Máquinas que roubam trabalho "deviam pagar impostos"
O reitor da Universidade de Coimbra (UC), João Gabriel Silva, defendeu hoje que as máquinas deveriam pagar impostos para se garantir uma situação de "neutralidade fiscal" em relação ao trabalho humano.
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Num mundo em que o avanço da tecnologia e, consequentemente da automatização, vai continuar "a destruir mais depressa [empregos] do que aqueles que constrói", será necessário garantir uma "situação de pelo menos igualdade, ou de neutralidade fiscal", entre as máquinas e os humanos, afirmou João Gabriel Silva.
"Num ambiente em que a geração atual deve pagar as pensões daqueles que estão aposentados, então nos casos em que objetivamente a máquina substitui as pessoas, essa máquina deve contribuir para as pensões dos que estão aposentados", disse o reitor da UC, dirigindo-se para uma plateia de jovens que vai participar na simulação da Conferência Internacional do Trabalho (CIT) em Coimbra.
João Gabriel Silva, engenheiro informático de formação, utilizou o exemplo das cabines das portagens das autoestradas para questionar o porquê de as máquinas que substituem as pessoas não pagarem "Taxa Social Única".
"Acho que deviam pagar", sublinhou, recordando que os encargos das empresas com impostos sobre o rendimento, bem como com a taxa de Segurança Social, "desapareceu" nesses casos.
Do ponto de vista fiscal, existe nestas situações "uma motivação económica enorme para a substituição de uma pessoa por uma máquina", constatou, considerando que a "desvantagem fiscal dos humanos nos postos de trabalho é brutal".
"No limite, as máquinas deviam pagar impostos e o trabalho humano devia estar livre de impostos. Aí, estaríamos de facto a defender-nos", realçou João Gabriel Silva, desejando que se encarasse de frente a automatização e que se começasse a pensar em pôr as pessoas "em pé de igualdade concorrencial com as máquinas".
O reitor da Universidade de Coimbra falava durante a sessão de abertura da simulação da Conferência Internacional do Trabalho (CIT), iniciativa que se realiza pela primeira vez na Europa e que é "inédita" em contexto universitário.
Na sessão, esteve também presente o ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, José Vieira da Silva, que, em declarações aos jornalistas, descartou a possibilidade de se taxarem as máquinas.
Essa solução iria "onerar a fiscalidade das empresas", realçou, considerando que taxar "mais intensamente as empresas que mais se modernizam" não seria "um bom caminho", podendo "dificultar o progresso", que tem os seus riscos, mas também "muitas vantagens".
A simulação da CIT arranca hoje, com a primeira sessão plenária, e termina a 30 de novembro, com as conclusões da simulação da CIT.
Durante a sessão de abertura, a diretora da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC), Teresa Pedroso Lima, propôs que fosse criada a Cátedra da Organização Internacional do Trabalho (OIT) na Universidade de Coimbra.
A dinamização dessa mesma cátedra na FEUC permitiria "fomentar a investigação e desenvolvimento de competências para a compreensão de múltiplas questões que desafiam o mundo do trabalho", convidando "cientistas de alto perfil e com reconhecimento internacional", explanou.
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