"A troca de emails entre o gabinete de Carlos Moedas e um canal de televisão privada, hoje divulgada na imprensa, deixa claras dúvidas sobre a natureza inusitada como entidades na esfera da autarquia apoiaram um festival de cinema com meio milhão de euros", afirmou a vereação do PS, em comunicado, referindo-se à notícia da revista Sábado sobre "como Moedas ajudou a SIC a ir buscar 500 mil euros".
Também a vereadora do BE, Beatriz Gomes Dias, exigiu transparência por parte de Carlos Moedas, através de um novo requerimento a pedir esclarecimentos sobre o apoio financeiro ao festival, reforçando o pedido endereçado em dezembro sobre os critérios e procedimentos que levaram à atribuição de 500 mil euros à Impresa/SIC, sem deliberação em reunião de câmara.
A agência Lusa questionou o gabinete de Carlos Moedas sobre a atribuição deste apoio financeiro, nomeadamente através da EGEAC - Lisboa Cultura e da Associação Turismo de Lisboa, e sobre o que se prevê para a edição deste ano, mas não obteve resposta até ao momento.
De acordo com a revista Sábado, o gabinete do presidente da Câmara de Lisboa deu, através de troca de emails, instruções ao grupo Impresa/SIC, responsável pela produção do Tribeca em Portugal, sobre como conseguir apoio financeiro do município para ajudar a pagar a organização deste festival de cinema, enquanto, ao mesmo tempo, o DocLisboa arrancou sem apoios da autarquia.
Na perspetiva da vereação do PS, o processo de apoio financeiro ao festival Tribeca "começou mal desde o primeiro dia, com a sobreposição de datas entre o Tribeca e o maior festival de documentário de Lisboa, o Doc Lisboa".
"Não se compreende que um festival sem qualquer tradição tenha recebido meio milhão de euros de organismos presididos por Carlos Moedas, ao mesmo tempo que a autarquia deixou iniciar o Doc Lisboa sem qualquer apoio financeiro, algo que nunca tinha acontecido", apontou o PS, referindo que, além dos 500 mil euros, o município disponibilizou contrapartidas não financeiras, inclusive a isenção de taxas.
Questionando a utilidade do Departamento Municipal da Transparência e Prevenção da Corrupção, os socialistas referem que os emails hoje conhecidos entre o gabinete do presidente da câmara e o grupo Impresa/SIC, "pese embora a resistência da empresa municipal de cultura, demonstram a forma expedita como todo o processo foi decidido, evitando mesmo a votação e escrutínio dos restantes vereadores".
Na reunião privada de hoje, os socialistas interpelaram o vice-presidente da câmara, Anacoreta Correia (CDS-PP), que presidiu à sessão na ausência de Carlos Moedas, sobre o eventual apoio da autarquia à próxima edição do Tribeca, registando "a incapacidade de resposta" e prevendo que "o dinheiro dos munícipes" volte a ser utilizado para patrocinar este evento, assim como a exposição mediática do autarca do PSD.
Considerando "inaceitável que fundos públicos sejam atribuídos sem escrutínio", o BE exigiu o acesso a todos os documentos e comunicações relacionados com o apoio ao Tribeca, face à ausência de resposta ao anterior requerimento e "à gravidade das informações agora divulgadas".
Os Cidadãos Por Lisboa (eleitos pela coligação PS/Livre) defenderam que o apoio a grandes eventos internacionais como o Tribeca é uma opção "errada", referindo que só o dinheiro gasto neste festival dava para todos os pedidos de apoio municipal na área da cultura.
A organização da 1.ª edição do Tribeca em Lisboa recebeu 750 mil euros de apoios públicos, nomeadamente do Turismo de Portugal (250 mil euros), tutelado pelo Ministério da Economia, da Associação de Turismo de Lisboa (250 mil euros), da qual o município de Lisboa é um dos associados fundadores, e da empresa municipal EGEAC - Lisboa Cultura (250 mil euros), que gere os equipamentos e animação cultural da capital.
Além dos apoios públicos, o Tribeca arrecadou 615 mil euros de patrocínios, 95.985 euros de bilheteira e 3.389 euros de venda de comida e bebidas, totalizando 1.464.374 euros de receitas, mas as despesas somaram 1.825.168 euros, resultando num prejuízo de 360.794 euros.
A 2.ª edição do Tribeca Festival Lisboa vai acontecer de 30 de outubro a 01 de novembro deste ano, novamente no Hub Criativo do Beato, com a promessa de "espaços melhorados, exibições aprimoradas e uma atmosfera ainda mais acolhedora".
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