"Mário Centeno deslumbrou-se com o Eurogrupo. Subiu-lhe o poder à cabeça"
Marques Mendes comentou o desacerto entre António Costa e Mário Centeno, sobre a injeção de 850 milhões de euros no Novo Banco.
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Política Marques Mendes
Marques Mendes começou por apontar que a tensão entre o primeiro-ministro e o ministro das Finanças, que se tornou mais evidente esta semana por causa do Novo Banco, não é novidade, tendo em conta que "há bastante tempo a esta parte" que Costa e Centeno têm "estado em rota de colisão". No entender do comentador, em causa não estão divergências políticas ou programáticas: trata-se, isso sim, de uma "guerra de poder".
"Desde que foi para presidente do Eurogrupo, acho que Mário Centeno se deslumbrou um pouco com o lugar. Subiu-lhe um pouco o poder à cabeça", considerou Marques Mendes, acrescentando que o ministro de Estado e das Finanças "tenta sempre mostrar que manda tanto ou mais que o primeiro-ministro". Algo que não cai bem a "nenhum primeiro-ministro".
Lembrando que os dois governantes já vivenciaram outros conflitos, mais privados do que o que marcou a semana, o social-democrata criticou a atitude de ambos neste caso em particular, considerando que os dois governantes prestaram um "mau serviço" ao escalarem um conflito em público - "uma trica política sem nível e sem utilidade" - numa altura em que o país enfrenta um problema de saúde pública com consequências graves económicas e sociais. "Um e outro não tiveram sentido de Estado, estiveram mal", criticou.
Do ponto de vista analítico, "as responsabilidades não são exatamente iguais", disse Mendes, considerando que Centeno "é mais culpado do que Costa" neste conflito, embora o ministro das Finanças tenha razão "na questão de fundo" quando defende não ser necessária uma nova auditoria para se poder pagar os 850 milhões de euros ao Novo Banco. Mário Centeno "tem razão na argumentação técnica", uma vez que a injeção ao banco é uma norma do contrato.
O ministro das Finanças "tinha razão e perdeu-a logo a seguir pelo seu comportamento", analisa o social-democrata. No seu entender, Centeno "foi desleal" duas vezes com o primeiro-ministro.
Foi desleal num primeiro momento, quando Costa afirmou, no Parlamento, o compromisso de não fazer a transferência para o Novo Banco antes de conhecido o resultado da auditoria. Nessa ocasião, o ministro das Finanças devia ter alertado o primeiro-ministro que tal não seria possível tendo em conta as normas do contrato. "Teve duas semanas para poder fazer isso. Não só não fez isso como deixou o primeiro-ministro, no debate seguinte, enterrar-se ao comprido", notou o comentador, considerando que Centeno "desautorizou" Costa em público.
O segundo momento em que Centeno foi desleal, na ótica de Marques Mendes, foi na entrevista à TSF, e depois na audição parlamentar, quando o governante desvalorizou o facto de ter existido uma falha de comunicação, colocando o foco na responsabilidade de fazer a transferência para o Novo Banco. "Não se faz isto a um primeiro-ministro" em público.
Marques Mendes comentou ainda a intervenção do Presidente da República no caso. "Era preferível que não tivesse feito", disse, sublinhando, contudo, não ter sido grave, uma vez que os comentários que Marcelo fez se enquadram no seu estilo.
O comentador acredita, por fim, que Mário Centeno vai ficar no Governo apenas até ao verão, depois de terminar o mandato no Eurogrupo (a meio de julho). "Ele vai sair, mas não é por causa deste episódio, vai sair porque está combinado com o primeiro-ministro há muito (...) Centeno há muitos meses que manifestou intenção de sair por razões pessoais".
Para onde vai, "ainda não está totalmente definido". Sustentando que Centeno "gostaria de um cargo internacional" que neste momento não existe, Marques Mendes apontou que "à mão de semear só há um lugar" para o ainda ministro: o Banco de Portugal. O social-democrata não tem dúvidas, se o ministro das Finanças for governador, "será um bom governador". "O problema de Mário Centeno não é de competência, é de feitio, tem um problema difícil com a lealdade e, às vezes, com o carácter", sublinhou.
Por outro lado, se chegar a esse cargo, "será uma dor de cabeça para o governo de Costa", uma vez que "sai furioso e ferido no seu orgulho". Marques Mendes frisou ainda que a sua saída será um problema para o Executivo socialista. "É um trunfo forte no Governo" e "não vai ser fácil substituí-lo".
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