Numa nota publicada no site da Presidência da República, Marcelo Rebelo de Sousa lembra que Mário Martins foi "um homem que fez as coisas acontecer".
"Dizer apenas que produziu discos de José Cid, Marco Paulo, Carlos Paião ou Rui Veloso é pouco: foi coautor, cúmplice e amigo destes e de outros músicos, incluindo Amália Rodrigues, tornando-se uma referência fundamental da música popular portuguesa do último meio século", refere a nota.
Como diretor artístico da Valentim de Carvalho, Mário Martins gravou com muitos nomes do fado e da folk e ficou conhecido pela "defesa intransigente dos artistas com quem trabalhava, alguns dos quais lhe devem os seus maiores sucessos", acrescenta.
Mário Martins faleceu na quinta-feira, aos 90 anos, numa unidade hospitalar em Lisboa.
O produtor discográfico foi responsável por dar a conhecer ao público nomes como Carlos Paião (1945-1988), José Cid, Marco Paulo (1945-2024) e Rui Veloso.
Nos finais da década de 1970, foi ainda o responsável pela assinatura do contrato de António Variações (1944-1984) com a discográfica Valentim de Carvalho, tendo o seu nome estado ligado às carreiras de muitos outros artistas portugueses, de Amália Rodrigues (1920-1999) a Simone de Oliveira e Frei Hermano da Câmara.
Nascido em Lisboa, em 1934, Mário Martins incentivou também artistas como Lara Li, Paco Bandeira e José Alberto Reis, de quem se tornou amigo.
O produtor discográfico privilegiou sempre "o lado profissional, mas houve casos em que se construiu uma amizade", como disse numa entrevista à agência Lusa na década passada, dando como exemplo a declamadora Maria Germana Tânger, o músico José Cid, que sempre o convidava para assistir aos seus espetáculos, e o cantor José Alberto Reis.
Mário Martins foi durante cerca de 30 anos responsável pelo departamento de Artistas e Reportório (A&R) da editora discográfica Valentim de Carvalho, onde começou a trabalhar em 1966, a convite de João Belchior Viegas, agente artístico de Amália Rodrigues.
Graças à sua intervenção, Amália Rodrigues - a quem Mário Martins se referia como "o verdadeiro milagre português" - gravou, em 1982, "O Senhor Extraterrestre", de Carlos Paião (1957-1988), artista que passou a constar do catálogo da Valentim de Carvalho.
Mário Martins desenvolveu também a faceta de poeta e escreveu para Amália, mas a sua timidez impediu-o de mostrar o poema à fadista e foi gravado por Beatriz da Conceição, em 1967, "porque faltava um tema para fechar o disco".
Além do seu trabalho na Valentim de Carvalho, colaborou com a apresentadora de televisão Teresa Guilherme, na RTP e, mais tarde, foi convidado pelo realizador televisivo José Nuno Martins, para fazer um programa de sua autoria na RTP.
Na TVI foi o autor e apresentador do programa "Fado Fadinho" (1993), pelo qual recebeu um Prémio Bordalo.
Em 1993, saiu da Valentim de Carvalho para a Movieplay Portuguesa, onde coordenou a série "O Melhor dos Melhores" (1994), que reuniu êxitos de cerca de 100 artistas nacionais.
Nesta discográfica produziu, entre outros, o disco "O Outro Lado do Fado" (2005), de Lenita Gentil, que recebeu, em 2006, o Prémio Amália Rodrigues para Melhor Álbum do Ano.
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