A investigadora de comunicação política da Universidade de Lisboa Susana Salgado verifica, na atual corrida eleitoral, "a circulação de sondagens falsas nas redes sociais, realizadas por empresas não credenciadas junto da ERC [Entidade Reguladora da Comunicação] e cuja metodologia poderá não ser fidedigna".
Recentemente, a ERC referiu que no contexto das eleições legislativas de 18 de maio "tem identificado a publicação de alegados estudos de opinião eleitorais, nas redes sociais, que não correspondem a sondagens realizadas por empresas credenciadas junto da ERC". Susana Salgado acrescenta ainda que "a produção de sondagens diárias também não é propriamente uma boa decisão editorial, uma vez que só por si pode ter esse efeito de manipulação (mesmo que não seja propositado)".
Por seu turno, para o professor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro João Pedro Batista o tema da imigração procura "normalizar ou legitimar determinados discursos, nomeadamente para criar ambientes de insegurança", aproveitando este receio para influenciar a estabilidade dos portugueses, referindo que "a desinformação é muito oportunista, no que diz respeito aos temas, à cobertura que se faz e vive muito do momento e da situação".
Também a professora da Universidade Lusófona e Universidade Nova de Lisboa Sara Pina considera que, "em termos de mensagens recentes da campanha eleitoral, a imigração é um bom exemplo", explicando que estabelecer uma correlação entre a imigração e o aumento da criminalidade é uma "avaliação causa-efeito ignorante, é errado, é falso, mas muito fácil de se fazer".
Por sua vez, o vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa, Nelson Ribeiro, explica que "há muito eleitorado que sente que o seu estilo de vida está ameaçado e, portanto, é preciso apresentar quem é que são os bodes expiatórios e tem de ser sempre alguém que seja facilmente identificável", por exemplo os imigrantes.
Se as pessoas já sentem algum desconforto com tema, "mais facilmente vão acreditar em algum conteúdo falso que possa estar a circular", dizendo "que, outros partidos, nomeadamente o PS e o PSD, durante vários anos ignoraram o tema", contribuindo para o atual panorama.
"Havia, de facto, uma perceção social de que alguma coisa não estava bem com a imigração. E os dois maiores partidos durante muito tempo disseram: 'não, está tudo ótimo, não há nenhum problema, está tudo controlado'. Portanto, a partir do momento em que se assume algum descontrolo, isso abre uma brecha para a circulação da desinformação", disse Nelson Ribeiro.
Um relatório recente do MediaLab menciona, por exemplo, que "foi identificada a disseminação de um vídeo com alegações infundadas relativamente ao número de imigrantes em Portugal", cujo áudio "é supostamente de um segurança que trabalha na Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA)", que alega que o número de imigrantes em Portugal em abril de 2025 era de mais de 1,9 milhões.
Dados preliminares da AIMA, divulgados no início deste mês, indicam que, no final de dezembro de 2024, estavam registados em Portugal 1.546.521 cidadãos estrangeiros.
O vice-reitor da Católica concluiu, dizendo que circulam sondagens "baseadas não em factos verdadeiros, mas em factos que são criados", estando em cima da mesa material desinformativo, nomeadamente na atual campanha eleitoral.
As eleições legislativas decorrem no próximo domingo, 18 de maio, e concorrem 21 forças políticas: AD (PSD/CDS-PP), PS, Chega, IL, BE, CDU (PCP/PEV), Livre, PAN, ADN, RIR, JPP, PCTP/MRPP, Nova Direita, Volt Portugal, Ergue-te, Nós, Cidadãos!, PPM, PLS e, com listas apenas numa ou nas duas regiões autónomas, MPT, PTP e PSD/CDS/PPM.
[Notícia atualizada às 16h02]
Leia Também: Detido com passaportes falsos no aeroporto de Lisboa. Menor "envolvido"