As autoridades norte-americanas voltaram a deter hoje Kilmar Ábrego García, imigrante de El Salvador residente nos Estados Unidos e casado com uma cidadã norte-americana, que se tornou símbolo da política migratória do Presidente norte-americano, Donald Trump, por ter sido injustamente expulso e devolvido aos Estados Unidos após vários meses de batalha judicial.
Enquanto o processo interposto pelos seus advogados após a sua nova detenção por agentes do Serviço de Imigração e Alfândega (ICE) está a ser analisado, Ábrego deverá permanecer nos Estados Unidos, explicou o advogado de imigração Simon Sandoval-Moshenberg, que integra a sua equipa jurídica, numa conferência de imprensa da organização social CASA.
Sandoval-Moshenberg, explicou que, embora já fosse esperado, o salvadorenho foi detido quando se apresentou nos serviços do ICE em Baltimore, no estado de Maryland, onde reside, para uma alegada entrevista que nunca chegou a acontecer.
"A notificação que recebeu, a informar que deveria comparecer esta manhã a uma entrevista, era claramente falsa. Perguntámos ao agente do ICE o motivo da detenção. Recusou-se a responder. Perguntámos ao agente do ICE para onde vão levá-lo, e eles recusaram-se a responder", disse o advogado.
A detenção ocorreu três dias depois de Ábrego García ter sido libertado de uma prisão no estado do Tennessee, enquanto aguarda julgamento por acusações federais de tráfico humano e um processo de deportação, dado não representar uma ameaça para a comunidade nem existir risco de fuga.
No sábado, a defesa de Ábrego García explicou num comunicado que o Governo norte-americano estava a ameaçar deportá-lo para o Uganda para obter uma admissão de culpa, a fim de garantir um acordo judicial que lhe permitisse ser, em vez disso, deportado para a Costa Rica.
No fim de semana, o cidadão salvadorenho entregou às autoridades norte-americanas dois documentos: um designando a Costa Rica como um país "aceitável" para ser deportado e outro indicando "medo de ser transferido para o Uganda", por não ter garantias sobre a sua situação uma vez no país.
"Deportá-lo para a Costa Rica não é justiça. É uma opção aceitavelmente menos má. Mas insistir em realizar a deportação para o Uganda demonstra que o verdadeiro motivo, neste caso, não é simplesmente removê-lo do país, mas puni-lo e mantê-lo detido", afirmou Sandoval-Moshenberg.
O advogado acrescentou que Ábrego García recebeu garantias de que será um cidadão livre na Costa Rica e terá proteção como refugiado, para não ser deportado para El Salvador, o seu país de origem, onde enfrenta o risco de perseguição e violência por parte dos gangues do país, razão pela qual um juiz proibiu a sua deportação em 2019.
O mesmo não acontecerá caso seja deportado para o Uganda, cujo Governo anunciou no início desta semana ter alcançado um acordo com o Governo Trump para aceitar deportados de países terceiros procedentes dos Estados Unidos.
Após a detenção desta manhã, os advogados de Kilmar Ábrego García apresentaram uma ação judicial num tribunal de Maryland e é a juíza Paula Xinis, que já trabalhou no caso, que está novamente a supervisioná-lo, devendo a defesa ainda hoje ter com a magistrada uma audiência inicial.
Em março deste ano, Ábrego García foi deportado para El Salvador sem julgamento, juntamente com mais de 250 homens, a maioria por alegada pertença a um gangue venezuelano.
O Governo Trump reconheceu posteriormente um "erro administrativo" em relação a este residente no estado de Maryland e o cidadão salvadorenho acabou por ser transportado de volta aos Estados Unidos em junho.
Mas o Governo Trump imediatamente iniciou um processo contra ele no Tennessee (sul), mantendo-o detido por ajudar migrantes a permanecer ilegalmente no país.
Os Estados Unidos acusam Ábrego García de ser membro do gangue salvadorenho MS-13, classificado como "organização terrorista" pelo novo Governo norte-americano.
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