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A cidade fantasma e outras cicatrizes do pior acidente nuclear de sempre

As cicatrizes do pior acidente nuclear na história vão demorar a desaparecer. Nova cúpula vai proteger a zona de exclusão nos próximos 100 anos.

Notícias ao Minuto

10:40 - 26/04/17 por Notícias Ao Minuto

Mundo Chernobyl

A cidade de Pripyat parou no tempo. Em 2017 é um fiel retrato do estilo das cidades soviéticas dos anos 80. Passados 31 anos, a única alteração significativa na paisagem desta cidade foi promovida pela invasão da natureza, indiferente aos erros dos seres humanos: a floresta instalou-se em Pripyat, ocupa ruas e serpenteia entre os prédios. Dá cor e vida há cidade mais próxima de Chernobyl. A vida típica de uma cidade? Essa mudou para sempre nas primeiras horas da noite de 26 de abril de 1986, quando o reator nº4 de Chernobyl explodiu durante um teste de segurança.

A União Soviética não teve uma reação imediata e procurou manter o acidente em segredo. Estávamos em pleno período da Guerra Fria e Moscovo não queria que o Ocidente soubesse dos seus falhanços. A cidade de Pripyat só foi evacuada cerca de 24 horas depois da explosão e o combustível nuclear ardeu durante 10 dias. A nuvem radioativa contaminou cerca de três quartos da Europa.

A Ucrânia, onde a central de Chernobyl se encontrava, a Rússia e a Bielorrússia foram os países mais afetados. O mundo só teve conhecimento do acidente em Chernobyl dois dias depois, quando a TASS, a agência oficial de notícias, o divulgou.

Os bombeiros, que são chamados para combater o incêndio sem saberem que se tratava de uma explosão nuclear, estão entre as primeiras vítimas deste acidente. Posteriormente, chegam a Chernobyl outros heróis.

Estima-se que 600 mil pessoas tenham trabalhado na limpeza e na remoção dos detritos na central. Ficam conhecidos como Liquidadores. Fazem o derradeiro sacrifício. Alguns morrem logo nas semanas seguintes, devido à exposição aos altos níveis de radiação.

O governo ucraniano estima que apenas 5% dos membros das equipas de limpeza continuam vivos e saudáveis. O balanço oficial aponta para 56 vítimas diretas deste acidente, mas milhares de pessoas terão morrido devido aos efeitos da nuvem radioativa.

Para conter a radiação, a União Soviética constrói ainda em 1986 uma estrutura gigantesca de cimento em redor do reator nº4. Essa estrutura fica conhecida como sarcófago e, ao longo dos anos, foi sendo reforçada. Mas foi sempre uma solução temporária e que só este ano foi substituída. O deteriorado sarcófago está agora coberto por uma cúpula de metal de 162 metros de comprimento e mais de 100 metros de altura. Custou 1,5 mil milhões de euros, mas o custo total do programa supera os 2 mil milhões de euros.

Considerada “um sucesso de engenharia sem precedentes” por Vince Novak, diretor da segurança nuclear do Banco Europeu para a Reconstrução e Desenvolvimento, estima-se que esta cúpula contenha a radiação proveniente do reator nº4 nos próximos 100 anos. O velho sarcófago será agora desmantelado, num trabalho que deverá estar concluído em 2023. Depois seguir-se-á o moroso desmantelamento do reator nº4.

A explosão do reator foi atribuída desde o início a um erro humano, mas mais tarde apurou-se que defeitos na conceção do reator também contribuíram para o acidente.

Os efeitos da explosão, que lançou para a atmosfera 200 toneladas de material radioativo, ainda se fazem sentir. Recentemente, as autoridades sanitárias da República Checa revelaram que 47% dos javalis capturados para consumo entre 2014 e 2016 continham níveis de radiação acima do permitido. E tudo porque consumiram cogumelos das montanhas de Sumava que absorveram parte da radiação de Chernobyl que se espalhou pela Europa. Isto apesar destas montanhas se encontrarem a 1.500 km de Chernobyl.

O acidente de Chernobyl gerou uma grande discussão em torno das vantagens e desvantagens da energia nuclear. Mas foi necessário um novo acidente nuclear em 2011, em Fukushina, no Japão, para que vários países decidissem desistir de forma progressiva dos seus programas de energia nuclear. Suíça, Bélgica e Alemanha são alguns exemplos. Até em Portugal, onde nunca se produziu energia nuclear, o debate da energia nuclear está bem vivo. Reacendeu-se recentemente devido à central de Almaraz, em Espanha, que dista ‘apenas’ 100 quilómetros de Portugal. Os receios do nuclear persistem, o fantasma de Chernobyl vai continuar a estar presente.

Pripyat, assim como outras cidades na zona de exclusão, continua abandonada. Poucas são as pessoas que vivem na zona em redor da cidade. Uma situação que não vai mudar. Apenas animais selvagens habitam em Pripyat, resistindo ao impacto da radiação. Segundo especialistas, algumas espécies que se julgava estarem já extintas regressaram à zona em redor de Chernobyl. A natureza a encontrar sempre um caminho e a persistir.

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