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Encenador Tónan Quito apresenta 'Oresteia' no CCB no sábado

Trabalhar o indivíduo, no contexto da sociedade, foi o que mais interessou ao encenador Tónan Quito, na construção de "Oresteia", de Ésquilo, que se estreia no sábado, no Pequeno Auditório do Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa.

Encenador Tónan Quito apresenta 'Oresteia' no CCB no sábado
Notícias ao Minuto

22:18 - 15/02/18 por Lusa

Cultura Teatro

"O que me interessava mais trabalhar era como o indivíduo se revela no contexto da sociedade e não enquanto indivíduo", trabalhar "a questão do incontrolável", explicou hoje à agência Lusa Tónan Quito, no final de um ensaio de imprensa da peça.

Daí, o trabalho em conjunto, com o coro, nesta encenação que conta com música original dos Dead Combo. "A questão do incontrolável é mais fácil de trabalhar com um coro, dado que, mesmo que alguém se engane, a máquina não para", referiu Tónan Quito, sublinhando que também o dramaturgo da Grécia Antiga, autor da trilogia que compõe a 'Oresteia', se interessou mais pelo coro do que, propriamente, por cada personagem.

Num cenário despojado e delimitado por grandes cortinas brancas transparentes, que permitem ver os atores a vestirem-se e a despirem-se ao fundo do palco, as personagens vão cantando em coro as falas da tragédia, ao mesmo tempo que vão discorrendo sobre temas da Grécia Antiga que continuam atuais.

'Oresteia' é uma peça política, como admitiu Tónan Quito, que levanta questões como a construção da democracia, a justiça e o relacionamento entre os homens e entre estes e os deuses.

O facto de Atena não ter conseguido julgar o caso de um mortal, colocando-os a todos a julgarem-se uns aos outros, e instituindo assim o primeiro tribunal, foi uma das partes da tragédia que fascinou o diretor do espetáculo, como o próprio admitiu.

Sublinhou que mais do que contar a história de Efigénia ou de Agamémnon, o que Ésquilo pretendeu com esta trilogia foi questionar a sociedade grega, que se encontrava em transformação, e a própria democracia que começava a ser desenhada.

Outro dos pontos desta tragédia que interessou a Tónan Quito trabalhar foi o facto de as Erinas se transformarem em Euménides, na tragédia -- "o grande sim da peça", como lhe chama --, e que mostra como é possível ter "um querer", "uma vontade".

"Nós não queremos mais ser as maldições [Erinas], queremos sim que o povo de Atenas nos sirva e nós servimos o povo de Atenas", exemplifica o diretor do espetáculo, considerando que esta transformação é " muito importante", sobretudo porque se passa de uma coisa negativa para uma positiva.

Uma qeustão que, para Tónan Quito, é muito importante na sociedade atual já que "os homens passam a vida a dizer que não, que não querem as coisas que se passam, mas que poucas vezes fazem alguma coisa para mudar o rumo dos acontecimentos", referiu.

É a questão dos "homens-marionetas, que têm vontades, mas ainda não têm vontade", frisou, acrescentando que esta ausência de vontade tem muito a ver com a noção de destino.

"Nesta peça os humanos questionam muito a questão do destino. Sabem que têm de fazer determinadas coisas, mas questionam-se sobre o porquê de ter de as fazer", frisou.

Assim, o coro é o ponto fulcral desta peça e é precisamente dos cinco elementos que compõem o coro, que cada ator vai depois saindo para desempenhar a sua personagem. Um coro que é uma voz e que está em constante questionamento em constante mutação.

A contrastar com o branco do cenário, existe apenas o vermelho das romãs, que vão sendo partidas e trituradas ao longo do espetáculo, simbolizando sangue.

Uma das especificidades da peça - que dura duas horas e quarenta minutos -- reside no facto de todos os atores usarem uma espécie de máscara de maquilhagem, que lhes tapa o rosto, precisamente para anular o valor individual da cada um e para que o espetador veja a história e não a forma como os atores desempenham as personagens.

"Oresteia" tem música ao vivo dos Dead Combo, que foram convidados para o projeto e que, apesar de já terem feito música para teatro, se estreiam, agora no género tragédia.

Pedro Gonçalves disse que a "grande dificuldade" de compor para 'Oresteia' residiu em perceber "o que é uma tragédia em termos de música".

"Tentar arranjar um espaço, uma cor ou uma coisa qualquer que encaixasse" nos versos de Ésquilo foi o grande desafio para o duo, acrescentou Pedro Gonçalves.

Tó Trips explicou à Lusa que estiveram ambos, durante duas semanas, em dezembro, a ler a peça, "a pesquisar, a descascar o texto, que é super difícil".

À partida, ainda tentaram colocar a música à parte, mas depois viram que não funcionava, acrescentou Pedro Gonçalves. O que fez com que estivessem no projeto desde o início, o que foi uma experiência nova para os músicos, segundo Tó Trips.

"Uma experiência enriquecedora e gratificante", disseram ambos à Lusa.

Com versão e dramaturgia de Miguel Castro Caldas, a partir da tradução de Manuel de Oliveira Pulquério e de José Pedro Moreira - e consultadas as traduções e versões de Robert Fagle, Ted Hughs, Tony Harrison e Pier Paolo Pasolini -, 'Oresteia' tem interpretação de Cláudia Gaiolas, Francisco Carracho, Isabel Abreu, Miguel Borges, Tónan Quito e Vera Mantero.

A cenografia é de F.Ribeiro e o figurino, de José António Tenente. A peça é uma coprodução do CCB com a HomemBala.

'Oresteia' vai ter sete récitas, a partir de sábado: todos os dias, de 17 a 24 de fevereiro, às 21:30, exceto no domingo, dia 18, com início da sessão às 16:00.

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