Diretora do Museu do Chiado defende autonomia que inclua número fiscal
A diretora do Museu de Arte Contemporânea - Museu do Chiado, Emília Ferreira, defendeu hoje, em Lisboa, que "a autonomia dos museus é fundamental, mas tem de existir um número fiscal atribuído" a estas entidades.
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Em entrevista à agência Lusa, a primeira que concede após a entrada no Museu do Chiado, faz em dezembro um ano, a responsável lamentou que o Ministério da Cultura não tenha ouvido os diretores de museus nesta matéria.
"Foi pena que tenham consultado apenas entidades ligadas aos museus e ao património, e não os diretores de museus, que lidam diretamente com a realidade, e estão no terreno", comentou, questionada sobre a proposta de decreto-lei que a tutela divulgou ao setor, em junho deste ano.
Em causa está o novo regime jurídico de autonomia de gestão dos museus, monumentos, palácios e sítios arqueológicos, que o Governo pretende levar a conselho de ministros este ano, e colocar em vigor em 2019.
"Esta proposta de projeto de lei é importante, mas não cumpre, no sentido em que não é suficientemente ambiciosa", disse à Lusa, acrescentando que, no entanto, não defende que os museus se tornem entidades desvinculadas do Estado.
A proposta foi divulgada ao setor e a tutela ouviu entidades como o Conselho Internacional de Museus (ICOM-Portugal e ICOM-Europa), do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (ICOMOS) e da Associação Portuguesa de Museologia (APOM), que entregaram pareceres ao Ministério da Cultura.
A delegação de competências nos diretores dos museus, a redução da burocracia e o maior acesso aos recursos gerados são alguns dos objetivos da proposta.
Uma das críticas que tem sido feita por estas entidades é o facto de a proposta do Governo para a autonomia dos museus não contemplar a existência de autonomia fiscal e jurídica através da atribuição de um Número de Identificação Fiscal (NIF).
"A autonomia é fundamental. Mas, para haver autonomia, tem de haver um NIF atribuído. Um museu tem de ter um NIF atribuído", reiterou a diretora, nomeada em novembro do ano passado para substituir Aida Rechena, que saiu da direção do museu, a seu pedido.
Licenciada em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Emília Ferreira é mestre e doutora em História da Arte Contemporânea, pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (FCSH/UNL).
Ainda sobre a questão da autonomia, Emília Ferreira defendeu a importância da autonomia para resolver vários aspetos do funcionamento dos museus, "desde a captação de mecenato, e a própria programação das exposições, que não devia ser feita só de ano a ano".
"Se quisermos fazer parcerias ambiciosas com congéneres internacionais não estamos ao mesmo nível, porque eles fazem programações a cinco anos, enquanto que o nosso planeamento é a um ano. É como estar sempre a perder o comboio", comparou, em entrevista à Lusa.
Emília Ferreira acrescentou que a autonomia "é também fundamental para a contratação de pessoal e para qualquer tipo de aquisição, sobretudo as mais pequenas compras, que estão sempre dependentes de papéis e autorizações".
"A realidade dos museus não se compadece com burocracias", vincou a diretora do único museu nacional de arte contemporânea do país, situado no centro histórico de Lisboa.
O Museu do Chiado foi fundado em 1911, como Museu Nacional de Arte Contemporânea, está instalado no Convento de São Francisco, no centro histórico de Lisboa, e o seu acervo integra mais de 5.000 peças de arte, num percurso cronológico desde 1850 até à atualidade, incluindo pintura, escultura, desenho, fotografia e vídeo.
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