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Estado do Brasil deve-se à "completa ausência de amor" na política

O músico brasileiro Emicida afirmou, em entrevista à Lusa, que o estado atual do Brasil se deve "à completa ausência de amor direcionando a política pública", frisando que falar sobre amor continua a ser uma emergência no seu país.

Estado do Brasil deve-se à "completa ausência de amor" na política
Notícias ao Minuto

08:23 - 20/10/21 por Lusa

Cultura Emicida

Emicida, que está em Portugal a convite do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra para uma residência artística, lançou em 2019, já com Jair Bolsonaro eleito presidente, o álbum "AmarElo", onde a esperança, o sonho e a compaixão surgem como armas para um momento muito particular da história brasileira.

Em entrevista à agência Lusa, o músico disse que, face à "deterioração completa do tecido social brasileiro", desde o início da criação do álbum que essa mensagem em torno do amor -- uma espécie de "voltar ao básico" -- esteve presente.

"Acho que em outros momentos falar sobre amor era importante, mas num momento como esse, na janela específica de 2018 [eleições] e 2019 [início da presidência de Bolsonaro], - e até agora, infelizmente -, é urgente, é uma emergência, porque se o Brasil chegou até onde chegou é devido à completa ausência de amor direcionando a política pública", salientou.

Emicida realçou que o amor de que fala "não é esse amor 'hollywoodiano'", mas a "capacidade de se sentir compaixão e de se colocar no lugar do outro".

Olhando para trás, o músico considera que é preciso olhar para o fenómeno de Bolsonaro como um cancro, que não está circunscrito apenas às classes mais altas -- aí "talvez conscientemente" -, mas algo que se foi reproduzindo por outras camadas da sociedade.

O presidente do Brasil, na sua ótica, apropriou-se da fragilidade com que o Brasil lida com a sua própria história, aproveitando um momento especial, em que o Partido dos Trabalhadores (PT) de Dilma e Lula estava a ser "escorraçado na 'media' 24 horas" e em que "o mundo inteiro passou por uma espécie de relação abusiva com a construção de fronteiras".

Para o 'rapper', mesmo que Bolsonaro não tenha apresentado "projeto algum", ele existe.

"O projeto é fazer a manutenção do Brasil de maneira a colocá-lo no lugar de colónia eterna. As pessoas que se preocupam com a emancipação do Brasil precisam de produzir uma resposta que consiga conversar com todas as classes da mesma forma e nisso a esquerda tem falhado e acredito que continua a falhar", nota.

Perante essa realidade, Emicida realça que sonhar tem de fazer parte de qualquer luta.

"Qualquer construção que a gente tem ambição de virar em realidade parte de um sonho. O direito de sonhar e o direito de ter esperança são coisas que as pessoas reivindicam porque na verdade é uma estratégia para que o amanhã seja melhor do que hoje", disse.

Apesar da esperança, há também apreensão quando se pergunta por 2022, ano das presidenciais brasileiras, em que se antevê um embate entre Bolsonaro e Lula.

"Acho que 2022 vai ser um ano que vai durar dez anos. A cada dia a gente vai ficar stressado e eu não sei como se vai comportar o Brasil com Bolsonaro no poder. Vai ser um ano em que a gente vai pensar: 'Meu Deus do céu, ainda é fevereiro'", lamentou.

Para Emicida, qualquer ator político que alcance o poder num período pós-Bolsonaro vai "pegar um cenário de terra arrasada".

"A destruição produzida pelo Bolsonaro é uma destruição de gerações. Não sabemos sequer o tamanho do estrago. Qualquer um que chega lá -- e torço para que seja uma pessoa bem-intencionada e com um bom projeto -- vai pegar um cenário de terra arrasada. E é só a partir da constatação do quão arrasado está esse cenário que a gente vai entender quanto tempo vai demorar essa reconstrução", disse.

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