"Ricardo Salgado tinha toda a gente na mão"
Luís Marques Mendes comentou a acusação sobre a operação relacionada com o Universo Espírito Santo/BES que tem como principal arguido Ricardo Salgado.
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País Marques Mendes
Luís Marques Mendes considerou este domingo que seis anos "é muito tempo" para se chegar a uma acusação relativamente ao Universo Espírito Santo. No entanto, "o Ministério Público tem três atenuantes muito importantes", frisou no seu habitual espaço de comentário.
A primeira atenuante, afirmou o comentador, é que se trata de um processo de uma "complexidade brutal". "Talvez ainda mais complexo do que a Operação Marquês", acrescentou.
A segunda atenuante, na ótica do social-democrata, é o facto de a operação ter tido a colaboração de várias entidades estrangeiras, nomeadamente da Suíça. "E muitas delas demoraram imenso tempo a colaborar. E aí, o MP não podia fazer nada".
Por último, Marques Mendes considera estarmos perante uma "acusação como deve ser" e "robusta". "Sólida, consistente e bem fundamentada", caracterizou, deixando um elogio ao Ministério Público.
Na parte substancial, sublinhou o social-democrata, "não há nada de substancialmente novo". "Mas é importante que agora esteja tudo 'preto no branco' ser provado em tribunal", disse.
O que a acusação diz é que existia no Universo Espírito Santo "um grande polvo". "Era um polvo com bom aspeto, com uma aparência de grande respeitabilidade, mas era um polvo com grandes tentáculos dentro e fora do banco, em Portugal e fora de Portugal, tudo com a lógica de, com poder, controlar, falsificar, ocultar - manter Ricardo Salgado, e a família, sempre à tona".
Outro grande objetivo da família, disse Marques Mendes, era, "além de meter dinheiro ao bolo", adiar a "morte" do GES, descapitalizando o banco, "à custa, muitas vezes, de vender gato por lebre". "Não é que não se soubesse já, mas é um dado da acusação".
O também conselheiro de Estado realçou ainda um terceiro aspeto da acusação que considera "mais interessante". "Como é que isso tudo funcionava? Na base de uma célula secreta liderada por Ricardo Salgado, com dois elementos fundamentais a co-adjuvarem (Morais Pires, administrador, e Isabel Almeida, uma diretora financeira)", notou, sublinhando o facto de esta célula ter funcionado à margem da família e do conselho de administração. "Por isso é que a maior parte dos administradores não são acusados", justificou.
"[Ricardo Salgado] tinha o comando de tudo isto, tinha toda a gente na mão: diretores, colaboradores, os tais que funcionavam nesta célula, à custa de bónus, prémios extra, recompensas", sendo a contrapartida "ajudá-lo na prática dos vários crimes de que está acusado (burla, gestão danosa, ocultações, falsificação de documentos, etc). "Estamos de facto a falar de um polvo", reiterou.
Marques Mendes lembrou que Ricardo Salgado, que agora é um homem só, há seis anos era "o senhor todo poderoso", estatuto que explica a prática dos crimes de que é acusado sem que tivesse sido confrontado. Mais, "se nem os administradores lá dentro sabiam da maior parte das 'falcatruas' que lá aconteciam, como é que a supervisão havia de saber?", questionou, assinalando que a supervisão do Banco de Portugal (BdP) também não era, na época, igual à de hoje. Seja como for, Marques Mendes defende a seguinte teoria: "Entre o polícia e o ladrão (sempre entre aspas porque ninguém foi condenado), a responsabilidade maior é de quem comete as infrações".
O comentador observou ainda que Ricardo Salgado conseguiu "de uma assentada" dar cabo de três coisas: da sua reputação, da reputação da família Espírito Santo e agravar a reputação da banca.
18 pessoas e sete empresas acusadas no caso do BES
O Ministério Público acusou na terça-feira 18 pessoas e sete empresas por vários crimes económico-financeiros e algumas das quais por associação criminosa, no processo BES/Universo Espírito Santo, em que a figura central é o ex-banqueiro Ricardo Salgado.
O ex-presidente do BES foi acusado de 65 crimes, incluindo associação criminosa, corrupção ativa no setor privado, burla qualificada, branqueamento de capitais e fraude fiscal, no processo BES/GES. Além de Ricardo Salgado são também arguidos neste processo Amílcar Morais Pires e Isabel Almeida, antigos administradores do BES, entre outros.
O inquérito do processo principal 'Universo Espírito Santo' teve origem numa notícia de 3 de agosto de 2014 sobre a medida de resolução do BES e analisou um conjunto de alegadas perdas sofridas por clientes das unidades bancárias Espírito Santo.
Posteriormente, foi conhecida a resolução e liquidação de inúmeras entidades pertencentes ao então Grupo Espírito Santo no Luxemburgo, Suíça, Dubai e Panamá, a par do pedido de insolvência por parte de várias empresas do mesmo Grupo em Portugal.
O arguido e ex-presidente do BES Ricardo Salgado já confirmou ter sido notificado da acusação, dizendo que "não praticou qualquer crime" e que esta "falsifica a história do Banco Espírito Santo.
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