O vídeo, distribuído na página da Embaixada no Facebook, causou bastante polémica com críticas ao seu conteúdo e ao facto de a missão diplomática se associar à posição do responsável timorense divulgando a sua mensagem.
Inserido na campanha "16Days16Ways" (16 Dias, 16 Maneiras) - Eliminar Violência de Género em Timor-Leste, o vídeo mostra declarações de Duarte Bragança, diretor educativo municipal em Díli.
"Para eliminar violência de género nas escolas, as meninas são proibidas de usar saias curtas e roupa transparente, como forma de prevenir abuso sexual", refere em tétum, numa declaração legendada em inglês. "Para o homem, para evitar violência contra raparigas, o uso de narcóticos, álcool e tabaco está proibido nas escolas", diz ainda.
As críticas ao vídeo estão detalhadas numa carta aberta entregue hoje na missão diplomática e que está assinada, entre outros, por responsáveis ou elementos de organizações como o Judicial System Monitoring Programme (JSMP) e o The Asia Foundation Nabilan Program, além de vários cidadãos timorenses e norte-americanos.
A carta expressa consternação com o que dizem ser um "vídeo vergonhoso" difundido pela embaixada na semana passada e pedem que seja retirado imediatamente.
"Esta publicação vai diretamente contra décadas de trabalho, baseado em estudos e investigações, para acabar com a violência contra mulheres e crianças. Por isso pedimos que o retirem imediatamente e peçam desculpa às mulheres e às crianças de Timor-Leste", refere a carta aberta a que Lusa teve acesso.
"Ao sugerir que as meninas devem mudar a roupa que usam para prevenir a violência de género, o interveniente no vídeo está abertamente a culpar a vítima. Como grupo comprometido em promover a igualdade de género e acabar com todas as formas de discriminação, não aceitamos mensagens públicas que culpem as vítimas pela violência que outros perpetram contra si", refere ainda o texto.
O texto considera que culpar as vítimas "contribui diretamente para uma cultura na qual a violência contra mulheres e meninas continua a ser tolerada".
"Estamos a trabalhar arduamente para construir uma cultura de equidade, respeito e tolerância zero face a todas as formas de violência. Esperávamos que os valores da Embaixada dos EUA fossem alinhados com os nossos a este respeito", considera ainda.
O texto questiona também a mensagem sobre a ligação entre o uso de álcool, drogas e tabagismo, que considera enganosa, solicitando "provas que apoiem essas declarações", não havendo estudos sobre essa questão em Timor-Leste, onde há elevados níveis de violência de género.
Ainda que as opiniões expressas no vídeo sejam de um elemento do Ministério de Educação e Cultura timorense, difundir o vídeo na página da embaixada "implica que a Embaixada apoia as opiniões expressas no vídeo", divulgando visões e opiniões erradas que atingem as vítimas.
Instada a reagir à polémica, a embaixada enviou à Lusa uma declaração por email em que explica que a plataforma da missão diplomática nas redes sociais refere que as opiniões expressas por responsáveis não-norte americanos "são apenas para objetivos informativos e não refletem necessariamente a visão ou têm o apoio do Governo ou do Departamento de Estado".
Em concreto sobre violência de género, a posição dos Estados Unidos, refere a nota, é de "promover igualdade de género e empoderamento das mulheres e raparigas como elemento central da sua política externa".
Os Estados Unidos, refere, "reconhecem que a violência de género dificulta significativamente a capacidade de indivíduos, especialmente mulheres e meninas, participarem plenamente e contribuírem económica, politica e socialmente para suas famílias, comunidades e sociedades".