5G: Problema não é Huawei mas criar centros de certificação de segurança
O professor universitário e fundador do INESC, José Tribolet, afirmou que a chinesa Huawei não é um problema no que respeita ao 5G, mas que o grande desafio é criar centros de certificação de segurança.
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Tech Tribolet
"A gente tem que dizer isto: não é o problema da Huawei. Está-se a instalar equipamentos nas redes que não têm a certificação adequada", ou seja, "nunca foram testados do ponto de vista de segurança", afirmou o fundador do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC) em entrevista à Lusa.
"Mas só se lembraram agora, sabe porquê? Porque, claro, não queriam que isto existisse antes, senão não podiam fazer a espionagem toda que têm feito, olha que história", prosseguiu, aludindo à questão da Huawei, que envolve os Estados Unidos.
"Estão a armar-se em ingénuos, em virgens violadas? O que é que sucedeu? Isto é o que sempre sucedeu, só que agora são os outros meninos que estão a fazer isto, olha que chatice", comentou.
Sobre se os chineses estão a fazer espionagem, Tribolet está convicto que sim: "Claro que estão, qual é a dúvida? Que esses equipamentos têm essa capacidade, pois têm, mas desde sempre", afirmou.
"Mas não é só com a Huawei. Por que é que eu estou só preocupado com a Huawei? Então e os outros que estão a desenvolver tecnologia? Todos os que desenvolvam esta tecnologia têm a mesma capacidade", argumentou o professor catedrático do Instituto Superior Técnico (IST).
"Se estou a defender o meu país, os meus interesses, eu tenho que assumir a responsabilidade de que o que se mete cá é com a minha autorização" e que cumpre "um conjunto de requisitos", prosseguiu.
"Agora posso dizer assim: 'eu neste momento não sei fazer isso'. Está bem, então vão aprender". Agora, "não vou dizer não, só compra ali ao outro menino que é americano, aquele não, que é chinês", porque isso é "ridículo", ironizou.
Para José Tribolet, "o caminho não é a histeria", mas antes participar e entrar na tecnologia 5G.
"Não vejo nada mal que Portugal queira ter colaboração com a Huawei para desenvolver competências e sinergias em Portugal. Só acho bem", considerou.
Contudo, "independentemente disto com a Huawei" ou com outras entidades, "temos de ter centros de testes, de verificação e certificação destes equipamentos" para "verificar da verdadeira segurança desses equipamentos ou impor um conjunto de restrições aos equipamentos que garantam essa segurança", defendeu.
O professor universitário afirmou que os americanos também "andaram a espiar", nomeadamente o Governo alemão, mais recentemente.
"Qual é a novidade? A novidade aqui é, de repente, perceber que há um parceiro poderosíssimo, com uma indústria poderosíssima que conseguiu entrar, penetrar e ultrapassar as indústrias ocidentais e [isso] realmente demonstra uma grande debilidade do mundo ocidental, mas que já existia, só agora é que está a ficar nua", apontou José Tribolet.
"E a debilidade é esta, é que nós, no Ocidente, somos suficientemente loucos para nas nossas redes de telecomunicações estarmos a instalar equipamentos que não estão devidamente certificados. É extraordinário nós permitimos ligar às nossas redes equipamentos que nunca foram certificados" por entidades independentes.
Questionado se a questão é falta de engenheiros para reforçar a área de segurança, José Tribolet disse que não.
"Sobretudo, implica a vontade política de o fazer (...). Engenheiros há, não é um problema de engenharia. É um problema de a União Europeia (...) armar o seu jogo e decidir fazê-lo. É estabelecer a norma, não entram equipamentos na rede que não sejam certificados", sublinhou.
O presidente do regulador das comunicações norte-americano esteve recentemente em Portugal, onde se reuniu com as autoridades portuguesas, para alertar para o risco de falta de segurança no âmbito do 5G, nomeadamente no que diz respeito à Huawei, com quem a Altice Portugal assinou em dezembro passando um memorando de entendimento para o desenvolvimento desta rede.
Assumindo que os Estados Unidos estão "nervosos" com o "facto de Portugal estar a cooperar com entidades chinesas", José Tribolet considerou positiva a concorrência.
"Se quiserem vir cá entidades americanas ou de outros países também cooperar com Portugal, com o mesmo nível de investimento, façam o favor", rematou.
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