Tourém aguarda com ansiedade fim da fronteira com os vizinhos de Espanha
Satisfeita com a abertura parcial da fronteira com Espanha, a população de Tourém, no concelho de Montalegre, vive com "ansiedade" à espera da abertura total para voltar a conviver "com os vizinhos espanhóis".
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País fronteiras
"Esta situação em que estamos não é fácil, pois vivemos muito pegados a eles. Aqui somos como vizinhos com os espanhóis. Somos todos vizinhos", lamenta Manuel Raimundo, que há 30 anos cultiva terrenos em Portugal e Espanha.
Natural da freguesia de Tourém, concelho de Montalegre, no distrito de Vila Real, Manuel Raimundo está ainda assim satisfeito com a abertura parcial da fronteira com a localidade espanhola de Calvos de Randím, que entra em vigor na segunda-feira.
Também o presidente da Junta de Freguesia de Tourém lembra a "ansiedade" da população criada pelo encerramento das fronteiras entre Portugal e Espanha.
"As pessoas de Tourém têm vivido com ansiedade devido a esta situação, pois as ligações são todas com Espanha, a não ser questões burocráticas que se tenham de resolver em Montalegre", realça Jaime Barroso.
Além das ligações familiares e afetivas, as relações económicas são também "importantíssimas" e a aldeia de Tourém vive "do comércio com Espanha".
"Se ardia uma casa em Espanha nós íamos lá acudir e eles vinham cá se nos acontecia o mesmo, e agora isso não tem sido possível", atira Jaime Barroso.
As duas localidades reencontraram-se hoje de forma simbólica na fronteira, numa iniciativa que contou com a presença dos deputados da Assembleia da República do PS eleitos por Vila Real, Ascenso Simões e Francisco Rocha, e que teve também a presença do alcaide de Calvos de Randím, Aquilino Valencia Salgado.
O governante espanhol confessa que o fecho das fronteiras tem sido "difícil de aguentar" pelas ligações familiares e de trabalho e espera ainda a abertura total naquela zona quando isso for seguro.
"Os espanhóis têm muito trabalho de construção em Portugal, e os portugueses vêm muito a Espanha pela agricultura. Tudo isso estava parado", lembra Aquilino Valencia Salgado.
Um despacho que determina os horários para atravessar a fronteira entre Portugal e Espanha, nas localidades de Rio de Onor (Bragança), Tourém (Vila Real) e Barrancos (Beja), na sequência da pandemia, foi publicado na quinta-feira em Diário da República (DR).
O despacho conjunto dos ministros dos Negócios Estrangeiros e da Administração Interna refere que a decisão decorre de uma resolução do Conselho de Ministros, de 16 de março, sobre reposição, "a título excecional e temporário", do controlo "de pessoas nas fronteiras" entre Portugal e Espanha, no âmbito da situação de pandemia da doença provocada pelo novo coronavírus.
Em relação a Tourém, o ponto de passagem autorizado através da fronteira terrestre entre os dois países é às segundas e quintas-feiras, entre as 06:00 e as 08:00 e das 17:00 às 19:00.
"É um grande favor e é um bom momento. Ainda tenho tempo para semear o milho", acrescenta Manuel Raimundo, garantindo que logo na segunda-feira de manhã irá passar a fronteira.
O português é um dos vários habitantes de Tourém que pode agora passar a fronteira para cultivar os seus terrenos, mas há ligações familiares que continuam condicionadas devido à pandemia.
Zulmira Fernandes, também de Tourém, conta que um cunhado deixou de poder passar a fronteira por estar a viver em Espanha e que há dois meses que não vê parte da família.
Mas com a principal preocupação a ser a agricultura e a produção de gado, a abertura parcial das fronteiras vai "ajudar" os portugueses.
"Já fazia falta. No início ainda foi complicado para quem tem animais, pois tínhamos os lameiros em Espanha e ainda não havia comida em Portugal, não podíamos passar. Agora vamos poder passar de manhã, levar a merenda, trabalhar os terrenos e voltar a casa", sublinhou Zulmira Fernandes.
A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 360 mil mortos e infetou mais de 5,8 milhões de pessoas em 196 países e territórios.
Mais de 2,3 milhões de doentes foram considerados curados.
Em Portugal, morreram 1.383 pessoas das 31.946 confirmadas como infetadas, e há 18.911 casos recuperados, de acordo com a Direção-Geral da Saúde.
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