Remodelação no Governo. Do "dar a mão à palmatória" à "vida no convento"
Se a saída de Azeredo Lopes do Governo era previsível e até esperada, as restantes mudanças ninguém as conseguiu prever. Ao mesmo tempo que o Governo aprovou a proposta do Orçamento do Estado para 2019, António Costa anunciou uma remodelação de fundo: reduziu de 17 para 16 o número de ministros, aumentando de três para cinco o número de ministras. Há ainda acumulações de cargos e um total de quatro caras novas no Executivo (excluindo secretários de Estado).
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Política Reação
A demissão de Azeredo Lopes, ministro da Defesa, era já mais do que esperada. O escândalo envolvendo o Exército e as armas roubadas em Tancos diminuíram substancialmente a esperança média de vida deste ministro no cargo, sendo que na sexta-feira acabou mesmo por pedir a demissão.
O primeiro-ministro aceitou o pedido e aproveitou o momento para refrescar a sua equipa de ministros, isto quando falta cerca de um ano para as eleições legislativas.
Da tutela da Defesa saiu Azeredo Lopes para dar lugar a João Gomes Cravinho; na Saúde Adalberto Campos Fernandes não resistiu às greves e cativações e foi substituído por Marta Temido.
Quem também não chega ao fim da legislatura é Manuel Caldeira Cabral que se vê obrigado a passar a pasta da Economia a Pedro Siza Vieira que, desta forma, vai acumular a função de ministro e de ministro-Adjunto.
Por fim, a Cultura também não resistiu ao 'furacão' que atingiu o Governo e Luís Filipe Castro Mendes é substituído no cargo por Graça Fonseca.
De referir ainda o facto de a secretaria de Estado da Energia sair da alçada do Ministério da Economia e passar para a do Ambiente, o que leva à alteração do nome da tutela para Ministério do Ambiente e da Transição Energética.
Para Rui Rio, António Costa "deu razão ao PSD" ...
Rui Rio diz que "na Defesa, o país está pior hoje, do que estava há três anos"© Global Imagens
O líder do PSD reagiu à remodelação do Executivo em conferência de imprensa marcada para a cidade do Porto. Rui Rio descreveu esta remodelação governamental como uma forma de o primeiro-ministro “dar a mão à palmatória”, reconhecendo a razoabilidade das críticas feitas pelo PSD aos ministros agora fora da constituição governamental.
“O primeiro-ministro acaba por reconhecer aquilo que nós temos dito, de certa forma", afirmou Rui Rio.
... e Assunção Cristas aponta a "prova dos nove"
A remodelação, diz Cristas, "não é um reforço nem um exercício de autoridade"© Global Imagens
A líder centrista desvalorizou a alteração de ministros, considerando que a mesma só é feita “por arrasto” do caso do furto de Tancos. Em declarações no encerramento da escola de quadros da Juventude Popular, em Peniche, a líder do CDS sublinhou que as mudanças foram feitas com “prata da casa” e “sem rasgo”, o que é a “prova dos nove da extraordinária fragilidade do primeiro-ministro”.
"Quem sabe da vida do convento é quem lá vai dentro"
A preocupação do PCP é "saber que política esse Governo remodelado vai realizar"© Global Imagens
Já Jerónimo de Sousa não quis "individualizar responsabilidades", frisando que “tanto o momento como a opção cabem ao primeiro-ministro”.
Defendendo que não é seu papel “fazer um juízo de valor”, o líder do PCP disse ainda, à margem de uma homenagem a José Saramago, em Lisboa, que "quem sabe da vida do convento é quem lá vai dentro", garantindo não ter sido informado antecipadamente desta remodelação durante as reuniões para discutir o Orçamento do Estado.
"O que importa é que os dossiês que estão em negociação e em aberto continuem esse trabalho", deixou claro a líder do Bloco© Global Imagens
A mesma tónica de discurso verificou-se nas palavras de Catarina Martins. A coordenadora do Bloco de Esquerda desvalorizou o sucedido, lembrando que as “remodelações dos governos são normais, são naturais” e garantindo que o que importa “não são os nomes”, mas as “decisões que aí vêm”.
Ainda assim, Catarina Martins admitiu que esta remodelação “apanha o país um bocadinho desprevenido”.
O timing foi inteligente ou "pouco adequado"?
André Silva não deixa escapar a inteligência política do momento © Global Imagens
André Silva, o único representante parlamentar do Partido Pessoas – Animais – Natureza, considerou que o “Governo escolheu a melhor altura porque consegue que a remodelação não fique no centro da atualidade política”, pois “estamos em pleno debate do Orçamento do Estado para 2019”.
"A mudança de ministros não tem correspondido a mudanças de políticas", acusa Heloísa Apolónia© Global Imagens
Heloísa Apolónia foi a única líder partidária a criticar o momento escolhido para esta ‘dança das cadeiras’.
“As vésperas da entrega e discussão do Orçamento não parece ser o momento mais adequado para remodelações governamentais, tendo em conta a necessidade que o Parlamento tem de esmiuçar as diferentes estratégias e rubricas e que o fará agora com ministros que não participaram na elaboração desse documento”.
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