Joaquim Jorge, fundador do Clube dos Pensadores, faz a sua leitura destas eleições legislativas em que o PS saiu vencedor (mas sem maioria absoluta), e o PSD e CDS derrotados. Pelo caminho, há três partidos a estrear-se no Parlamento. A elevada abstenção, a mais alta de sempre em legislativas, é outro assunto em análise.
"O PS ganhou claramente, mas não pode fazer o que quer”, constata Joaquim Jorge, concluindo que os portugueses não querem mais maiorias absolutas, como não querem mais tempos de austeridade e troika.
Joaquim Jorge considera que António Costa teve “uma vitória expressiva”, em parte, porque os portugueses não tiveram em conta polémicas como “o familygate, a proliferação de familiares e amigos no Governo, o assalto de Tancos, uma ópera de bufos onde o Ministro da Defesa foi imputado com quatro delitos e o seu arremesso intempestivo para um cidadão na rua”.
“A sua habilidade para sair ileso de todas estas situações é quase infinita, mas na próxima legislatura não vai chegar somente habilidade”, prevê.
Tendo em conta os resultados deste domingo, “o PS vai realizar uma nova carambola governativa e pode decidir com quem quer governar ou com o PCP ou BE ou com os dois juntos incluindo PAN e Livre”, sublinha.
A outra face da noite eleitoral foi o “descalabro da direita”, que fez com que “rolasse, para já, uma cabeça” - Assunção Cristas. No entanto, o biólogo antevê “outras turbulências”. “Os críticos do PSD não se vão ficar e vão querer apear Rui Rio”. Miguel Relvas, por exemplo, já se manifestou esta segunda-feira, defendendo um novo rumo para o PSD: novo líder e nova equipa.
Todavia, “o PSD, para o que se vaticinava, não se saiu mal, mas os portugueses ainda têm na mente a austeridade imposta por Pedro Passos Coelho que foi para além da troika”, analisa, concluindo que “os portugueses não querem ter uma vida com cortes”, mas sim “uma vida com esperança e com algum dinheiro nos bolsos”.
Quem também se deverá despedir da liderança do partido, na opinião de Joaquim Jorge, é Jerónimo de Sousa. Mas essa não será uma consequência do resultado.
Sobre a abstenção, que bateu recordes (45,5%) e que é um “mal crescente na nossa democracia”, Joaquim Jorge entende que “o mal está em muitos políticos que temos e no que fazem”.
“A democracia funciona, se há abstenção a culpa não é do povo. Eu sugiro mudar de muitos políticos, porventura esses políticos querem mudar de povo porque o povo não vota, tem de se analisar e perceber porque o fazem”, defende.
Joaquim Jorge realça que o povo não vota por “variadíssimas razões”. A maior, no entendimento do fundador do Clube dos Pensadores, é que “há uma desconfiança em tudo relacionado com política que é alarmante e mostra a incapacidade dos políticos em lidar com isso e atrair eleitores”.