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"Queria mostrar que as mulheres também poderiam ser malvadas"

'Louca', de Chloé Esposito, lançado pela Bertrand em português, já foi traduzido para 25 idiomas e, tudo indica, virá a ser adaptado ao cinema.  

"Queria mostrar que as mulheres também poderiam ser malvadas"
Notícias ao Minuto

12:40 - 07/02/18 por Raquel Lima

Cultura Chloé Esposito

Tanto pelo sexo quanto pelo suspense, 'Louca' é como um 'filho' de 'As Cinquenta Sombras de Grey' (E.L. James, Ed. Lua de Papel) e 'Em Parte Incerta' (Gillian Flynn, Betrand Editora). A definição foi escolhida pela própria autora, a agora best-seller Chloé Esposito, em entrevista exclusiva ao Notícias ao Minuto sobre o lançamento em português deste que é o primeiro título de uma trilogia transposta para 25 idiomas.

“Eu descreveria os meus livros como divertidos, rápidos e controversos”, revela a inglesa de 31 anos, que assinou um contrato de cerca de 2,4 milhões de euros pela história da qual vendeu os direitos de adaptação cinematográfica à Universal. A controvérsia de 'Louca' não vem do facto de ser picante, de maneira crua e, nem por isso, sempre sensual. A personalidade da protagonista espanta mais do que qualquer tabu.

Alvina Knightly mostra-se, logo nas primeiras das 384 páginas da obra publicada pela Bertrand, como alguém com um tanto sociopatia, invejosa, boémia, preconceituosa, sempre politicamente incorrecta, alguém cuja falta de sentido de humor chega a provocar riso e com uma verborreia de pensamentos, sem nenhum filtro. “Quem quer que tenha dito ‘partilhar é cuidar’ não tinha uma gémea”, pensa a protagonista em determinado trecho da trama. Noutro, dispara: “O que importa se gosta de bater em mulheres? Ele é um Adonis”.

Num estilo rápido, de frases curtas, a autora parece desafiar quem lê a desgostar da protagonista. A surpresa é que não é fácil ignorar esta mulher tão louca quanto promete o título. A estreante inglesa usa muito bem um trunfo de veterana. Como Isabel Allende faz, com mestria, em obras como 'O Caderno de Maya' (Porto Editora), em 2011, Chloé teve coragem de apenas revelar Alvie no próprio tempo, aos poucos - à altura de umas boas dezenas de páginas. Mesmo quando se começa a perceber a história de fundo desta gémea “do mal”, entre Londres e a Sicília, ela ainda surpreende.

“Talvez a personagem seja ainda mais controversa porque é uma mulher a fazer todas essas coisas terríveis: matar e f**er e consumir drogas”, defende a autora. “Escrever esta personagem foi muito divertido, mas também uma declaração feminista. Queria criar uma protagonista feminina forte e complexa para mostrar que as mulheres também poderiam ser más”, complementa.

Ao costurar a  linha do tempo entre presente e passado, Chloé torna crível uma relação de completo ódio entre a mãe e Alvie, e como ela cria uma espécie de sombra sobre a gémea, Beth - descrita por Alvie como “perfeita dos pés à cabeça”.  “A mãe sempre preferiu Beth e Alvie sempre foi a má, a desajustada. Ela acredita que o facto de ter dextrocardia - uma condição rara em que o coração fica localizado no lado direito do corpo, em vez de ser no esquerdo - é um sinal de que é má. Ela é uma imagem espelhada da sua perfeita irmã gémea, cujo coração está no lugar certo”, antecipa a autora, melhor do que na sinopse mundial, que, desculpe o editor, revela demais.

Na entrevista a seguir, concedida entre o puerpério da filha, que nasceu há algumas semanas, e às vésperas do lançamento de 'Bad', segundo volume da saga, a ser lançado em inglês a 22 de julho, Chloé revela como conseguiu chamar a atenção do mercado editorial, fala sobre sentimentos controversos, sucesso e sobre a própria gémea de nome - a autora é filha única, mas tem uma atleta olímpica australiana como homónima. 

'Louca' é sobre uma mulher completamente envolta na própria sombra. Acredita que temos de ser um pouco mais próximos do nosso lado mais sombrio?

Sem dúvida. Alvie é uma gémea maligna idêntica, que rouba a vida perfeita da irmã. A sua gémea, Beth, é a "boa", a menina dourada. Mas Alvie é alguém que não liga a nada. Não se importa com ninguém, além de si mesma, e é a pessoa mais egoísta e materialista que eu poderia imaginar. Ela abraça o próprio lado sombrio e realiza todas as fantasias mais sombrias num passeio selvagem de montanha-russa.

Queria criar uma anti-heroína original, alguém que os leitores nunca tinham visto e que seria malvado e moderno e totalmente chocante. Talvez a personagem seja ainda mais controversa porque é uma mulher a fazer todas essas coisas terríveis: matar e f**er e consumir drogas. Tradicionalmente, as mulheres são maternais e bem comportadas; são o ornamento de todos aqueles meninos malvados dos livros. Alvie é o oposto. Escrever esta personagem foi muito divertido, mas também uma declaração feminista. Eu queria criar uma protagonista feminina forte e complexa para mostrar que as mulheres também poderiam ser malvadas. Acho que as mulheres se preocupam demais com agirem conforme o "caminho certo" ou com o que outros pensam sobre elas. É refrescante que Alvie não se importe.

A Chloé já confessou ter escrito outras dezenas de livros, nunca terminados. O que foi diferente em 'Louca'?

Comecei a escrever muitos livros ao longo dos anos, mas nunca cheguei muito longe (até ao capítulo dois!) antes de exclui-los. Tinha muitas ideias para histórias, mas odiava sempre a minha própria escrita e era muito crítica com o que escrevia. Adorava o processo criativo, mas não tive confiança para terminar um projecto. Foi só quando me inscrevi num curso de escrita na Faber Academy, em Londres, que tive a estrutura e o suporte para terminar de escrever o meu primeiro romance. Também tive a ajuda dessa personagem, Alvina Knightly, que entrou na minha cabeça e não desistiu. Então, tive de escrever uma trilogia sobre ela. Eu fui raptada!

Recebeu, de facto, 21 propostas para publicar a trilogia?

Sim. Depois de ter apresentado o romance no Dia do Agente da Faber Academy, recebi 21 propostas. Foi de 'louca'!

Se considerarmos que tudo tem um lado sombrio, qual foi a desvantagem de ter os direitos do livro comprados?

Estou completamente apaixonada pela minha nova carreira e escrever a tempo inteiro é o que sempre quis fazer. Honestamente, é o trabalho dos meus sonhos. O único lado sombrio é a pressão do tempo para entregar as obras. Equilibro a escrita com o processo de cuidar das minhas duas filhas, mas todas as mães que trabalham têm os mesmos desafios e não posso reclamar.

Sabia que temuma 'gémea' de nome, uma pentatleta australiana que é medalhista olímpica?

Haha! Sim. Espero que ela goste dos livros! Eu, por acaso, admiro muito as conquistas desportivas da Chloe e tenho certeza de que ela está bem mais em forma [fisicamente] do que eu.

Notícias ao Minuto© Bertrand/Divulgação

'Louca'

Editora: Bertrand

Género: Thriller

Tradução: Fernanda Oliveira

Páginas: 384

Preço sugerido: € 17,70

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