colocando como condição à Ongoing a venda da totalidade da participação na SIC.
Em 30 de março de 2010, sem que a Ongoing tenha vendido a sua participação na Impresa, a Concorrência opõe-se ao negócio, contando já com o parecer vinculativo da ERC, que inviabiliza a operação.
Sete anos depois, a Altice, que comprou em junho de 2015 a PT Portugal por cerca de sete mil milhões de euros, anunciou que tinha chegado a acordo com a espanhola Prisa para a compra da Media Capital por 440 milhões de euros.
Quase um ano após o anúncio do acordo de compra --- e depois de a ERC, na altura liderada por Carlos Magno, não ter chegado a consenso sobre o negócio, apesar de os serviços técnicos da entidade terem dado parecer negativo -, a Autoridade da Concorrência rejeita os compromissos apresentados pela Altice na operação por entender que "não protegem os interesses dos consumidores, nem garantem a concorrência no mercado".
A Prisa anuncia em junho a desistência do negócio, com a dona da Meo a lamentar as decisões dos reguladores portugueses.
Pela segunda vez, a compra da Media Capital falhava. Decorre agora a terceira tentativa e a questão é saber se à terceira será de vez.