Flor da Selva interrompe rotina da torrefação de café devido a obras do metro

A Torrefação Flor da Selva, no bairro da Madragoa, vai mudar "provisoriamente" para a zona oriental da cidade de Lisboa devido às obras de expansão do metro, "um interregno em toda a rotina" e história da casa de café septuagenária.

Cafeína

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Lusa
17/10/2022 09:12 ‧ 17/10/2022 por Lusa

País

Lisboa

Na Travessa do Pasteleiro, não há loja com montra e publicidade ao café Flor da Selva, quase nem se dá pela porta, mas segue-se pela rua o aroma para encontrar o sitio certo, e o proprietário Jorge Monteiro a dar as boas vindas, seja a clientes que vão buscar encomendas, seja a turistas curiosos que ficaram a saber o que se passa por detrás daquela porta estreita.

À entrada, um pequeno escritório, ao lado, um pequeno balcão com as máquinas para moer o grão e, ainda mais ao lado, um outro balcão com um monte de embalagens acabadas de pesar por dois dos nove atuais funcionários.

É depois desta entrada, onde se amontoam algumas caixas de encomendas, que surge a sala com a máquina que é o "coração" de todo o trabalho da torrefação que ainda se faz a lenha, uma característica da marca portuguesa, conforme explicou à Lusa Jorge Monteiro, gerente e proprietário da empresa familiar.

A Flor da Selva encontra-se na Madragoa desde 1950, acabada de fazer 72 anos, tendo o seu proprietário sido há pouco tempo notificado de que as obras de expansão da rede do metropolitano iam obrigar ao fecho do espaço para obras de reforço na estrutura do edifício.

"Mesmo aqui no subsolo vai ficar a galeria da estação de Santos. Foi projetado precisamente para ficar aqui a estação, aqui, debaixo do nosso edifício e nos outros dois contíguos", explicou Jorge Monteiro.

De acordo com o proprietário, será feito "um reforço nas paredes mestre e na parte superior do prédio, para fazer uma cinta em todos os andares", de forma a evitar danos que possam ser causados com as obras.

A mudança, provisória, deverá durar 16 meses, já a partir de janeiro, apesar de Jorge Monteiro contar que possa ser "um pouco mais", lembrando que "nestas coisas de obras os prazos nunca são cumpridos".

Para já, assume que vai haver "uma quebra grande nas vendas", numa altura em que até havia "expectativa de aumentar o negócio", o que já estava a acontecer. No entanto, a equipa vai ter de "improvisar" durante o tempo em que estará fora da Madragoa, para depois "retomar e voltar a oferecer às pessoas aquele produto de que tanto gostam".

Após uma entrada comprida, o local onde a magia acontece: a sala onde está a máquina - "o coração que faz a empresa trabalhar" -, que torra o grão de várias origens, sensivelmente 120 quilos à vez, e que perfuma o ambiente.

Na fornalha arde lenha de sobro que aquece ao ponto pretendido, normalmente 200 graus, enquanto Júlio Ferrage, que trabalha na área há mais de três décadas, vai retirando, de quando em vez, uma 'colher' para ver a aparência dos grãos.

Quando o processo da torra termina, sensivelmente depois de meia hora, consoante a quantidade e o tipo de café, os grãos deslizam para uma grelha onde são arrefecidos, ao mesmo tempo que umas pás os vão mexendo.

Na torrefação tudo é feito sem recurso a máquinas, tudo exceto a torra do café cru, que chega em sacas de serapilheira de vários pontos do globo. A máquina vai ter de ser desmontada, conforme explicou Jorge Monteiro, uma operação que deverá demorar um mês para depois voltar a ser montada quando houver permissão de voltar.

"É um trabalho moroso. A máquina vai ter de ser desmontada porque trabalha com calor, tudo o que são parafusos estão calcinados, [algumas peças] vão ter de ser cortadas, [e depois] será um trabalho grande de renovação por parte de técnicos especializados", explicou.

Agora, o café torrado a lenha, uma característica da empresa desde a sua fundação, para dar "personalidade ao produto" e torná-lo "num café virtuoso, com paladar diferente do que aquilo que há no mercado", nas palavras de Jorge Monteiro, vai ser torrado a gás recorrendo a outros parceiros.

Por mês são torradas aproximadamente cinco toneladas, por encomenda, já que Jorge Monteiro garante não ter 'stock' do produto por este ser "um produto fresco para consumir no imediato".

De acordo com o responsável, a solução agora passa pela mudança da Flor da Selva para um armazém na zona ribeirinha, junto ao Beato, para poder dar continuidade ao trabalho começado nos anos 50 pelo seu pai.

"As negociações estão em curso com o Metropolitano, mas tudo indica que será para lá que vamos", desabafou, reconhecendo que os clientes vão continuar a ter as suas encomendas e os vizinhos do bairro vão continuar a ter o seu café, através de entregas, embora reconheça que alguns se possam perder com a mudança.

As obras de prolongamento das linhas Amarela e Verde do Metro de Lisboa vão levar à ocupação, durante 16 meses, de alguns imóveis na Travessa do Pasteleiro, que serão alvo de intervenções de reforço estrutural suportadas pela transportadora.

Os edifícios, de acordo com a empresa, vão ser alvo de intervenções de reforço estrutural, a cargo do Metropolitano de Lisboa, "sem qualquer despesa para os seus proprietários e ocupantes", que "beneficiarão destas intervenções, já que as mesmas envolvem a preservação, segurança e conforto das pessoas e bens".

O Metropolitano de Lisboa, "sabendo das condições específicas" que a atividade da Torrefação exige, diz que está a trabalhar "no sentido de ajudar a encontrar uma solução adequada e que minimize os impactos que a desocupação temporária possa ter, no sentido de manter a atividade laboral, assegurando a produção, a comercialização e os postos de trabalho existentes".

Leia Também: Obras do Metro de Lisboa motivam ocupação de imóveis

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