Eleitores reagiram em "sobressalto cívico" contra abstenção
O efeito da pandemia nas presidenciais ainda tem que ser estudado, mas dois politólogos, Carlos Jalali e António Costa Pinto, admitem que os eleitores podem ter reagido em "sobressalto cívico" para votar em maior número no domingo.
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Política Presidenciais
Apesar de a abstenção ter atingido um recorde (60,9%) e de se ter registado o número mais baixo de votantes em presidenciais, o valor da abstenção atingiu o patamar mínimo admitido, antes das eleições de domingo, por Carlos Jalali, professor de Ciência Política na Universidade de Aveiro.
À Lusa, Jalali apontou três fatores possíveis para o facto de ter havido uma queda menor no número de votantes entre uma eleição que escolheu um presidente e uma reeleição.
Por um lado, houve uma "maior polarização destas eleições, que tende a ter um efeito positivo na participação eleitoral" e a "dramatização da abstenção" quando o Presidente e recandidato, Marcelo Rebelo de Sousa, "colocou a possibilidade de haver uma segunda volta com a abstenção mais elevada ou a ideia de que alguns candidatos poderiam ser beneficiados" por ela.
Depois, há o efeito pandemia, que, segundo o professor da Universidade de Aveiro, pode ter gerado "mais interesse na política e nas decisões coletivas" em vez de ter gerado "receio" que pode diminuir a participação dos eleitores.
António Costa Pinto, investigador coordenador no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e professor convidado no ISCTE, considerou, também à Lusa, que "houve de fato um sobressalto cívico" dos eleitores que se mobilizaram para votar nas presidenciais.
E sublinhou que esta vitória de Marcelo teve uma "dimensão transversal", juntando-lhe outros efeitos mobilizadores: a polarização política, que teve o candidato do Chega, André Ventura, um dos seus pólos, impulsionada até pelos debates televisivos, que foram "bastante concorridos".
No entanto, defendeu que o efeito da pandemia necessita de "uma análise mais fina" a ser feita mais tarde pelos investigadores.
Costa Pinto sublinhou que pode ter existido uma "tendência para o declínio na participação eleitoral" em eleições em que o Presidente se recandidata, se se retirar "o efeito técnico da abstenção" com o alargamento, em um milhão de inscritos, com a inclusão de todos os emigrantes.
Tal como Carlos Jalali, António Costa Pinto também anotou que existe "uma progressiva abstenção eleitoral na sociedade portuguesa", nas eleições, presidenciais e outras.
Sobre a análise que fez à abstenção antes das presidenciais de domingo, em que admitiu uma taxa entre 60% e 70%, com base em modelos baseados em resultados anteriores, o professor de Ciência Política de Universidade de Aveiro sublinhou que "os padrões passados não determinam comportamentos futuros, e ainda bem".
"Está nas mãos dos eleitores refazer os padrões, a cada eleição. Foi um pouco isso que aconteceu. Sim, estas eleições tiveram uma abstenção recorde, e houve também um recorde 'negativo' em termos de número de votantes, com o número mais baixo de sempre", admitiu à Lusa.
"Mas, se estas eleições tivessem mantido os padrões anteriores, a abstenção seria bem superior (pelo menos 5-6 pontos percentuais) do que se verificou, e a redução no número de votantes teria sido o dobro do que se verificou", acrescentou.
Marcelo Rebelo de Sousa, com o apoio do PSD e CDS, foi reeleito Presidente da República nas eleições de domingo, com 60,70% dos votos, segundo os resultados provisórios apurados em todas as 3.092 freguesias e quando faltava apurar três consulados.
A socialista Ana Gomes foi a segunda candidata mais votada, com 12,97%, seguindo-se André Ventura, do Chega, com 11,90%, João Ferreira (PCP e Verdes) com 4,32%, Marisa Matias (Bloco de Esquerda) com 3,95%, Tiago Mayan Gonçalves (Iniciativa Liberal) com 3,22% e Vitorino Silva (Reagir, Incluir e Reciclar - RIR) com 2,94%.
A abstenção foi de 60,5%, a percentagem mais elevada de sempre em eleições para o Presidente da República.
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