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Cravo vermelho para o funeral do cineasta Manuel Carvalheiro

O funeral do cineasta Manuel Carvalheiro, que morreu no domingo, aos 68 anos, realiza-se na quinta-feira, 25 de Abril, no Cemitério dos Prazeres, em Lisboa, disse à Lusa a filha do realizador.

Cravo vermelho para o funeral do cineasta Manuel Carvalheiro
Notícias ao Minuto

16:33 - 24/04/19 por Lusa

País Óbito

A cerimónia será laica e a família pede que não haja flores. Em vez delas, "quem quiser pode fazer um donativo para o Instituto do Cinema e do Audiovisual ou para a Cinemateca Portuguesa", mas, "atendendo à data, um cravo vermelho será sempre bem-vindo".

O velório terá início às 09h00, na capela do Cemitério dos Prazeres, sem rituais religiosos, e será seguido do funeral, às 16h00, no Talhão dos Artistas.

Manuel Carvalheiro, que estudou cinema em Paris com Christian Metz e Jean Rouch, foi realizador, ensaísta, cronista, crítico de cinema e investigador, trabalhou com o cineasta brasileiro Glauber Rocha, dirigiu filmes como 'Abecedário' e 'Amores da Salazar', e colaborou com publicações como o Diário de Lisboa, O Século, jornal República, Seara Nova e Cahiers du Cinéma, tendo escrito 'As Mutações do Cinema no Tempo do Vídeo'.

Natural de Lisboa, onde nasceu em 30 de dezembro de 1950, Manuel Carvalheiro cresceu em Luanda, no seio de uma família intelectual antifascista.

O cineasta recusou-se a participar na guerra colonial e partiu para Paris para estudar Cinema, na École des Hautes Etudes en Sciences Sociales, onde redigiu duas teses sobre Sergei Eisenstein, em 1977 - 'Reflections on Eisenstein's Theory' e 'On the rereading of Eiseinstein's Writing' - e fez o doutoramento, em 1985, sob a direção do teórico de cinema Christian Metz (1931-1993), dando origem ao livro 'As Mutações no Cinema no Tempo do Vídeo'.

Estudou ainda com o documentarista Jean Rouch, pioneiro do chamado 'cinéma vérité' em França, no Laboratoire Audio-Visuel de l'École Pratique des Hautes Etudes de Paris.

Em 1981, Manuel Carvalheiro dirigiu 'Abecedário', uma entrevista ao realizador brasileiro Glauber Rocha (1937-1981), uma obra recorrentemente citada em estudos sobre o protagonista do Cinema Novo no Brasil, que constitui um dos últimos testemunhos do cineasta de 'Barravento' (1962) e de 'Deus e o Diabo na Terra do Sol' (1964).

Na altura, 'Abecedário' ('ABC') foi distinguido com o Prémio da Confederação Internacional dos Cinemas de Arte e Ensaio, do Festival de Hyères, em França.

Antes, Carvalheiro trabalhara já com o realizador de 'Terra em Transe' (1967), no seu filme inacabado sobre a revolução portuguesa, 'Lisboa Livre', rodado nos dias que se seguiram ao 25 de Abril de 1974, e também colaborara no derradeiro argumento de Glauber Rocha, 'Império de Napoleão', que nunca chegou a ser filmado.

Correspondente de cinema nos festivais internacionais de Cannes, Veneza, Berlim, Grenoble e Karlovy Vary, desde 1972, Manuel Carvalheiro foi um dos subscritores do manifesto dos realizadores portugueses na 8.ª edição do Festival Internacional de Cinema da Figueira da Foz, em 1979.

Em Cannes, travou conhecimento com cineastas e artistas do Novo Cinema Português emergente, como os realizadores António da Cunha Telles, António de Macedo, António-Pedro Vasconcelos e a atriz Maria Cabral. Participou ainda, regularmente, no antigo Festróia - Festival Internacional de Cinema de Troia (1985-2014).

De 1976 a 1985, Manuel Carvalheiro realizou cerca de uma dezena de curtas-metragens, entre as quais se destacam 'Experiências' (1979), exibida na Cinemateca Francesa e em festivais como o de Huelva, Génova, Warschau e Figueira da Foz, 'Monólogos Femininos' (1980), sobre Shakespeare, 'Inglês Sem Mestre' (1981), sobre o escritor inglês Henry Fielding, que se encontra sepultado no cemitério britânico em Lisboa.

'Diário de uma Contaminada' (1976), 'À Volta de Washington Square' (1982), 'O Analfabeto' (1982), 'O Paraíso Terrestre - Karl Marx' (1984), 'Yoknapatawpha' (1984) e 'Inquérito' (1985) são outros filmes de Manuel Carvalheiro, além de 'Abecedário'.

'Amores de Salazar', filme com Io Apolloni e Artur Mendes da Silva, em que trabalhou com o diretor de fotografia Manuel Costa e Silva, data de 1981.

No final da década de 1990, levou a concurso vários documentários, entre os quais 'A UNESCO e a Expo 98 -- No Ano Internacional dos Oceanos (1997)'.

Manuel Carvalheiro representou Portugal na Confederação Internacional dos Cinemas de Arte e Ensaio.

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