Meteorologia

  • 10 MAIO 2024
Tempo
21º
MIN 16º MÁX 28º

Esquerdas do Brasil, Espanha e Portugal unidas em Lisboa pela democracia

Lisboa serviu de ponto de encontro.

Esquerdas do Brasil, Espanha e Portugal unidas em Lisboa pela democracia
Notícias ao Minuto

20:21 - 12/04/18 por Lusa

País Encontro

Representantes das esquerdas do Brasil, Portugal e Espanha juntaram-se hoje em Lisboa numa iniciativa comum, justificada pelos recentes desenvolvimentos no Brasil, com a detenção do ex-Presidente Lula da Silva.

Guilherme Boulos, candidato presidencial do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) e dirigente do Movimento dos Sem Teto, e Tarso Genro, dirigente do Partido dos Trabalhadores (PT), o partido de Lula, e ex-governador do estado de Rio Grande do Sul, apresentaram mensagens no encontro, realizado no palco do Teatro Capitólio, no parque Mayer em Lisboa e perante uma sala a abarrotar, e em que estiveram igualmente presentes o líder do Podemos espanhol, Pablo Iglésias, e a dirigente do Bloco de Esquerda, Catarina Martins.

"A mensagem que queremos deixar é que o Brasil vive hoje a mais grave crise democrática dos últimos 30, 40 anos, desde o fim da ditadura militar. E essa crise expressa-se numa escalada da violência política que teve como símbolo o assassinato de Marielle", referiu em declarações à Lusa Guilherme Boulos nos bastidores do teatro e pouco antes do início da sessão, com intervenções do sociólogo Boaventura Sousa Santos e Pilar del Rio, presidente da Fundação José Saramago.

"Estamos aqui para exigir em todo o mundo justiça para Marielle. Ainda não sabemos quem mandou matar, e queremos saber", assinalou, numa referência ao recente assassínio da vereadora e ativista brasileira Marielle Franco no Rio de Janeiro.

"E segundo, que existe um sistema judiciário atribuindo para si todas as funções e desrespeitando a Constituição e a democracia brasileira. O maior símbolo disso hoje é a prisão de Lula, e viemos aqui exigir a liberdade de Lula, que é um preso político. Estas são as mensagens que vimos trazer", prosseguiu o candidato presidencial do PSOL.

O líder do PSOL, uma rutura que surgiu no interior do PT, tinha admitido no final de março que o seu partido negociava uma posição conjunta com outros partidos da esquerda para uma união contra os ataques à democracia, na sequência do assassínio de Marielle Franco, e dos ataques a tiro contra a caravana eleitoral de Lula no sul do país, antes da ordem de detenção.

"Neste momento estamos a construir uma frente democrática, que não é uma frente eleitoral. Na esquerda existem diferenças de visões, de pontos de vista, de projetos políticos, e achamos legítimo que seja assim. O pensamento único não faz parte da nossa tradição, como a intolerância e a adversidade não fazem parte da nossa tradição", revelou.

O dirigente e ativista denuncia o "assassinato político da Marielle" e a "uma prisão política do Presidente Lula", denotando um processo de "regressão democrática" no Brasil, com "um avanço do ódio, o avanço de práticas fascistas, comandantes militares começando a palpitar e a envolver-se na vida política nacional de maneira aberta. Isso é grave e exige de nós maturidade, firmeza, para se unir uma frente democrática".

O objetivo da frente em formação, que vai englobar "partidos políticos progressistas, candidatos à presidência da República, movimentos sociais, artistas, intelectuais", é ser "ampla" e com implantação social.

"A proposta desta frente é criar um grande polo de resistência aos retrocessos democráticos no Brasil, seja por mobilizações de rua seja com denúncia internacional, como estamos fazendo hoje, e dialogando com um conjunto de organizações democráticas e de esquerda no mundo inteiro".

Ao comentar as previsões de diversos observadores da política brasileira sobre uma eventual campanha eleitoral violenta, Guilherme Boulos considera que é o "outro lado" que está a sinalizar essa possibilidade.

"Matam pessoas, prendem pessoas, e isso mostra que o nível da campanha no Brasil pode descer muito e pode degenerar para uma violência política ainda maior", assinalou o candidato presidencial.

"É preciso mais do que nunca existirem setores da sociedade que chamem à razão de unidade, que defendam a constitucionalidade, o debate democrático, e não que o debate se torne violência. A nossa frente também busca evitar isso".

No início da sessão, uma menagem áudio de Manuela D'Ávila, candidata do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) que não pôde estar presente já tinha lançado o mote: "Seguiremos lutando, resistindo e denunciado, e a solidariedade que fazem em Portugal é muito importante para nós".

A presidente do PSOE espanhol Cristina Narbona, que também acabou por não confirmar a presença, enviou uma mensagem em defesa de democracia e pela "formação de um grande espaço de convergência das forças progressistas".

Todas as intervenções foram centradas na defesa da democracia, e nos desafios que hoje enfrenta o Brasil, em plena turbulência política e com um decisivo calendário eleitoral.

"Pretende-se a destruição do pacto social brasileiro instaurado pela Constituição de 1988 (...) através de legislação ordinária que é nitidamente inconstitucional. Esse foi o objetivo do golpe [que destituiu a Presidente Dilma Rousseff, sucessora de Lula], reduzir os direitos dos aposentados", frisou Tarso Genro na sua intervenção, onde também alertou para os perigos que hoje representa a extrema-direita no seu país.

A iniciativa de hoje foi organizada por Pilar del Rio, presidente da Fundação José Saramago, e por Boaventura Sousa Santos, so Centro de estudos Sociais da Universidade de Coimbra.

Recomendados para si

;
Campo obrigatório