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Potencial dos migrantes está por aproveitar

As sociedades de acolhimento não têm sabido aproveitar o potencial cultural dos migrantes e tanto instituições, como opinião pública "continuam a ter rasgos de xenofobia e racismo", constata o investigador italiano Alessandro Portelli.

Potencial dos migrantes está por aproveitar
Notícias ao Minuto

10:48 - 24/07/14 por Lusa

Cultura Músicas do Mundo

Convidado pelo Festival Músicas do Mundo a falar sobre o projeto "Roma Forestiera", destinado a recolher, arquivar e analisar a música feita pelos migrantes, Alessandro Portelli lamenta que as sociedades que recebem migrantes não percebam a sua riqueza.

"Há uns clichés, uns lugares comuns, agora comemos comida exótica e coisas assim, mas está em curso uma batalha cultural, porque as instituições, a opinião pública, o sentido comum continuam a ter rasgos de xenofobia e racismo", repudia.

Em Porto Covo, onde esteve à conversa com o coletivo lisboeta Unipop, Alessandro Portelli partilhou exemplos de uma outra música. O migrante transporta "para um mesmo lugar (...) uma convergência de músicas, num processo que vai continuar por gerações, anos e anos, e que acabará por criar uma música distinta, com uma multitude de influxos culturais", descreve.

Nem melhor, nem pior. O certo é que nenhuma música será como dantes, depois da viagem. "A perda da pureza é sempre um sinal de maturidade, de nos transformarmos em adultos. Muito se perde e muito se ganha, como em todos os processos de mudança", constata.

"É importante documentar o que se perde, para que fique como recurso cultural, de conhecimento histórico, mas o que é importante é que não se perca a capacidade da gente comum, dos trabalhadores, dos migrantes, de criar e de mudar", sustenta o investigador.

Como italiano e europeu, Alessandro Portelli não pode deixar de ficar chocado perante o drama daqueles que tentam, diariamente, chegar à Europa.

"A política do governo italiano tem sido bastante negativa, às vezes criminosa, de relegar os imigrantes para campos de concentração na Líbia, que ainda existem, e de os chamar hóspedes sem ter um sentido de hospitalidade", denuncia.

As recolhas do projeto "Roma Forestiera" têm sido sobretudo feitas nas ruas, no metro, em igrejas e templos, em protestos políticos, junto de migrantes "de todas as idades, na maioria homens, mas também muitas mulheres, sobretudo de Europa de Leste, e até crianças, filhas de migrantes", relata, confirmando que "há muitíssimos indocumentados".

A experiência do investigador italiano mostra que a lei ainda não se aplica à capacidade de cantar. "Um dos cantores mais extraordinários que encontrei é um refugiado do Norte do Iraque, que não tinha papéis, mas cantava com um anjo", recorda.

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