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"Às vezes", Isaura também tem vontade de partir o telemóvel

'Liga-Desliga' é o primeiro single lançado por Isaura desde o trabalho de estreia, 'Human'. Em português, fala sobre desligar o acessório e atentar no essencial, depois de terminada a sua experiência na última edição do Festival da Canção.

"Às vezes", Isaura também tem vontade de partir o telemóvel
Notícias ao Minuto

09:10 - 03/04/19 por Anabela Sousa Dantas

Cultura Isaura

"Quero falar longe daqui; ver-te, porque falo para ti; viver sem tantas coisas; fazer, também, com que me oiças". Depois de 'O Jardim', que escreveu e compôs para a Eurovisão, onde cantou com Cláudia Pascoal, Isaura mantém o tom confessional, mas a paisagem é muito diferente.

'Liga-Desliga', que fará parte, possivelmente, de um EP ainda sem nome, debruça-se sobre as novas tecnologias, mas não só. É o fechar de um importante ciclo da sua vida, o Festival da Canção.

Isaura Santos, de 29 anos, interiorizou tudo o que o certame musical lhe permitiu aprender, sentido-se mais preparada, até, para arriscar o português, cujo uso, segundo indicou a própria ao Notícias ao Minuto, lhe pedia mais maturidade.

Esta canção, lançada em março, fará parte do seu terceiro trabalho, depois de um EP, 'Serendipity' (2015), e de um álbum, 'Human' (2018). Uma das colaborações confirmadas para este novo trabalho é Luísa Sobral, que cantará com Isaura em ‘Uma Frase Não Faz a Canção’, a ser lançada em breve.

'Liga-Desliga' é uma canção que veio no culminar de tudo o que vivi no ano passado, com a Eurovisão

Qual é inspiração por trás de ‘Liga-Desliga’?

É uma canção que veio, um bocadinho, no culminar de tudo o que vivi no ano passado, com a Eurovisão. Não que eu não me apercebesse já disto, mas acho que foi uma altura mais sensível, de frenesim, em que comecei a pensar um pouco na forma como nós agora nos relacionamos com as redes sociais e com a internet e tudo mais.

Comecei a pensar nisso e na minha própria postura no meu círculo de amigos e da minha família. Comecei a aperceber-me como é que nós, às vezes, ao invés de estarmos no café a prestar atenção ao que nos estão a dizer, estamos constantemente a ser interrompidos pelo nosso telefone ou por coisas que nem fazem muito sentido. Essa canção é um bocadinho um apanhado de todas essas coisas de que me fui apercebendo. Não só do quão duro foi essa altura por causa de tudo o que se lia - às vezes, as pessoas têm ideia de que nas redes sociais parece que somos personagens, que está sempre tudo bem. Parece que estamos muito próximos de toda a gente mas ao mesmo tempo tão distantes. A canção é um olhar sobre isso tudo. Quem sabe nos puxa para pensar um bocadinho sobre isso.

Pode dizer-se que às vezes tem vontade de partir o telemóvel?

[Risos] Às vezes, às vezes. Por acaso é engraçado, já me falaram várias vezes sobre a música do Conan, parece que foi combinado. Realmente, quando escrevi a canção, para aí em junho, ainda não conhecia a canção dele. Acho muito interessante ver como pessoas mais ou menos da nossa idade - eu e o Tiago temos mais ou menos a mesma idade -, de alguma forma nos preocupamos com as mesmas questões. A nossa infância, a nossa adolescência foi completamente sem telefones, quando se deu o boom da internet e das redes sociais eu já estava na faculdade. Não sou nativa da internet, lembro-me de ter crescido sem.

As camadas mais jovens já nasceram no meio desta tecnologia.

Gosto de acreditar que os mais novos, os que nasceram já com internet por todo o lado, são muito mais equilibrados do que todos nós. Se calhar, vão ser.

E em relação ao trabalho que virá, o álbum?

Em princípio será um EP, e para mim faz mais sentido que assim seja porque os EP’s são mais uma experimentação. São uma coisa que pode estar menos definida.

É um orgulho ter a Luísa Sobral a cantar neste EP comigoTambém canta em português, que é novo.

