"Mais uma vez, peço a Israel que pare com a prática de matar aqueles que tentam informar o mundo sobre o que se passa em Gaza", escreveu a comissária europeia para a Ajuda Humanitária e Gestão de Crises, Hadja Lahbib, na rede social X.
As forças israelitas realizaram hoje dois ataques contra o Hospital Nasser em Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza, que fez 20 vítimas mortais, incluindo cinco jornalistas, um socorrista e um estudante de medicina.
"Os jornalistas, os médicos e as equipas de resgate devem ser protegidos em todos os momentos", destacou Lahbib, aludindo ao direito internacional humanitário.
A comissária observou que se tratava de um dos principais hospitais do território, apesar de funcionar apenas parcialmente, e que foi "de novo atacado", manifestando "profundo pesar" pelas vítimas civis, que "estavam a fazer o seu trabalho".
Entre os mortos nos ataques israelitas, recordou a jornalista Mariam Abu Daqqa, que participou num vídeo produzido pela delegação europeia nos territórios palestinianos ocupados para comemorar o Dia da Liberdade de Imprensa em 2024.
Os cinco jornalistas mortos pelo Exército israelita trabalhavam para meios de comunicação internacionais e foram atingidos no local onde costumavam transmitir diretos.
Além disso, pelo menos um elemento da Defesa Civil, o bombeiro Imad Abdul Hakim al-Shaer, morreu no ataque, informou o Hospital em comunicado.
As forças israelitas dirigiram um primeiro bombardeamento contra o hospital e, quando os jornalistas e os socorristas acorreram ao local, voltaram a atacá-lo, segundo o Ministério da Saúde do enclave.
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, lamentou "o trágico acidente" em Kahn Yunis, e indicou que foi aberta uma "investigação exaustiva" a ser conduzida pelas forças armadas.
Os ataques foram condenados pela generalidade da comunidade internacional, incluindo vários países ocidentais, agências das Nações Unidas e organizações de defesa dos jornalistas.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, exigiu uma investigação rápida e imparcial.
Na nota hoje divulgada pelo seu gabinete, Netanyahu afirma que "Israel valoriza o trabalho dos jornalistas, dos profissionais de saúde e de todos os civis".
Posteriormente, foi divulgada a morte de um sexto jornalista, atingido a tiro pelo Exército israelita em al-Mawasi, também no sul da Faixa de Gaza, segundo as autoridades locais, controladas pelo grupo islamita palestiniano Hamas.
"A nossa guerra é contra os terroristas do Hamas. Os nossos objetivos conjuntos são derrotar o Hamas e trazer os nossos reféns de volta para casa", afirmou ainda o primeiro-ministro israelita, a respeito dos objetivos que traçou para o conflito.
O porta-voz militar israelita, Effie Defrin, dirigiu a acusação recorrente ao movimento islamita Hamas de se esconder entre os civis, apesar de não ter referido se Israel tinha indicações da presença de combatentes palestinianos durante os ataques ao hospital.
O Hamas afirmou pelo seu lado que estes ataques demonstram "o desprezo" de Benjamin Netanyahu e do "governo terrorista" que lidera pelo Direito internacional.
Com este "novo massacre", as forças israelitas pretendem intimidar os jornalistas para que não relatem a "limpeza étnica" e a crise humanitária em que o enclave palestiniano está mergulhado, acrescentou o Hamas, em comunicado.
O caso ocorre numa fase do conflito em que Israel iniciou os seus planos de ocupar a Cidade de Gaza e expulsar centenas de milhares dos seus habitantes para o sul do território.
Ao mesmo tempo, Israel reafirmou o seu propósito de erradicar o Hamas e de recuperar os reféns que as milícias palestinianas conservam na sua posse, antes de desalojar o grupo islamita do poder no território, que ficaria entregue a uma administração civil de gestores árabes.
O conflito no enclave foi desencadeado pelos ataques liderados pelo Hamas em 07 de outubro de 2023 no sul de Israel, onde perto de 1.200 pessoas morreram e cerca de 250 foram feitas reféns.
Em retaliação, Israel lançou uma vasta operação militar no território, que já provocou mais de 62 mil mortos, na maioria civis, segundo as autoridades locais, a destruição de quase todas as infraestruturas do enclave e a deslocação de centenas de milhares de pessoas.
Leia Também: Macron define ataque israelita a hospital em Gaza como intolerável