Combate à desinformação deve ser objeto de estratégia clara da RTP

A presidente do Conselho de Opinião (CO) da RTP, Deolinda Machado, defende, em entrevista à Lusa, que o combate à desinformação deve ser objeto de uma estratégica clara do grupo de rádio e televisão público.

Entrevista: Deolinda Machado, presidente do Conselho de Opinião da RTP

© Lusa

Lusa
14/08/2025 06:12 ‧ há 1 hora por Lusa

País

RTP

"Nós dissemos isso no nosso parecer, que é público também, e dizemos que esse combate à desinformação deverá, de facto, ser objeto de uma estratégia clara da própria empresa, no sentido de criar programas para esse efeito", sublinha a presidente do Conselho de Opinião (CO) da RTP.

 

Para Deolinda Machado, não pode ser "uma leve linha, apenas para se dizer que, efetivamente, se teve em conta" o tema do combate à desinformação.

Aliás, é "demasiado importante e é grave a desinformação que ocorre e que confunde as pessoas e nós temos a obrigação, o serviço público tem a obrigação de esclarecer devidamente as pessoas daquilo que são as notícias falsas e o que não são e como ir às fontes e como saber selecioná-las e saber distinguir", prossegue a responsável.

E também "não repetir mensagens", mas ir atrás e ver a sua veracidade.

Trata-se de programas que precisam de ser "pensados para este efeito, para combater a desinformação e também ajudar à literacia mediática porque a aprendizagem faz-se todos os dias", refere a presidente do Conselho de Opinião, cujo atual mandato terminou.

Esta aprendizagem faz-se nas escolas, "mas não só" e a "RTP tem esta obrigação maior", salienta.

"É preciso investir muito mais" na RTP

Obrigação essa que só será possível se houver um investimento no canal público.

A presidente RTP considera ainda que a reorganização da empresa é importante, mas sem investimento não é possível, salientando que a diáspora está disponível para investir no país.

Questionada se a rádio pública precisa de mais investimento, Deolinda Machado recorda que o Conselho de Opinião "há muito" que defende que "é preciso investir muito mais".

Até porque "a rádio que tem uma rede de emissores pelo país, que é pública e precisa, de facto, de grande investimento tecnológico", mas "sabemos que os investimentos, infelizmente, têm vindo a ser reduzidos", acrescenta a presidente do órgão, cujo mandato terminou.

Neste momento, o Conselho de Opinião tem uma reunião pedida ao ministro da tutela, António Leitão Amaro, e aos partidos com assento parlamentar.

"Onde iremos colocar, precisamente, as questões que decorrem das audições que temos vindo a promover, porque consideramos que são importantes a reorganização que se quer levar a cabo, mas sem investimento ela não é possível", aponta.

"A democracia não se faz sem liberdade de expressão, não se faz sem liberdade de informação, sem a credibilidade que ela encerra e os meios [que] têm que estar ao serviço da democracia", aponta.

Se a democracia custa dinheiro? "Pois, claro, custa, mas é o bem maior que temos e é nesse que temos de investir", insiste.

Por exemplo, a contribuição para o audiovisual (CAV) que financia a RTP - cujo valor vem nas faturas de eletricidade - não é atualizada "desde 2017", são "quase 100 milhões de euros que a RTP tem por direito, mas que não se cumpriu" o que a lei exige, aponta.

Por outro lado, "as obrigações de serviço público constantes do contrato de concessão (...) e decorrentes também da Constituição da República efetivamente exigem que a cultura e a língua sejam difundidas e o mais amplamente possível", recorda.

Conselho de Opinião sabia que as chefias da RTP iam ser alteradas

Quanto à reorganização da RTP, que levou à mudança de chefias, a responsável salienta que era necessária e que o CO sabia que estava a ocorrer.

"No entanto, é preciso que ela, de facto, tenha humanização, que ela envolva toda a gente, e houve quadros que não foram envolvidos, e isso é pena, porque isso fragiliza", considera, apontando que há pessoas "que estão na empresa há 30, 40 anos" ou mais e é "importante que elas próprias, tendo elas dado para a prossecução destes objetivos, nomeadamente da difusão da cultura e da língua" sejam mais envolvidas.

"Algumas foram um bocadinho, outras foram menos, outras não foram, atempadamente", diz, sublinhando que "a construção conjunta, geralmente, resulta mais".

Aquilo que "nos foi referido foi: o 'timing' em que ocorreu é que foi menos positivo. O 'timing' e o processo, a forma (...) podia ter sido diferente", sublinha.

De qualquer modo, "o que falta é, efetivamente, o investimento", reforça a responsável.

Opinião de Deolinda Machado sobre o impacto da Inteligência Artificial

Quanto ao impacto da inteligência artificial (IA), Deolinda Machado considera que ainda se está "num momento de conhecimento".

Ou seja, "ainda não temos uma ideia do que pode efetivamente ser".

Agora, como princípio "é sempre bom, depende da forma como se usa", diz, porque toda a evolução é boa.

"Nós hoje não usamos a máquina de escrever, foi aí que eu comecei a fazer a datilografia", até se fazia um curso, mas agora "não uso a máquina de escrever, tenho-a lá guardada como museu", aponta.

A presidente do Conselho de Opinião da RTP, cujo mandato terminou, salienta que o algoritmo da IA é criado com base num pensamento, com um objetivo: "E qual é?", questiona.

"Isso é que precisamos saber. Com que objetivo? É para servir a população? É para informar com clareza, com verdade?", questiona-se, referindo a importância de se fazer a verificação de factos.

No entanto, admite que a inteligência artificial é uma ferramenta que "pode ajudar imenso".

Por exemplo, "numa leitura de N documentos, dando-lhe o algoritmo certo, a indicação certa, ele vai fazer aquela reunião de documentos, desde que a pergunta seja bem feita", prossegue.

"Também precisamos estudar mais filosofia, para saber fazer melhor perguntas, porque (...) são mesmo as perguntas que importam", refere.

E, depois, é preciso "ir verificar", esse trabalho não vai ser dispensado, na minha ótica" e na "reflexão que temos feito".

Em suma, "acho que temos muito mesmo, muito a aprender", contudo, a inteligência artificial "é boa", agora "depende do uso que soubermos dar", remata.

Leia Também: Membros eleitos do CR pedem que RTP exija acesso de jornalistas a Gaza

Partilhe a notícia

Escolha do ocnsumidor 2025

Descarregue a nossa App gratuita

Nono ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.

* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com
App androidApp iOS

Recomendados para si

Leia também

Últimas notícias


Newsletter

Receba os principais destaques todos os dias no seu email.

Mais lidas