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Santos Silva compara situação na Europa a "revolução cultural chinesa"

O ministro dos Negócios Estrangeiros considerou que a atual situação na Europa é comparável à revolução cultural chinesa, ocorrida entre as décadas de 1960 e 1970, encontrando várias similitudes entre os processos vividos então na China e, agora, no continente europeu.

Santos Silva compara situação na Europa a "revolução cultural chinesa"
Notícias ao Minuto

22:27 - 04/07/19 por Lusa

País Santos Silva

Augusto Santos Silva, que falava na apresentação do livro 'As décadas da Europa' (Book Builders) na Sociedade de Geografia, referiu-se também ao Brexit como um fenómeno cuja análise está por fazer.

Para o ministro, há na Europa -- como há 50 anos na China -- "uma revolta de poderes periféricos face ao 'stablishment' que no caso chinês foi instrumental a este para recuperar a liderança no Partido Comunista Chinês".

"Num certo sentido, é isso que estamos a assistir na Europa hoje e em particular no último Conselho Europeu", afirmou.

Por outro lado, existe também hoje na Europa, segundo Santos Silva, "uma lógica de radicalização voluntariamente assumida como disrupção ao nível dos valores, princípios e padrões que foram habitualmente considerados e construídos como consenso constitucional comum -- é isso que estamos a assistir", destacou.

Finalmente, o ministro atribui uma derradeira semelhança na "perversão da palavra cultural". Na Europa, disse, "também há hoje uma lógica de afirmação por uma suposta identidade cultural europeia que expulsaria o estrangeiro, ou uma identidade regional ou nacional que justificaria uma demarcação desse país face à norma europeia".

Para Santos Silva, é este fenómeno que, "bem ou mal, acontece na chamada deriva de Visegrado", referindo-se aos quatro países do centro europeu -- Hungria, Polónia, República Checa e Eslováquia -- que lideraram a "revolta" no Partido Popular Europeu a propósito da escolha dos altos cargos na União Europeia.

"Em qualquer uma dessas aceções, a palavra cultural hoje tende a ser usada no sentido de cultura de matriz religiosa, identitária, para justificar que a Europa se deve fechar ao outro ou se deve fragmentar porque [supostamente] a Europa não é uma só e não pode ser sobredeterminada pela política", disse.

"Essa dupla perversão da palavra cultura não deixa de ser muito análoga àquela que a revolução cultural chinesa demonstrou. Vamos ver se será ou não", salientou.

Quanto ao Brexit, considerou que pode ser visto numa "lógica de um movimento mais geral de retraimento anglo-saxónico face ao projeto europeu", num processo paralelo à "deseuropaização das duas íltimas administrações norte-americanas na definição das suas prioridades estratégicas, ou como "primeiro grande ensaio de uma nova forma de fazer política".

Numa terceira asserção, o Brexit poderá ser também "uma primeira expressão concreta e violenta de uma lógica de abordagem identitária à política europeia cuja sequência se tem vindo a observar desde o referendo de junho de 2016", ou como uma combinação de todos estes fatores.

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