Os prejuízos, disse um responsável à agência Lusa, são de 25 milhões de euros para estes concelhos dos distritos de Viseu, Guarda, mas também Vila Real.
"Podemos estar a falar em mais de 80% da área afetada, só dos castanheiros Martaínha, entre cinco a seis mil hectares. Isto é uma brutalidade e coloca em risco a DOP dos Soutos da Lapa", afirmou José Gomes Laranjo.
Este professor na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro tem dedicado parte da vida ao estudo da fileira da castanha, em especial à variedade Martaínha. É também dirigente da Associação Portuguesa da Castanha (RefCast).
Com esta destruição, está "também em risco muito do que é a fileira da castanha", nomeadamente na "janela da comercialização de outubro, em que a Martaínha é a principal variedade" no mercado.
"Este ano vamos ter pouca ou quase nenhuma Martaínha. Agora, vamos ver como é que o país vai responder a esta ausência da castanha", questionou.
E, "pior ainda", como é que o produtor vai sobreviver, já que, pelas suas contas, "isto vai causar um impacto muito grande na produção" desta variedade de castanha.
"Podemos estar a falar, e acho que não devo ter medo de dizer isto, de um impacto na ordem das seis a sete mil toneladas de castanha, em grosso modo. Ou seja, qualquer coisa como 22 a 25 milhões de euros (ME) de rendimento que este ano não vai existir", contabilizou.
Uma conta feita para o ano de 2025, mas que perdurará no tempo, já que "o castanheiro não é uma árvore que cresça e produza de um ano para o outro, demora, no mínimo, cinco, seis anos" a dar fruto.
Este especialista acrescentou que a plantação de um souto "e a entrada de produção até ao estado adulto pode levar, atualmente, entre 12 e 15 anos", que "é muito tempo".
"Ou seja, as contas são do que não vai ser produzido este ano. Agora a questão é: e no futuro? Como é que vamos recuperar o mais possível os castanheiros que podem ser salvos? Se é que ainda podem ser salvos alguns".
Isto porque nos limites dos soutos com os pinhais, a zona denominada de bordadura, os castanheiros "arderam por completo" e aí não se devem salvar, "porque o impacto com o incêndio foi bem maior e estão irremediavelmente perdidos".
"Só na bordadura devem estar uns 30% de soutos. Nos outros não se perde em tentar", defendeu.
Neste sentido, aconselhou todos os produtores a "regarem os seus soutos".
"O castanheiro é uma madeira com uma carga térmica muito grande e de combustão lenta, por isso, é possível que, mesmo já não havendo chamas, os troncos estejam a arder por dentro, daí também o conselho de os regar e dar-lhes água", justificou.
Segundo José Gomes Laranjo, os Soutos da Lapa foram atingidos, principalmente, nos concelhos de Sernancelhe e Penedono, no distrito de Viseu, Aguiar da Beira, Trancoso e Mêda, no distrito da Guarda, e ainda em Vila Real.
Os Soutos da Lapa foram atingidos pelo incêndio que teve origem em dois focos -- Sátão (distrito de Viseu) e Trancoso (distrito da Guarda) -- e na sexta-feira tornou-se um só, que se alastrou a 11 municípios dos dois distritos.
Este complexo de incêndio entrou em resolução às 22:00 de domingo.
Os 11 municípios são Sátão, Sernancelhe, Moimenta da Beira, Penedono e São João da Pesqueira (distrito de Viseu); Aguiar da Beira, Trancoso, Fornos de Algodres, Mêda, Celorico da Beira e Vila Nova de Foz Côa (distrito da Guarda).
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