Num fenómeno futebolístico onde o litoral é cada vez mais o palco mediático e decisório, é no interior do país que mora um clube sensação do Campeonato de Portugal. Com pouco mais de 5 mil habitantes, Oleiros é, a par de Mêda, no distrito da Guarda, a vila com menor população das que competem na mesma prova. No entanto, os oleirenses voltam a estar em destaque no panorama do desporto rei nacional, graças ao estado de graça do clube da terra no terceiro escalão. Depois de na última época ter saltado para o topo da ribalta com a histórica receção ao Sporting, na 3.ª eliminatória da Taça de Portugal, o emblema da zona do Pinhal tem causado surpresa na Série C.

No honroso 7.º lugar, com 21 pontos, os mesmos do Nogueirense, que surge logo a cima, a Associação Recreativa e Cultural de Oleiros (ARCO) está a apenas sete da liderança, ocupada pelo Vilafranquense, e soma já sete jogos sem perder - dois empates e cinco vitórias, a última das quais frente à crónica candidata U. Leiria. Um período de sonho, mas que não desvia o foco do grupo.

"Começámos com muitas dificuldades, com aquele episódio em Vila Franca - começámos a partida com apenas nove jogadores -, só fechámos o plantel à sétima ou oitava jornada, mas depois da goleada em Castelo Branco, que acho que foi catalisadora para o crescimento da equipa, melhorámos. Os jogadores estão confortáveis no nosso sistema, nos últimos sete jogos só sofremos em um e sinto que a equipa está com alguma confiança. Mas não confundimos a confiança com deslumbramento. Não existe relaxamento, o campeonato é duro e longo e temos consciência que temos que duplicar o número de pontos que temos neste momento (21) para conseguirmos o principal objetivo, que é a manutenção. Para um clube como o Oleiros, com o orçamento que tem, é um feito bastante elogiável", começou por dizer o treinador Natan Costa, à conversa com o Desporto ao Minuto.

Ora, esta questão dos argumentos financeiros enaltece ainda mais o mérito da ARCO. Só para se ter uma pequena noção das assimetrias dentro da própria Série C, a formação oleirense dispõe de um orçamento que equivale a um sétimo(!) do apresentado por outros rivais, nomeadamente a U. Leiria. O trabalho de excelência, associado ao famoso 'nervo do Pinhal', que caracteriza as gentes daquela zona do país, servem de base para este momento. 

"Há três fatores que restringem a construção do plantel: a questão financeira, pois é um clube que não tem capacidade para competir nesse aspeto com 80 ou 90% dos adversários desta divisão, a questão do piso ser sintético, que não é algo atrativo para os jogadores, e, por fim, a própria localização geográfica de Oleiros, que normalmente não é tão apelativa para os jovens. Por isso, é muito complicado recrutar jogadores. No entanto, temos um grupo muito bom, ambicioso e que quer competir noutros campeonatos. Esse é o grande segredo", explicou o técnico, de 39 anos, que comanda a equipa pela segunda época.

Sapara [segundo em baixo, da esquerda para a direita] é o melhor marcador da equipa, com oito golos. © Facebook

De pés bem assentes no chão

Apesar do bom momento, Natan Costa não se cansa de 'puxar' os jogadores para a realidade, apesar e admitir que estes se mantêm bastante concentrados e com o sentido de missão bem apurado. "O campeonato é muito instável. No ano passado chegámos a estar com nove pontos de desvantagem e conseguimos a permanência e houve clubes que tinham oito pontos acima da linha de água e desceram. Por isso, não pode haver euforia nem depressão. Sabemos que o que temos feito é positivo, mas também temos a noção que temos que continuar a dar o nosso máximo todos os domingos, de forma a conseguirmos encurtar essa fasquia para os 42 ou 43 pontos que, à partida, serão os suficientes para a manutenção. Quanto mais cedo o conseguirmos, melhor para toda a gente", frisou.

Nova visita às 'portas' da capital como próximo teste

Depois desse grande triunfo sobre o conjunto leiriense, o Oleiros volta às 'portas' de Lisboa para medir forças com um dos adversários diretos na luta pela permanência, o Santa Iria. Nesta altura, as duas equipas estão separadas por sete pontos, com vantagem para os comandados de Natan Costa. 

"Vai ser um jogo muito difícil porque o Santa Iria tem feito um campeonato em casa muito forte. Venceu os últimos três jogos, diante de adversários a quem nós não conseguimos ganhar - Torreense, Caldas e Fátima. Temos noção das dificuldades e seguramente que será um jogo que vai exigir de nós muita concentração, determinação e eficácia", sublinhou, pedindo, mais uma vez, o importante apoio dos oleirenses.

"Sinto um apoio em crescendo em torno da equipa. Penso que os adeptos estão orgulhosos daquilo que a equipa está a fazer. Em casa sentimos sempre essa força e quando vamos à zona de Lisboa temos sempre uma falange de 60 ou 70 adeptos, o que é muito bom para este campeonato. No entanto, penso que é a equipa que tem contribuído para a mediatização do clube e da vila", finalizou.