Antes de escrever qualquer canção em inglês, já escrevia em português. A minha questão em relação ao português era só que, quando pensava em mim a cantar em português, pensava na Isaura dos 12 ou 13 anos, sentada na cama, a tocar guitarra. Era muito esse tipo de canção. Tinha essa ideia de que, quando fizesse canções em português, se não tivesse a maturidade certa, ia fazer canções assim. De qualquer forma, aquilo que me dá mais prazer é explorar esta sonoridade meio eletrónica e isso era o que queria fazer primeiro, por isso é que acho que usei o inglês primeiro. Quando concluí o ‘Human’, de alguma forma, já estava com mais bagagem. Senti-me com mais coragem de experimentar outras coisas. Ver o que seria a Isaura em português.

E é isso que tenho estado a fazer. Já estão cinco canções concluídas, que imagino que façam parte do EP. Uma delas é uma canção que compus e escrevi com a Luísa Sobral e depois acabei por convidá-la, portanto, em princípio será a próxima canção que irei lançar. É uma canção de que gosto mesmo muito e é um orgulho ter a Luísa a cantar neste EP comigo.

Como se chama?

Chama-se ‘Uma Frase Não Faz a Canção’. Acho que diz tudo. É uma canção que tem múltiplas interpretações, mas para nós, o ponto de partida, foi sermos as duas compositoras e gostarmos de escrever e já termos explorado o inglês. A Luísa já explora o português há muito mais tempo e eu lancei-me agora a essa aventura. E é uma experimentação por isso, porque estou a descobrir caminhos diferentes, caminhos novos dentro do português.

Hoje estou um bocadinho mais preparada para outro desafio que me coloquemAgora, olhando para trás, qual sente que foi o impacto na sua vida e carreira da participação no Festival da Canção?

Para mim, pessoalmente, foi uma experiência enriquecedora, que é completamente diferente de tudo o resto. Nós carregarmos o estandarte de Portugal e podermos representar-nos numa competição como esta. Isso foi uma experiência que dificilmente se volta a repetir.

Em relação ao impacto que teve, no ponto de vista do meu trabalho, deu-me a conhecer a muitas pessoas que dificilmente se iriam cruzar com o meu nome, por eu fazer um estilo de música mais de nicho, que está mais distante do mainstream. Nesse ponto de vista, foi extremamente importante.

Foi positivo?

Foi positivo, porque este tipo de experiências ajudam-nos a evoluir e acho que consigo olhar para trás e perceber que, se calhar, hoje estou um bocadinho mais preparada para outro desafio que me coloquem.

O Salvador foi a prova de que as receitas não fazem sentidoE o Conan? O que acha da participação dele?

É sempre ingrato dar a nossa opinião. Este ano estava lá como jurada, nas semifinais e depois pude estar na final. E este ano houve um ambiente muito bonito entre concorrentes e houve um fenómeno espetacular que foi: as pessoas manifestaram-se. Pegaram no telefone e manifestaram a sua opinião e houve uma decisão esmagadora. Quer dizer que as pessoas estão atentas, têm uma opinião e quiseram valer-se dela.

O Conan é um artista extremamente genuíno, com um carisma gigante e acho que, por isso mesmo, vai representar um outro lado da música portuguesa e do que se faz em Portugal que, se calhar, ainda não foi representado. Acho que isso só pode trazer coisas boas. Mas acima de tudo, o que quero frisar aqui, é que fiquei mesmo muito contente de ver que as pessoas se manifestaram e quiseram levar adiante a sua decisão.

O facto de o Salvador e a Luísa Sobral terem vencido a Eurovisão terá feito com que os portugueses olhassem para o festival de forma diferente, não é?

Claro que sim. O Salvador e a Luísa conseguiram duas coisas: primeiro, trazer este prémio para Portugal; e segundo conseguiram fazê-lo com uma balada, uma canção clássica. Acho que isso prova que Portugal tem bons músicos, bons intérpretes, bons compositores e é preciso ver que existe esse valor cá dentro. Se calhar havia um descrédito geral e, se calhar, também não estavam a ir as pessoas certas. Em segundo lugar, às vezes não interessa o que são os estilos ou os géneros que funcionam ou não. O que funciona é que aquilo que é verdade e que se faz de forma genuína, não é fidedigno acharmos que existe uma receita. O Salvador foi a prova de que as receitas não fazem sentido.

O Conan também não foi unânime…

Sim, não sei. Mas, se calhar, o Conan, com todo o espetáculo que ele cria, até está muito mais próximo da Eurovisão.

Do que estaria o Salvador ou a Isaura e a Cláudia?

Do que estaria o Salvador ou eu e a Cláudia, exatamente. Realmente, as pessoas foram confrontadas com o facto de termos músicos e de termos muito talento em Portugal e fico contente que as pessoas estejam mais cientes disso.

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